25 de mai. de 2013

23) Ananda Purnima ou Quando os Deuses Fumam Cachimbo


    Ananda Purnima ou Lua Cheia Bem-aventurada
    Ananda: bem-aventurança, Purnima: Lua Cheia


Ilustração de Dick Stenberg
para o Livro "Estar Só" de  Leif Kristiansson


Eu vou partir de um pressuposto para o que eu vou dizer sem a pretensão de prová-lo cientificamente, mas em minha existência mesmo, quando resolvo deixar de ser um avestruz e me deixo ser possuída: Em todo ser vivo, desde o unicelular e seus movimentos em busca de alimento e fuga, está latente um mesmo movimento, o de se completar a si mesmo na relação com o mundo. Ser possuído por si  num apropriar-se das infinitudes mínimas.

Quando a completude é conquistada, o divino se revela desde sempre, como na lenda dos dois pássaros. O primeiro comia os frutos de uma bela árvore embriagado com sua doçura. Num dado momento beliscou um deles cheio de fel. Ele parou, olhou para cima e viu um pássaro mergulhado em seu esplendor. Por algum tempo esqueceu  sua má sorte e o contemplou..., mas havia outros frutos arredondados convidando-o para a sua rotina. Seus festejos e gracejos, no entanto, não o pouparam de timbres amargurados. Novamente, ele lembrou do amigo esplendoroso e se apaziguou. Durante anos foi assim, uma roda da fortuna desenfreada, até que um dia, depois de desfrutar da maior delícia seguida de muita dor, descobriu ser ele mesmo, o tempo todo, aquele pássaro embriagado de amor. Então, em todo ser vivo há latente a divindade, não como uma fagulha, mas como o próprio vulcão.





Fundados nesta hipótese, entre os yogues tântricos se diz que nos vegetais e animais este caminhar para a expansão na “pedricidade” do mundo não é uma opção, mas algo que os leva irreversivelmente a adquirir um corpo humano e, nisto, está implícito possuir um psiquismo capaz de sustentar o percurso para a totalidade. Esta divindade latente vai explodindo formas de ser até poder possuir o que antes a possuía. Mas estar/ser um corpo/psiquismo humano cria um novo desafio, escolher ser humano. Por isso, no humano esta potencialidade pode ser praticada conscientemente a partir de uma escolha. 


E isto tudo é muito chato se não se faz da própria vida uma obra de arte.  Ao se propor fazer de si mesmo uma poética da potencialidade divina latente - que está lá na base da coluna “aspirante” ao topo da cabeça – o aspirante se estabelece como humano e pode ser considerado tântrico, sem com isso vinculá-lo a esta escola.  O tantra, neste caso, é compreendido como qualquer caminho sustentado por uma ciência espiritual.

Ciência espiritual, eu definiria, como um sistema complexo de saberes sobre a espiritualidade - dimensão bem terrena e corpórea, diga-se de passagem, que não tem nada a ver com cisões criatura na terra X criador no céu. 


A espiritualidade deixa de ser um campo de saber das religiões e passa a ser uma dimensão da multidimensionalidade humana capaz de ser desenvolvida como qualquer outra potencialidade. E deixa de ser um caminho dos graves e empedernidos para virar(mos) a melodia da Krishna´s Flute... ou baforadas criativas, como se os deuses fumassem cachimbos!


Se pensarmos por aí, somos humanos/divinos desde o unicelular... 



Ritual do Cachimbo Sagrado ligando o Céu e a Terra


Há centenas de excelentes escolas sobre espiritualidade espalhadas pelo mundo, porque muitos mestres percorreram este caminho e nos presentearam com sua sabedoria.

Hoje, na Lua Cheia da bem-aventurança de 2013, comemora-se o nascimento de muitos destes sábios que esfumaçaram a si mesmos em nossos corações e ajudaram milhares de pessoas a escolher e fazer suas práticas espirituais, não importa quais. Nelas não se faz pedidos, nelas não se substitui o pai terreno incompreendido e em seu lugar coloca o mestre espiritual ou deus no céu, nem se substitui a mãe difícil pela santificada impossibilidade, ou a santa sofredora. Nem se busca alucinógenos para “fazer-se arte” que somos. 


O Pai nosso está na terra e o coração da Mãe bate com o do/a filho/a durante 9 meses de ventre depois que trouxe o pai para dentro dos dois por meio do gozo. Nem por isso os arquétipos celestiais perdem sua potência, porque abre-se espaço para que a espiritualidade aconteça de fato na carne e não como promotora de exclusões, guerras e pedidos descabidos. A completude pode seguir seu itinerário e com ela a felicidade se apresenta como algo disponível desde sempre..., depois que se para de correr atrás dela e se quer falar com Deus com a alma e o corpo nus...



Gratidão e Feliz aniversário a todos os/as mestres/as, em especial ao meu P.R.Sarkar!


Esta foto pertence ao rapaz de chapéu lá atrás dos monges e do P.R.Sarkar ou Shrii Shrii Ananda Murtii.




15 de mai. de 2013

22) Seminários em Bad Reichenhall e o Pisar com Cuidado




Final de abril e durante as duas primeiras semanas de maio de 2013, diversas pessoas de diferentes países foram ao encontro condensado promovido pela Hellinger Schule com Bert e Sophie Hellinger em Bad Reichenhall, uma cidade paradisíaca ao sul da Alemanha.


Bad Reichenhall, Baviera



Além de ter águas que curam, diversos produtos feitos de sal da montanha, e o chocolate do Mozart (o compositor era de Salzburg, mas preferia tomar seu chá no café da Reber Chocolate), havia as roscas...





Não se passaram nem 4 meses do seminário “Mãe” em Munique (Também distrito da Baviera), e estávamos lá de novo nos aprofundando em outras dimensões do Campo que se abre nas Constelações Familiares.




Uma das grandes incentivadoras e promotoras dos contatos recentes de Bert e Sophie com o Brasil, a comunicadora e consteladora Simone Arrojo (Gratidão!), disse que percebeu um grande aprofundamento das dimensões nas constelações desde o último ano: Entrevista com Simone Arrojo

Outra diferença é a Nova Constelação Familiar, chamada “Constelação Familiar Medial”. Na verdade, Hellinger continua subindo a montanha em suas pesquisas fenomenológicas diante das relações humanas e, agora com Sophie, desvendou outras dimensões e atitudes diante do Campo Espiritual que se apresenta.


 Eles definem o Medial a partir da compreensão de que "o eternamento vivo que segue em frente é um movimento divino dentro do ser humano. Ao nos deixarmos sermos levados, novas portas e novos planos que se abrem nos deixaram vislumbrar o que significa "ser humano" em toda sua dimensão", portanto, para eles, MEDIAL  é o "deixar ser guiado a partir do centro para o "Novo e Desconhecido"" (Hellinger, Bert e Hellinger Sophie, 2013)

Nesta nova postura, pelo que eu entendi, há algumas  propostas inovadoras já latentes desde o princípio. Destaco duas: 


1) o “Nós” -  o que contra-efetua o ego, o eu, é o Nós, o estar junto. Aquela parte que muitas vezes vai contra os movimentos de amor, da alma, desembocando em doenças, caminhos tortuosos, fracassos sucessivos, mas que serve à primeira consciência que nos mantêm pertencendo ao grupo se desvanece diante do “todos juntos”. 



Não há mais o bem e o mal, o inocente e o pecador. Estamos juntos sendo movidos por algo que nos ultrapassa, nos escapa e ao final nos une. 



Como se relacionar com este movimento em uníssono, mas a serviço da vida e não contra ela?  Acredito ser esta a questão norteadora do trabalho das constelações. 



A resposta é: juntos, sem excluir ninguém. Mas isso já estava em todo o trabalho desde sempre, o diferencial é que este Campo Uníssono tem se apresentado mais pungentemente por meio da Constelação Medial.






2) E esta é a outra “inovação”, o Medial ou mediúnico - esta competência humana de ser um canal, uma mediação entre dois pontos, não pertence apenas às escolas espíritas, religiões africanas, ou ao xamanismo. Hellinger, durante o Training Camp nos conduziu ao centro, ao escuro, onde não sabemos e não tememos nada. Lá permanecemos abertos e afastados até o Campo nos oferecer algo como, quem vai constelar, qual a palavra ou frase reveladora etc.

Algumas constelações foram assim: sentávamos ao lado dele, fechávamos os olhos e, de repente, nos era oferecida uma frase ou palavra. Esta “senha” revelada "medialmente" por Hellinger era repetida pelo constelando, atingindo uma fechadura, um ponto ... (de mutação?). Um novo mundo se abria. Podia ser a inclusão de ancestrais, o tomar o pai, o fim de uma situação, o não para a morte “encomendada”, o sim para a vida, o “Eu fico vivo/a”, ou o “eu vou em direção à luz para além da culpa, onde estamos todos juntos”...

Não só na fechadura do constelando cabia a chave recebida, mas em quase todos que assistiam. Por isso, todos estão sendo constelados quando se abre o Campo. Como eu mesma recebi uma destas aberturas em forma de palavra e gesto em minha constelação, fiquei surpresa com a precisão do mestre.





              Não recebemos apenas frases ou palavras “lasers”, constelações transdimensionais, vivências surpreendentes, sorrisos transbordantes e amigos para sempre, fomos presenteados generosamente durante 13 dias de curso, entre o Seminário “Pai”, “Training Camp”, Seminário só para “Homens” e “Curso de Energia I e II”.





Seguirei abrindo estes presentes até o último dia da minha vida e espero poder compartilhar com muita gente, como forma de gratidão. Um deles tem sido meu companheiro desde a minha volta: “Pisar com cuidado e humildade em cima dos mortos”

    Em cima de quantos mortos andamos? Quantos morreram para que outros vivessem? Digo, quantos morreram em obras gigantescas usufruídas por milhares, em guerras, em irmãos abortados que não cabiam no orçamento familiar ou de uma nação, em partos trágicos, em guerreiros banidos e mulheres “adulteradas”? Quantos já se foram e deixaram sua obra para a nossa vida ficar melhor? E quantos cometeram atrocidades para nos mostrar que vítima e algoz são movidos pela mesma força? (Testemunhamos nas constelações que não adianta a indignação contra os vilões, senão o estarmos juntos, o nós numa dimensão uníssona para aplacar a dor gerada entre o algoz e a vítima).

           Neste sentido, faço uma digressão aqui sobre Judas. Sophie nos pergunta, no dia da páscoa Russa, 5/5/2013: Que grandeza tem a alma de Judas para fazer parte da história de Jesus, de ter sido escolhido para ser o traidor de um dos homens mais amados do planeta? A história de Jesus seria a mesma sem ele? Neste sentido, o que significa ressurreição?


        Pisar com respeito sobre os mortos é também reverenciar o Mistério que levou tantos a causar dor, porque eles também são movidos por aquilo que aciona os “homens e mulheres de bem”. Não se está justificando a ação contra a vida, mas não se pode excluir nem isso se se quer a solução para a dor dilacerante.


         Caminhar com os pés inteiros pela vida, mas com respeito, tem sido meu treinamento desde então, porque ela, tenho visto, pisa delicadamente sobre os que se foram e esperam uma nova dança...



Como disse a consteladora Claudia Brito - o retorno dos bravos e gentis aventureiros - último dia em Bad Reichenhall com amigos inesquecíveis.



583) Quem Nunca Matou um Dragão Por Dia?

  Quem Nunca Matou um Dragão por Dia? Mônica Clemente (Manika)   @manika_constelandocomafonte Por que tanta devoção a um Santo rebaixado...