31 de jan. de 2017

53) Coragem para Assumir as Decisões e o demônio da Hesitação


Coragem para Assumir as Decisões
E a Hesitação, o super demônio que temos que temer e fugir


      
            As decisões, para muitas pessoas e em alguns casos, são muito difíceis. Às vezes, parecem mesmo demônios que falam em nossos ouvidos tudo o que se vai perder, toda a carga que se vai ter em qualquer um dos lados da escolha.

O que muitos não sabem é que isto faz parte da "fisiologia" das decisões, mas ficar preso nela, não! No mito de Psique, contado por Apuleio em seu “Asno de Ouro” (século II d.C.), há várias  passagens que servem de guias para as nossas jornadas. Uma delas fala sobre as decisões.

Decisões são, muitas vezes, difíceis de serem tomadas e assumidas, porque implicam algo oculto e ambíguo que não estamos podendo encarar.  

Marie-Louise Von Franz, em sua preciosa e profunda interpretação do Asno de Ouro, nos ajuda a entender como se dá estes processos antes das decisões:

Psique em suas tarefas para não perder Eros, e olha que a gente faz de tudo para não perder esta nossa parte que nos conecta (Eros) com a vida, paga com uma moeda o mal-humorado barqueiro Caronte para atravessar o rio subterrâneo até o mundo de Hades, onde vai pegar com a Perséfone a caixinha da beleza.

         Caronte não tem porque ser simpático:  ele é aquela parte do psiquismo que gera símbolos de transformação. Sem estes símbolos não temos possibilidades de saltar quanticamente. Quer dizer, um elétron sair da órbita antiga e girar em outra. Jung chama isso de função transcendente, lembrando que  “para aqueles que possuem o símbolo, a travessia é fácil” (Von Franz, 2014:173).  Mas vai encarar o Caronte?!   

         A moeda que Psique paga para a travessia é a libido empregada nesta jornada de morte e renascimento: transformação.

         A neurose, neste sentido, é quando seguramos a moeda por muito tempo porque não confiamos no destino, aniquilando Eros. O filme “A Chegada” tem muito a nos falar sobre isso com a seguinte pergunta:  se você soubesse o que ia acontecer, ainda assim você faria o mesmo?

Parece que Pisque respondeu sim a esta pergunta, uma vez que não está disposta a perder seu Eros - tesão pela vida. Porém em seu caminho ela se depara com várias tentações e uma delas é Ocno, que fabrica cordas e com elas faz torções de opostos.

A Noite e o Dia estão lá trançadas, o positivo e o negativo, coisas admiráveis e as motivações sombrias. Suas torções imobilizam ações porque aquele que decide algo sempre arca com o outro lado do que decidiu. 


Enquanto não sabemos disso, ficamos paralisados diante da escolha do melhor caminho. Então Ocno é “a etapa que precede toda decisão” (Von Franz, 2014: 175). É a queda do élan vital na armadilha do “Devo ou não devo agir?”, “Faço isso ou aquilo?”.


Ora, se toda escolha tem a sua contrapartida sombria e outra luminosa, e quem vai decidir decide “porque eu sou eu, e é assim que eu vou agir” e não porque esta é a ordem ou isto é o que eu devo fazer ou o que fulano/a faria, então 


“que vá para o diabo se isto parece ambíguo. Vou agir de acordo como estou sentindo e estarei pronto e disposto a pagar pelas consequências, pois qualquer coisa que eu fizer será mesmo metade errada.” (Von Franz, 2014:177)


Se a função sentimento – aquela que está conectada com o que se é e não com o que esperam que sejamos -  não está segura, e se a capacidade de responder às consequências - ser responsável – ainda busca culpados para se manter inocente, a nossa Psique fica presa nas cordas do super demônio da hesitação.


Vejam que esta etapa do mito está entre Psique e Eros, e o amor exige a coragem de se desfazer de julgamentos para dizer sim para tudo o que virá após uma decisão, até o sofrimento.


No cenário analítico, nas consultas de astrologia, no Tarot e em ouros acessos dos símbolos inconscientes para as nossas travessias, algumas pessoas buscam a decisão que não querem bancar. Se o analista, astrólogo, tarólogo cai na tentação de ajudar, não só não ajuda a pessoa como também não a instrui a reconhecer a ambiguidade inerente a toda decisão deixando-a refém da armadilha daquele que devemos fugir e temer.


Logo em seguida Psique vai lidar com as fiandeiras, aquelas vozes que julgam tudo aquilo que não têm coragem de experimentar.


Mas voltando a esta dimensão do psiquismo que decide, ela não é um aval para fazer "porcarias" porque tudo tem dois lados, mas a energia necessária e a fisiologia que precede todas as decisões. 


1 de jan. de 2017

52) Amores Reais

   

Peço licença para contar uma história Real, 
com todo respeito, para que nosso passo tenha mais 
consciência não do erro, mas de como estamos irremediavelmente juntos.



   Príncipe Edward, futuro rei da Inglaterra, abdicou do seu reino em 1936 por amar uma mulher que não foi aceita pela corte, nem pelos líderes políticos e nem pelo coração do povo que amava. Haviam leis, regras e séculos de tradição que eram desafiados por este encontro. Como honrariam o passado para que o novo não fosse execrado?

   Naquela época era possível? Acho que não.

   Além disso, era véspera da segunda Guerra Mundial e Bessie Wallis Warfields não era inglesa, estava casada pela segunda vez quando começou seu romance com o herdeiro do trono inglês, e teria que fazer mais um divórcio, caso quisesse ficar com ele.

   Moralmente, o conservadorismo político daquela época, bem parecido com o do futuro, e o escândalo de uma mulher ter tantos romances antes, durante e depois de dois casamentos se aliaram a uma lei bem clara que durou até 2002: A Igreja Anglicana não permitia casamento de pessoas divorciadas com ex-cônjuges vivos.

   Dito de outra maneira, o Rei Edward VIII só poderia se casar com ela se os seus dois outros ex-maridos estivessem mortos. Mantenha este dado mortal na memória.

   Diante de todos estes obstáculos políticos, sociais e morais, Edward abdicou do trono e como satisfação ao seu povo disse em transmissão nacional:

   “Eu achei impossível carregar o pesado fardo de responsabilidade e executar minha funções como rei como eu gostaria de fazer, sem a ajuda e apoio da mulher que amo.”

   Os amores Reais (não) são contos de fadas. São se entendemos os contos como arcabouço de memórias ancestrais e não são, quando sabemos da dor implicada.

   O trono foi entregue ao seu irmão mais novo, Alberto, que recebeu o nome de Rei Jorge VI. Aquele mesmo que inspirou o filme “O discurso do Rei”.

   Edward e Wallis receberam o título de Duque e Duquesa de Windsor, mas ela jamais seria chamada de “Sua Alteza Real”, assim como nunca foi aceita pela família real.

   Bert Hellinger observou nas Constelações Familiares que o amor flui na alma da família quando três ordens ocultas são observadas:

Pertencimento

Hierarquia

Dar e Receber

   Estas ordens estão implicadas umas nas outras. Se uma ou mais não são seguidas, as futuras gerações tentarão, inconscientemente, compensá-las, repetindo sem saber o mesmo destino daquele que foi excluído, ou do que foi desrespeitado ou “pagando dívidas” que não são suas.

   Podemos ver e sentir estas leis operando em nossas vidas. E suas compensações também:

   O Rei Jorge VI, que recebeu o trono porque seu irmão não quis abrir mão do amor da vida dele, teve duas filhas. Uma delas a Isabel II ou a Elizabeth II que virou a herdeira presuntiva ao trono e teve quatro filhos.

   O mais velho chamado Charles, Príncipe de Gales e herdeiro aparente da Coroa. Ele precisava casar com uma moça com passado impecável, de preferência uma protestante ainda virgem. Mas ele amava e ainda ama Camilia Shand, na época casada e com filhos.

   Dizem que os dois escolheram a Princesa Diana para ele casar.

   Como todos ficaram sabendo, a amada pelo mundo inteiro Princesa Diana e o impopular Príncipe Charles se separam. O divórcio tornou o herdeiro do trono Inglês mais impopular ainda, como seu Tio avô Edward se tornou quando abdicou do reinado “por aquela mulherzinha”, e a Princesa Diana mais amada ainda.

   O que fica oculto é que Wallis a esposa proscrita do Duque Edward era muito carismática a sua maneira, como foi Diana em seu turno e da sua maneira e como Camila, a atual esposa de Charles nunca foi, pesando sobre ela o terrível escândalo de separar o casal real, como Wallis “derrubou” o rei.

   Duas mulheres na terceira geração, depois da abdicação e exclusão social dos amantes, carregam a luz e o fardo da mulher excluída. E um sobrinho-neto, carregando a “mesma” desaprovação que fez o seu tio avô perder o reinado, e “só por isso” ele herdará o trono.

   O príncipe Charles, graças a esta separação dolorosa e cheia de escândalo, pôde enfim assumir seu amor por Camila, mas eles não podiam casar porque a Princesa Diana, estava viva.

   Depois da morte de Edward e Wallis, seus bens são leiloados. O Empresário Mohamad Al-Fayed compra grande parte das propriedades que foram dos amantes.

   Ele é pai de Dodi Al-Fayed o último namorado de Diana. Em 1997 em um acidente terrível os dois morrem. O mundo inteiro sofre profundamente.

   Charles, agora viúvo da ex-cônjuge, poderia, pela Igreja Anglicana, casar com Camila. (Eles se casam em 2005. O ex-marido dela está vivo e só em 2002 a Igreja muda esta regra.)

  Este é o itinerário dos amores reais. Eles fluem com as ordens ocultas do amor, mas seguem seu curso também quando incluem de geração a geração quem não pôde pertencer.

   Que a gente em 2017 consiga incluir mais, agradecer mais e trocar mais!

PS: agora em 2018, o príncipe Harry, segundo filho do príncipe Charles, bisneto do segundo filho real que assumiu o trono quando o tio abidcou por amar uma mulher divorciada, se casou com uma ativista feminista, atriz e divorciada Meghan Markle.




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