Era uma vez um porquinho medroso que treinava esgrima com um
espadachim.
O mestre dizia: se você tem dentes, mastigue. Se tem unhas, afie e
se tem espinhos, agradeça. Na hora da luta, use a inteligência e se for atacado
mortalmente morda, arranhe e fure.
O porquinho preferia morrer a machucar alguém, mesmo que fosse só
para se defender. Até que um dia ele viu a vizinha fincar as garras de sua
raiva dentro de si mesma, ao invés de colocar um limite na relação abusiva.
Apavorado, ele voltou para caverna e a voz do mestre o perturbou:
“você já sabia: medo de morrer não se compara ao medo de machucar
alguém.”
O bichinho tomou coragem, invadiu a casa e lançou seus espinhos na
clavícula da vítima! Ela gritou e maldisse: “Como sou azarada! Meu marido me
maltrata e o porco-espinho me ataca ao invés de furar ele! Eu nasci para
sofrer!”
Ela pegou uma vassoura e foi atrás do espinhudo que corria na
direção do agressor.
-
Você não estava com bursite, mulher?
-
Estou!
-
Então, como segura esta vassoura como se fosse uma espada?
A dor no ombro tinha sumido mesmo e um tremor arrepiou os seus
cabelos! Se ela não atacasse o marido, mataria o bicho ou voltaria a ficar com
o braço paralisado.
Durante a madrugada agradecia a falta de movimentos. No dia
seguinte, endireitou a coluna, pegou a sua bolsa e foi parar num terapeuta,
que, entendendo a radicalidade da sua questão, lhe explicou os serviços da
delegacia da mulher dizendo: “quem não quer brigar busca a ajuda certa, seja
terapia, advogado e até uma delegacia. Os profissionais não vão querer brigar
no seu lugar e sim chegar numa solução.” Ela retrucou: “mas eu não posso fazer
isso!” E o terapeuta acrescentou: “É um ato de amor não deixar quem a gente ama
nos machucar. É um alívio para esta pessoa também.”
Depois de um tempo, confiando na razão e guiança dos seus
sentimentos, o maior ato de fé que há, iniciou o processo de separação do
companheiro. Não por falta de amor, mas por saber que ali não tinha mais
solução.
Hoje ela faz aula de esgrima com o professor do porco-espinho. A
sua 2a lição foi deixar as unhas crescerem para fora. A primeira foi aprender o
nome e significado do seu novo mestre: Fé.
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Quem
me ensinou sobre esta Fé que confia nos próprios sentimentos e intuição foi o meu
psicanalista Eugenio Davidovich
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