Ilustração Sabrina Gevaerd
A relação de amor que a gente busca tem a ver com
quem somos desde o fim até o começo.
Queremos um parceiro/a continente. Aquele/a que dê
conta de nossa inteireza como outro adulto tão imenso quanto a gente.
O que vemos, no entanto? Que aquilo que nos “deformou”
quando éramos muito bebês até os 7 anos, será repetido como encanto nas
relações de casal até recuperarmos quem somos/seremos.
Se nos pegavam no colo quando chorávamos,
possivelmente expressaremos quem somos ao parceiro/a. Mas se toda vez que uma
dada emoção era bloqueada porque o pai e a mãe não a aguentava, o que vamos
procurar? Alguém que não nos aguente.
Se a criança ficou mais de 3 dias afastada
fisicamente da mãe quando era bebê, seus instintos impediram o movimento até
ela por uma questão de sobrevivência psíquica (já que a física se sentiu
tremendamente ameaçada). O que procuramos na relação de amor? Uma parceira/o
indisponível para não tocarmos naquele trauma primeiro.
Se o pai era o único saudável emocionalmente, mas
distante, o que buscamos? Amores impossíveis ou platônicos. Não se namora o
pai, mas continuamos buscando ele em cada homem.
Até nos permitirmos ser aquilo que somos, buscaremos
quem nos mantem onde estamos.
Não adiante mandar carta para os pais dizendo tudo o
que erraram. Desabafo é jogar lixo na porta dos outros, sem fazer nossas
feridas virarem ouro. Então adianta perdoá-los? Por eles nos darem a
vida, fazer o melhor que podiam e nos criar como humanos e não como
geleia?
O que ajuda é terapia, porque um bom terapeuta sabe
usar a sua ferida para a nossa ferida dizer a que veio. Destas fendas
resgatamos todas as partes soterradas, com um brilho diferente.
Se não fossem estes rasgos na alma seríamos
normóticos, afinal a Totalidade circula do fruto doce para o fruto amargo para
o fruto doce...até o êxtase. Nesta árvore espiralada há outros pássaros querendo
namorar. Possivelmente capazes de dar conta do que agora podemos
suportar.
O mapa da nossa estrada circular cheia de ouro, o
ouroboros, aparece na primeira infância, a cada beijo, a cada serviço à vida e
a cada espanto.
Como disse Jung, “Tudo vem de muito longe e tudo
aponta para o futuro, de coisa alguma podendo afirmar-se com segurança se é
somente o fim ou se já é princípio.”
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