A Jornada Mitológica do Arquétipo do Pai
Mônica Clemente (Manika)
Há vários estágios nos quais os
homens experimentam, consciente ou inconscientemente o arquétipo do pai em suas
vidas. E todos estes estágios, sejam conscientes ou inconscientes, afetam as
suas mulheres e filhos de diversas maneiras.
A Jornada Psíquica pelos estágios
do Pai, arquetipicamente falando, até o seu papai que criou você, podem ser
vistas em alguns mitos gregos. São eles, de acordo com o analista Durval Luiz
de Faria (2006): os mitos de URANO, CRONOS, ZEUS, CÉFISO, DÉDALO.
Baseada no texto do analista,
seguem seus desdobramentos nas dinâmicas familiares que vemos nas Constelações
Familiares:
URANO, O PAI
INCONSCIENTE
Segundo Durval (2006), o pai, na
mitologia grega, começa com as sementes de Urano fertilizando Geia, sem
perceber a sua participação na criação dos seus filhos. O gozo que não se
responsabiliza pelo gozo (Cavalcanti, 1995 in Durval, 2006), acaba cansando
aquela que cuida dos filhos sozinha.
Geia, então, se une ao seu filho
Cronos que castra a fertilização desenfreada e inconsciente do pai matriarcal:
o pai que não desenvolveu a percepção da sua paternidade, nem da sua
importância para geração e cuidado da vida (Durval, 2006).
Na vida real, um homem
identificado com o mito de Urano, se torna pai biológico, sem que desperte
nele a responsabilidade pelos cuidados e afetos da mulher e do filho. Assim
como não sente nenhum remorso, até que a “raiva” da família abandonada o
“castre” em eventos difíceis nas futuras gerações.
Ou, até que a mãe e os filhos
abandonados, que vieram antes da nova família, sejam vistos, reverenciados e
incluídos por ela, como vemos nas Constelações Familiares.
Se, ao ler isso alguém sentiu
raiva, é isso mesmo. Um pai Urano não assume responsabilidades, nem na solução
dos seus atos, porque está em estágio muito inconsciente, deixando toda a
responsabilidade para a mãe.
Esta atitude pode estar no
inconsciente dos filhos em relação ao pai ou na mulher que não possibilita a
entrada do pai na vida dos filhos, mesmo que o pai esteja disponível nos dois
casos.
CRONOS, A
ESFERA DO PAI
Cronos, filho de Urano e Geia,
inaugura a consciência do homem para a esfera do pai, ao separar o mundo
masculino do mundo feminino quando castra, simbolicamente falando, seu pai
invisível e ausente. Ao dar o limite, o contorno do pai e do seu mundo (esfera),
aparecem sem ainda se conectarem intimamente com seus filhos, a não ser pela
ordem, pelo tempo, pelas limitações, boas ou não.
Nesta fase, o homem toma
consciência da sua importância na criação da vida e da criação do mundo da
paternidade (Durval, 2006), que não é a mesma coisa que parentalidade: a
capacidade de cuidar de uma criança.
No entanto, ele engole seus
filhos, sem deixar acesso para o mundo feminino, que representa a antiga fase,
na qual a natureza, os sentimentos e as noções sofisticadas sobre os vínculos
em ser humano e mundo coexistem. As regras, o tempo, a razão desprovida de
coração, a cultura, a moral acabam sobrepujando a percepção da importância do
mundo feminino. (Durval, 2006).
Aqui, portanto, a mulher não tem
valor, a não ser como matriz. E todos seus esforços e força não são
vistos. Para compensar este desequilíbrio, Zeus filho de Réia e Cronos, se
une à mãe, novamente, e toma o reinado do pai.
Como nas brigas por heranças, por
exemplo, principalmente quando as filhas são excluídas. Como nas mulheres, que
trabalham arduamente e não colhem os frutos do seu trabalho porque aprenderam
que não têm valor. Como nos homens enfadonhos que perderam seu Eros.
Sendo que muitos deles acham que trocar de mulher ou castrá-las vai resolver a
sua falta de brilho nos olhos.
Segundo Marie-Louise Von Franz
(2003), o alcoolismo pode começar nesta fase, tanto no homem como na mulher.
ZEUS, O PAI
PODEROSO
Zeus, filho de Crono e Reia, neto
de Urano e Géia, divide a herança afirmando seu poder sobre seus irmãos. Sua
jornada, parecida com a do avô, semeia muitos filhos. E, ao contrário dele,
percebe o amor que o une às suas mulheres e filhos.
Muitas vezes, ele também gesta
seus rebentos em seu próprio corpo, como aconteceu com Dionisio e Atena, porque
achou que as mães deles colocariam seu poder em risco. No entanto, ele assume
mais as suas responsabilidades como pai porque sabe, conscientemente, que o seu
gozo o engravida também. Neste sentido, como diz Durval (2006), um pai
neste estágio assume responsabilidades sobre o cuidado dos seus filhos, como
também sabe que é pai. De qualquer maneira, ele prefere o poder e conquistas,
confundindo a paternidade e as suas relações com isso.
Um pai estabelecido nesta
“consciência”, portanto, cumpre seus deveres materiais, embora seus filhos
convivam com um pai que trabalha muito e realmente não gosta da convivência
familiar.
DÉDALOS, O
PAI IMPERFEITO
Dédalos, um grande inventor, é um
pai inteligente que ajuda o seu filho Ícaro a fugir do labirinto, que ele mesmo
criou para prender o Minotauro. Para isso, lhe faz asas de cera e o alerta para
não voar para perto do Sol, ensinando, assim, sobre os perigos da arrogância
intelectual e espiritual.
Se por um lado este pai ama, cuida
e orienta bem seus filhos, quando lhe dá asas para ir além das suas neuroses,
mantendo uma relação amorosa e intima com eles, por outro não é um exemplo a
ser seguido, afinal, foi ele mesmo quem criou os problemas que agora os filhos
enfrentam (Durval, 2006).
De qualquer maneira, sua
imperfeição ensina algo muito valioso para os filhos: os pais não precisam ser
perfeitos para serem amados. A não ser que os filhos se tornem tão exigentes com
seus pais, a ponto de avoarem para bem perto do Sol, com asas de cera.
SEU PAI
Graças às imperfeições,
finalmente, um homem de carne e osso encontra uma mulher de carne e osso e os
dois podem se tornar pais. Pais de um filho que pode acessá-los, porque não
queimam como o Sol.
Na vida real, esse pai, mesmo
preso em alguma das esferas dos mitos, é o certo para os seus filhos. Não
porque ele acertou 100%, mas porque é o seu papai!
REFERÊNCIA
BIBLIOGRÁFICA
FARIA, Durval Luiz. Imagens no Pai na Mitologia. Psic. Rev. São Paulo, n. 15(1): 45-58, maio 2006. https://revistas.pucsp.br/psicorevista/article/download/18095/13451/0, acesso 12/08/2023
VON FRANZ, Marie-Louise. O Gato:
um conto de redenção do feminino. São Paulo: Paulus 2003.
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