Muita gente se pergunta “qual é a minha
missão? ” “O que eu vim fazer neste mundo? ” “Qual ofício poderá expressar
melhor os meus talentos?
Mas missão, talento, ofício e vocação
são a mesma coisa? E como se revelam na Constelação Familiar?
Etimologicamente, talento significa inclinação,
se vier da palavra latina “talentum”, e quantia de dinheiro se vier do grego
“Talenton” [i]
. Na Parábola de Jesus sobre talentos, contada por Mateus 25:14 – 30, a mensagem é a de que devemos servir com os
dons confiados a nós de forma aplicada e diligente ou haverá “choro e ranger
dos dentes”. Neste sentido, talento passou a significar dom especial e cada um de
nós recebeu ao menos uma graça divina que precisa ser usada pelo bem comum[ii].
Já a palavra vocação, apesar de ser
usada como sinônimo de aptidão, se refere ao termo Latim “vocatio” que significa um
chamamento. E tem relação com o termo Latim “vox” que significa voz, som, grito e fala.[iii]
O professor alemão Gerhard Walper [iv]
da Hellinger Schule, com ampla experiência em Constelação Familiar e Constelação,
Sucesso, Empresas e Vocação, pontua que a palavra alemã para vocação é berufung. Este termo tem a ver com um
chamado específico que vem de Deus. Então a origem da voz interior é clara nesta
palavra, não é uma voz qualquer.
E a palavra missão? Qual a sua
origem? Nas igrejas primitivas, quando se acabava uma cerimônia religiosa, falava-se
“ite, missa est” que significava que a congregação estava dispensada. Com o tempo toda a cerimônia passou a ser referida com
a expressão missa, mas ainda assim, vem do verbo latino “mittere” que significa
enviar,
mandar e dispensar. E o ato de
enviar vem da palavra latina “missio”. Por isso, os projéteis se chamam míssil
e para onde encaminhamos nossos esforços se chama missão.[v]
Se o talento é recebido, a vocação chama e a missão envia.
E, finalmente, a palavra ofício vem
do Latim “officium” e significa serviço, dever, atividade e é
formada pelo prefixo “ops” (poder, meios para) e “facere” que significa
fazer
e realizar.[vi]
Aqui no Brasil todos estes termos têm
relação com a palavra trabalho, que vem do Latim “tripaluim”, ou um equipamento de tortura. que na França virou “travailler” que significa
sentir
dor e sofrer, até chegar ao sentido de trabalhar duro e “apenas”
trabalho.
Durante o fantástico seminário ministrado pelo professor Gerhard Walpe em setembro de 2017 em São Paulo vimos que estas
esferas de manifestação - aquilo que
recebemos como dom (talentos), o que grita em nosso coração (vocação), o nosso
serviço no mundo (ofício) e como fazemos (trabalho) -, apesar destes termos não terem sido
especificados no curso como fiz acima, estão
diretamente ligadas à emaranhamentos familiares.
Por exemplo, alguém que queira muito
salvar a mãe do destino dela, o que sabemos ser impossível, pode sentir vontade
de ser terapeuta. Se uma família teve uma doença incurável, um dos filhos ou
netos pode querer ser médico para curar o que não teve solução. Um advogado
está em busca da falta de justiça sofrida e um professor está garantindo os
acertos e formas de pensamentos que não foram legitimados.
Naquele filme, "A Partida", estes destinos que desembocam em uma vocação diferente do que imaginávamos é retratado com um jovem japonês e seu anseio por ser músico. Seu destino, porém, o empurra para um ofício que acabará por levá-lo a uma solução desejada há muito tempo por sua alma.
No filme "A Chegada", tão rico de sentidos, a capacidade de ver o futuro da personagem nos faz questionar como encaramos o nosso passado com aceitação ou negação. Nele também se revela como a nossa missão está emaranhada em algo que busca soluções para a nossa alma.
Naquele filme, "A Partida", estes destinos que desembocam em uma vocação diferente do que imaginávamos é retratado com um jovem japonês e seu anseio por ser músico. Seu destino, porém, o empurra para um ofício que acabará por levá-lo a uma solução desejada há muito tempo por sua alma.
No filme "A Chegada", tão rico de sentidos, a capacidade de ver o futuro da personagem nos faz questionar como encaramos o nosso passado com aceitação ou negação. Nele também se revela como a nossa missão está emaranhada em algo que busca soluções para a nossa alma.
Então toda vocação é um
emaranhamento? De certa maneira sim. E digo mais, é uma voz lá no fundo da alma
que grita para ser dado um passo à frente do emaranhamento, rumo ao nosso centro.
O terapeuta, por exemplo, tem que parar de querer salvar ou julgar a mãe; o médico precisa parar de querer vencer a morte; o professor precisa aceitar os limites para ir além; um ator não poderá dar voz a todos os excluídos aceitando, enfim, os seus destinos; um político não pode mudar um movimento que atua por trás do curso da história, por mais que seus eleitores, infantilizados, acreditem que sim, etc. etc.
O terapeuta, por exemplo, tem que parar de querer salvar ou julgar a mãe; o médico precisa parar de querer vencer a morte; o professor precisa aceitar os limites para ir além; um ator não poderá dar voz a todos os excluídos aceitando, enfim, os seus destinos; um político não pode mudar um movimento que atua por trás do curso da história, por mais que seus eleitores, infantilizados, acreditem que sim, etc. etc.
E quando não entendemos o recado da
vocação, o trabalho pode virar um verdadeiro tormento. Cada vez mais opressor e
impossível de se livrar até que se aprenda a impotência e a humildade diante do
que ele tem a nos ensinar.
Há outras relações ocultas entre nosso
serviço no mundo e os laços ocultos na família (e aprendi tudo isso com o Bert
e Sophie Hellinger e o Gerhard Walpe): Um irmão mais novo liderando uma empresa,
por exemplo, pode se sentir paralisado se um irmão mais velho for seu
assistente. Para garantir o lugar do irmão como o primeiro da família o irmão mais novo se sabota na empresa que ele mesmo criou. Uma
pessoa que nasceu com um talento enorme para as artes, pode ser vocacionada a
seguir outra carreira por conta dos emaranhamentos sistêmicos, como os citados
acima, e seu talento recebido deve servir à esta voz interior que a empurra para
outros caminhos.
Um esforço não reconhecido dentro da
empresa com merecidas promoções, pode refletir a própria arrogância em relação
à mãe que não a reconhece: “Mamãe você não me deu o que eu queria! E eu não reconheço a dor e o
medo que você passou em meu parto, nem te agradeço o meu corpo tecido no seu, muito
menos os tempos gastos com meus cuidados! Eu só vejo o que me doeu.”
E aquele funcionário ou cliente
desrespeitoso pode estar excluindo o pai do coração, se colocando ao lado da
mãe nas brigas de casal que eles tiveram.
E tem também o quanto investimos em
um empreendimento, seja em uma empresa ou na busca de uma ajuda. Lembram da parábola
contata por Mateus? Se queremos dar menos do que é pedido, podemos estar falando
que não receberemos tudo, porque tampouco daremos tudo de nós. Pode ser que estamos
fechados, principalmente para a vida que veio dos pais, o maior dom recebido
numa existência. Será que isso não gera dor e ranger dos dentes?
Em um grupo de Constelação Familiar estas descobertas se
multiplicam exponencialmente atingindo a todos. Quando o tema é vocação,
empresas e trabalho chegamos ao serviço dedicado à vida que é a fonte de toda a Constelação
Familiar. Por isso, não importa se você é constelado diretamente ou não, em
algum momento uma dinâmica vai te atingir em cheio, mesmo que você esteja
sentado, ansioso para ser constelado "sem ser escolhido".
Todos nós já escolhemos, quando decidimos ir a um encontro destes, encontrar uma saída para a fonte de vida continuar a fluir. Assim uma porta aberta em um de nós é um portal aberto para e por toda a gente.
Todos nós já escolhemos, quando decidimos ir a um encontro destes, encontrar uma saída para a fonte de vida continuar a fluir. Assim uma porta aberta em um de nós é um portal aberto para e por toda a gente.