O Mito de Aquiles em
Senna
Mônica Clemente
(Manika)
Aquiles foi um famoso guerreiro da mitologia grega, sendo peça-chave na vitória da Guerra de Troia.
Segundo o mito, ele foi banhado por sua mãe, Tétis, no Rio Estige para se tornar invencível, com exceção dos calcanhares — a parte do corpo pela qual sua mãe o segurou durante o banho de imortalidade.
O famoso “calcanhar de Aquiles”, que recebeu a flechada envenenada que o matou, nos lembra que a crença na invencibilidade não deve cegar alguém a ponto de ignorar riscos e autoproteção.
Esse ensinamento ecoa o Hexagrama 36 do I Ching: em tempos de perigo extremo, não há vergonha ou culpa em se esconder.
Na série sobre Ayrton Senna, o piloto é retratado como invencível e impetuoso, lembrando Aquiles.
O seu “calcanhar” era o hábito de se arriscar em nome da vitória e da busca por estados transcendentais, algo comum a artistas e atletas altamente disciplinados.
No entanto, sua predisposição ao risco foi apresentada como uma expressão de amor ao esporte e um desejo de inspirar o povo brasileiro.
Esse “calcanhar de Aquiles” ficou exposto na fatídica pista de Ímola, que já havia enviado vários sinais de perigo, sem que fossem suficientes para evitar a tragédia.
Pessoas com scripts de vida semelhantes ao de Aquiles — e aqui não afirmo que Senna seguia esse padrão, mas vi na série essa conexão — enfrentam escolhas cruciais.
Tétis pôde escolher entre uma vida longa e feliz para o filho ou torná-lo uma lenda. Ela optou pelo heroísmo do filho, e como dizia Hellinger: os heróis morrem cedo.
Aquiles não precisava morrer para ser uma lenda. Já era vitorioso e prestigiado. Sua morte precoce não foi destino, mas resultado da falta de escolhas para mudar seu script: ele poderia ter protegido seus calcanhares.
Senna tentou proteger a si mesmo e aos outros pilotos pedindo o cancelamento da corrida em Ímola. Contudo, assim como Tétis não deu escolha ao filho, os responsáveis pela prova ignoraram seu pedido.
A lição é clara: o destino não oferece
escolhas, mas scripts de vida, sim.
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Sobre a FIA (Federação Internacional Automobilística), podemos associá-la a muitos mitos e arquétipos, mas seguindo a lógica do texto, ela me parece as FIAndeiras.
As Moiras na mitologia grega controlam o
destino, fiando, medindo e cortando o fio da vida, o que se alinha com o poder
regulador e controlador que a FIA exerce sobre o automobilismo. Ao menos na
temática da série Senna.
Como as Moiras refletem a FIA:
1. Cloto (a que fia o fio da vida): Representa o papel da FIA em criar e manter as regras, literalmente “tecendo” o tecido das competições automobilísticas.
2. Láquesis (a que mede o fio): Alude à função de avaliar e regulamentar o que é permitido, estabelecendo limites precisos para tecnologias, performances e condutas nas corridas.
3. Átropos (a que corta o fio): Simboliza o poder final da FIA de decidir destinos — desqualificar equipes, aplicar punições ou até banir tecnologias inovadoras consideradas ilegais. “Moira” que mais atuou sobre Senna.
As fiandeiras trabalham nos bastidores, com um poder quase invisível, mas imenso, que define a trajetória dos eventos. Assim como a FIA, as Moiras não participam diretamente das corridas, mas moldam o curso de tudo com suas decisões.
Essa comparação amplia o simbolismo do “poder estruturante” e traz à tona a dimensão de controle quase “destinal” que a FIA exerce.
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Ficha Técnica:
A minissérie “Senna” é uma produção
brasileira da Netflix que retrata a vida e carreira do lendário piloto de
Fórmula 1, Ayrton Senna. Com estreia em 29 de novembro de 2024, a série é
composta por seis episódios e está disponível em mais de 190 países.
• Título: Senna
• Ano de Produção: 2024
• Gênero: Biografia, Drama
• Formato: Minissérie com 6 Episódios
• Direção Geral: Vicente Amorim
• Direção: Julia Rezende
Mônica Clemente (Manika)
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