26 de jun. de 2023

550) Sua relação é forte para aguentar possíveis contratempos?

 Arte do genial @yuvalrobYuval Robichek

Sua relação é forte para aguentar possíveis contratempos?

Mônica Clemente (Manika)

 

Há anos, perguntei ao psicanalista Eugenio Davidovich como reagir a uma traição? Ele me respondeu com outra pergunta:

 

“A sua relação é forte o suficiente para ultrapassar os contratempos?”

 

Eu fiquei calada pensando nos comportamentos que formam relações boas e resistentes. Com possessividade, controle, rixas e mentiras, certamente que não.

 

Pensei, também, na importância dos aspectos do Saturno de uma pessoa com o Sol, ou a Vênus, Lua e Ascendente de outra pessoa no mapa de relacionamentos. E nos aspectos de Saturno, que cria resistência por meio do esforço, no próprio mapa astral. 

 

Então, eu retruquei:

 

“Uma traição é um ataque à própria relação. Ou um sintoma dos problemas dela.”

 

Exatamente, disse ele, “uma traição coloca em xeque se a relação que construíram é forte o suficiente para aguentar um contratempo até causado por um de vocês. E até por um problema dentro da própria relação, a ponto de fazer vocês reavaliarem como estavam tratando dela.”

 

No meu caso, a relação era atacada demais para nos mantermos juntos, mesmo que o amor estivesse presente. E “não se deve aguentar tudo por conta do amor” (Yara Rodrigues de La Iglesia). O que nos leva a outros laços mais resistentes:

 

Uma relação pode acabar, mas o amor e os vínculos não. Como aquela pessoa que perdeu um dos pais muito cedo, por morte, abandono ou exclusão, e está vinculada ao genitor sem ter tido relação com ele.

 

Assim, uma traição não é forte o suficiente para destruir uma relação, nem seus vínculos, nem o amor. Principalmente, se quem traiu parar de mentir enquanto trata o parceiro muito melhor do que já o tratou, para compensar a dor causada.

 

E a pessoa ferida não se valha da superioridade que a dor lhe deu. A não ser que um dia machuque o parceiro também. Aí pede para ele lhe conceder a chance que um dia ela lhe deu. 

 

Uma traição, no entanto, é a gota d’água de uma relação que já não era boa para os parceiros.

 

Arte do genial @yuvalrob

Yuval Robichek

 

Mônica Clemente (Manika)

@manika_constelandocomafonte

 

#constelacaofamiliar #familienstellen #Traição #relacionamentos #saturno 

 

549) Constelação Familiar Presencial - Informações


 CONSTELAÇÃO FAMILIAR INDIVIDUAL PRESENCIAL

Com Mônica Clemente (Manika)
Atendimentos presenciais no Rio de Janeiro, Porto Alegre, Criciúma, São Paulo e Curitiba.

Informações pelo email manika@manila.com.br

É o atendimento da Constelação Familiar em um encontro pessoal, individual e presencial usando "âncoras". As âncoras, como mostra a foto a seguir, são objetos (bonecos ou papéis) que desenham as imagens da situação que se busca uma solução com a Constelação. 



Na imagem acima, temos a imagem de uma mulhres desligada da relação atual. Ela está presa, inconscientemente, no luto de algum ancestral.  A partir desta imagens,  que se revela numa Constelação Familiar individualbuscamos uma solução.

      

Informações:
manika@manika.com.br

      Na Constelação Familiar Individual a pessoa que busca a ajuda cria modelos visuais  da sua questão com as âncoras (papéis ou bonecos), até chegar à uma solução. Ela surge como um pequeno passo, com grandes transformações, a partir de uma nova imagem que substitui a imagem ou crença antiga. 

   O foco da Constelação Familiar, portanto, é a solução e não a análise exaustiva da problemática apresentada. Neste sentido, tanto o facilitador como o constelando usam poucas palavras, permitindo que a "mente que sabe" surja em imagens e revele as soluções. 

          Como se chega à solução?

    Evitamos a "mente que pensa que sabe" que gosta de explicações, muitas vezes repetidas por gerações e que impossibilitam ver um problema por novas perspectivas.

           Quantos temas podemos constelar num encontro?

        Um tema por encontro. Geralmente, a constelação da relação com o pai e a mãe é o tema essencial.

     Como a imagem geradora de solução atuará além do tema, e por algum tempo, não há necessidade de sobrepô-la com sucessivas constelações. 

        Se houver necessidade de constelar outros temas, marca-se novos encontros com espaços de no mínimo 6 meses, para que a primeira imagem possa atuar sem interferência de novas imagens. Na maioria das vezes, o efeito de um encontro abre soluções para muitas questões, mesmo que seja tratado um só tema.

             Temas para  constelar num atendimento pessoal presencial (escolha só um):

  • Relações com a mãe, ou com o pai, relações de casal (desde que o parceiro esteja junto), relação com os filhos, relação para os filhos se tiverem menos de 14 anos. Relação com animais de estimação.
  • Vocação, trabalho e negócios.
  • Sentimentos de raiva, ou estima baixa, ou tristeza, ou medo, ou stress etc.
  • Doenças e sintomas físicos leves, desde que já esteja em tratamento médico.
  • Obesidade, bulimia e anorexia, desde que esteja se tratando com profissionais da saúde para ter acompanhamento.
  • E qualquer outro tema que se queira tratar.

Se estiver tomando qualquer remédio tarja preta para questões mentais e físicas não é indicada fazer a constelação individual. 

         O atendimento é feito por mim Mônica Clemente (Manika), há 15 anos facilitando este atendimento e com formação na Alemanha, com Bert e Sophie Hellinger e seus professores, e no Brasil. 

    Ao clicar aqui ou no meu nome você será direcionado/a ao resumo da minha trajetória profissional.

        Contato e informações:  manika@manika.com.br





23 de jun. de 2023

548) Fenomenologia dos Contos de Fada - Seminário Online

  

Fenomenologia dos Contos de Fada
 Seminário Online no Programa de Extensão da UFRGS e UFCSPA
EDUCAÇÃO, SÁUDE E ESPIRITUALIDADE
Mônica Clemente

Dia 22/06/2023, às 18:30, ministrei o seminário de pesquisa

 

"FENOMENOLOGIA DOS CONTOS DE FADA:

Reconhecendo crenças e sentimentos através das histórias preferidas”
 

Um evento online, disponível no YouTube

EDUCAÇÃO, SAÚDE E ESPIRITUALIDADE 


Ele faz parte do Programa de Extensão “EDUCAÇÃO, SAÚDE E ESPIRITUALIDADE”, oferecido gratuitamente pela UFRGS e UFCSPA, com diversas oficinas e seminários maravilhosos e com acesso ilimitado no YouTube.

 

Resumidamente, apresentei o ponto de vista acadêmico sobre a abordagem fenomenológica dos contos de fada e mitos nos encontros de Constelações Mitológicas e o Histórias que Atuam que ministrei entre 2011 até 2019. 

 

Neles, fazíamos a Constelação Familiar do conto de fada e filme preferido dos participantes, em etapas específicas da sua vida, como demonstrou Eric Berne, e, assim, acessávamos o potencial de cura das histórias preferidas. Aquelas que acessam direto o nosso inconsciente por conta das 4 funções dos mitos e o poder dos seus símbolos e arquétipos.

 

Obrigada às queridas Professoras Coordenadoras do programa: 

·       Dinorá Fraga – UFRGS (Minha orientadora do Mestrado – 2002-2004)

·       Carmen Lucia Bezerra Machado – UFRGS

·       Márcia Rosa da Costa – UFCSPA 

E a todos participantes os encontros que geraram muito mais do que os dados da pesquisa e a todos que participaram do encontro online!

 

Mônica Clemente

 

Dra. Ciências da Sáude - Fiocruz

Mestre em Educação - UFRGS

Pós-Graduada em Constelação Familiar Original Hellinger - Hellinger Schule

15 de jun. de 2023

547) Qual é o "crime" que mantém alguém se punindo?

Como se Livrar do “crime” que faz alguém se punir eternamente?

Mônica Clemente (Manika) 

        
        Qual é o “crime” que mantém alguém se punindo? O mesmo que os heróis mitológicos cometem sem nem saber, se punindo e sendo punidos até enxergarem os seus erros.
 
        Um homem identificado com Édipo, sente um medo arcaico de matar o seu pai toda vez que faz uma aliança incestuosa com a sua mãe.
 
        Incestuoso é tudo o que faz um filho/a não se portar como filho/a na relação com os seus pais.
 
        Se esta fase do seu desenvolvimento e do seu lugar de força na relação com os pais não for apreendida, seu “crime” não será apenas a relação fora do lugar com a mãe, mas a sensação, inconsciente, de brigar até a morte com um rival, a fonte da sua própria vida, o seu pai.
 
        Esse é o substrato de algumas depressões persistentes; de ficar sem tesão, dinheiro e trabalho para levar a vida em frente; de trocar uma boa esposa por uma parceira que vai lhe causar danos etc.
 
        Electra, irmã de Orestes, correu o mesmo risco de se submeter à eterna punição pelo “crime” contra a sua mãe.
 
        E a punição eterna é sempre autoimposta por um/a filho/a que se mantém refém de uma mãe ou pai difíceis, que se projetarão em uma vida difícil, por conta da rivalidade, infantil, que sente contra eles.

        Em outro mito, ao invés do poder oferecido por Hera e a força de um guerreiro lendário, oferecida por Atena, Paris escolhe o amor de Helena, a mulher mais bonita da Terra, casada com o rei de Esparta, oferecida por Afrodite.
 
        Na vida real, um jovem desconhecedor das forças coletivas (as deusas), toma decisões ingênuas que comprometerão seu clã e até uma nação. E pode “matar” o pai, novamente, porque se acha melhor do que ele. 
 
        Uma moça identificada com Helena, “mata a sua mãe”, como Hera e Atena foram desconsideradas, para viver um amor que lhe causará danos. Seu crime não foi o amor, mas ignorar a força do feminino que mantém um reino vivo.
 
        Por isso, não adianta reclamar dos pais se você ainda não confrontou o seu “crime”, porque é ele que mantém os emaranhamentos.
 
        Em resumo, um bordado que despreza as suas linhas comete um crime contra si mesmo.
 
        Qual a solução? 
 
        Não deixar o seu desejo ficar onde não é chamado. 
 
        Ou como dizia o Bert Hellinger: familienstellen, que significa encontrar a posição familiar certa para sua força levar você em frente.
 

        Para ter informações dos atendimentos de Constelação Familiar presencial no RJ e Porto Alegre 

       E sobre os atendimentos online de Constelação Familiar, Astrofenomenologia e das Constelações Mitológicas, me escreve pelo manika@manika.com.br

Mônica Clemente (Manika)
@manika_constelandocomafonte
@constelacoes_mitológicas

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Constelações Mitológicas, Édipo, Electra, Helena e Paris,Familienstellen,Constelação Familiar, Incesto, Complexo de èdipo, Complexo de Electra

 


7 de jun. de 2023

546) Navegando em Filmes e Mitos para ser Inteiro

 


        Se você curte filmes e mitos como naves pelo inconsciente, talvez queira navegar com a gente no episódio SER POR INTEIRO, no Benzadeusa. E desta vez, eu e Maria Marta Stopa não usamos escafandros. Mergulhamo spor inteiro. O link está aqui:

SER POR INTEIRO - Com Maria Marta no BENZADEUSA, 56 minutos, 2023


5 de jun. de 2023

545) Constelação Familiar e a Força da Formulação do seu Tema

 

Constelação Familiar e a Força da Formulação do seu Tema

Mônica Clemente (Manika)

Vídeo no Youtube

 

Nós buscamos relações íntimas que reproduzam as experiências emocionais que tivemos na infância. Como nos sentíamos na maioria das vezes.

 

Isso não quer dizer que, quando uma pessoa vai fazer a sua constelação familiar, ela precise contar tudo que aconteceu na infância para tornar claro o seu tema. 

 

Por exemplo, uma pessoa diagnostica que seu o problema é sempre estar em relações com alguém indisponível, porque na infância… e conta toda uma história, repetidas vezes para si mesmo, do que lhe aconteceu. Estas histórias são importantes, mas não são eficazes para uma constelação familiar.

 

Ao invés disso, ela pode constelar o seu tema assim:

 

“Quero constelar a minha disponibilidade para me relacionar com uma pessoa disponível para forma uma relação de casal feliz e cheia de amor”.

 

Este tema é claro, não diagnostica a infância, nem os parceiros que já tivemos. E foca na força do desejo da pessoa que busca a ajuda. 

 

Durante a Constelação, as imagens e sentimentos revelados através das âncoras usadas, que podem ser pessoas ou objetos, revelarão as dinâmicas ocultas, de acordo com o contexto, que fazem o constelando ou a constelanda ficar repetindo aquelas experiências emocionais antigas que a impedem de formar relações insatisfatórias.

 

Na Constelação Familiar, este contexto é formado pelas relações familiares, atuais e ou ancestrais, nas ordens e desordens do amor e nas três consciências.

 

Como a Constelação foca na solução e não no problema, embora ele se revele, ela diagnóstica sistemicamente o assunto. E traz o passo necessário para uma nova versão de si mesmo num novo contexto.

 

Por isso, quando uma pessoa encontra seu tema, com objetividade, ela já começa a constelar, antes mesmo do atendimento, e continua constelando depois dele. Afinal, ela não mirou o problema, nem as explicações que tem se dado, nem os diagnósticos autoimpostos, mas a força do seu desejo.

 

Para ter informações dos meus atendimentos presenciais no Rio de Janeiro e Porto Alegre, dos meus atendimentos online, por favor, me escreve pelo e-mail:

 

manika@manika.com.br

 

Mônica Clemente (Manika)

@manika_constelandocomafonte

 

#familienstellen #constelacaofamiliar #portoalegre #atendimentoindividual

 

 

3 de jun. de 2023

544) Ser Por Inteiro - Episódio no @Benzadeusa


Ser Por Inteiro

Episódio no Podcast @Benzadeusa

 

Se você já se sentiu desencantado/a com a vida

 ou dilacerado/a pelas dúvidas, o episódio “Ser por Inteiro”,

no @Benzadeusa, pode ajudar você.

 

O Episódio “Ser por Inteiro está no ar, dia 6/6/2023, no @Benzadeusa (Podcast e Youtube) da maravilhosa Maria Marta Stopa.

 

Nele, correlacionamos uma série e um filme, nos quais os arcos dramáticos das personagens principais desembocam no “ser por inteiro”, com o conto de fada romeno “O Gato”, interpretado pela analista junguiana Marie-Louise Von Franz (1915 – 1998).

 

Sex/life é uma série, com um nome que divide vida e desejo ao meio, sobre a trajetória de Billie, uma mulher dilacerada pela repressão dos seus desejos.

 

O pano de fundo da sua jornada é o mesmo que atravessa muitos corpos femininos, fazendo-a escolher o que a desconecta dos seus instintos e de todo conteúdo da sua sombra - muitas vezes preciosos, muitas vezes assustadores -, como se eles fossem a raiz de todos os erros.

 

Não à toa, o último episódio da 1ª temporada se chama: “A escolha certa”

 

Será que uma pessoa corroída pelas incertezas está realmente em dúvida ou dividida ao meio?

 

Será que uma mulher deve escolher entre uma ou outra parte de si mesma para sanar as suas dúvidas, ou permanecer inteira quando faz suas escolhas? 

 

Já na comédia alemã com nome de contos de fada,  “Faraway” ou “Em Uma Ilha Bemdistante”, a jornada de autodescoberta de Zeinep se dá pela reconexão com a mãe, depois de herdar uma ilha remota na Croácia e um diário, escrito em croata, que ela não entende.

 

Talvez, a ilha e a língua desconhecidas da falecida mãe sejam a representação de como ela estava distante do próprio feminino em uma vida cheia de obrigações que não lhe dava mais sentido.

 

Nesta ilha, ela conhece Josip, um homem croata, instigante, rude e magoado com as mulheres. 

 

À medida que vão se conhecendo, ela se reconecta com a (sua) natureza, enquanto ele cura as próprias feridas, banhados pelo princípio feminino, esquecido em algum canto das suas dores. 

 

Assim, tanto a série como o filme ressoam com o que a Marie-Louise trata em seu livro “O Gato: um conto de redenção do feminino”: 

 

Reencantar o viver, quando somos inteiros com a nossa luz e a nossa sombra. 

No conto romeno, há um Rei poderoso e infeliz por não ter tido filhos, simbolizando uma vida e um reino estéreis, onde nada de novo acontece. Sua esposa, a rainha, está triste e quer passear de charrete para se alegrar. 

O marido, no entanto, faz um barco - símbolo da receptividade -, mais brilhante do que o Sol. E diz para ela fazer a sua aventura, desde que voltasse grávida ou ele não a aceitaria mais. 

Como diz Von Franz, fazer uma jornada pela terra é como tentar resolver um problema através do que já se sabe no consciente (Von Franz, 2000), contando para si mesmo as mesmas histórias de sempre, que  mais encobrem do que dão alguma solução. 

Muitas vezes, nos atendimentos de Constelação Familiar (Familienstellen), pensamos já saber as causas dos problemas envolvendo o tema que se quer constelar. A abordagem fenomenológica da Familienstellen, no entanto, revela um outro percurso, jamais imaginado, que dá um passo para solução e para fora das ruminações que até então explicavam a questão tratada. (Neste texto e vídeo falo sobre a força da formulação do tema em uma Constelação Familiar). 

Navegar pelo mar, com um barco, como fez a Rainha, significa se aventurar pelo inconsciente para se deparar com perspectivas desconhecidas de si mesma e encontrar possíveis soluções para a sua tristeza e falta de sentido de vida (Von Franz, 2000). É isso que acontece com a jornada de autodescoberta de Zeinep no Filme “Em uma ilha bem distante. 

Neste sentido, o rei escolhendo o barco, e não a charrete para a esposa passear, estava mais atento ao grande problema enfrentado pelo reino do que a própria rainha. 

Da mesma forma, Josip, o homem instigante e azedo, cheio de talentos, que Zeinep encontra na ilha da sua mãe, estava mais consciente das mudanças necessárias para construir uma vida mais plena do que ela, embora não tivesse conseguido fazê-las até a chegada daquela mulher. 

Em sua travessia, a rainha descobre uma ilha, no meio do oceano, que pertence à Mãe de Deus. Nela há uma árvore cheia de maçãs douradas, capaz de encantar a imperatriz até o desespero. 

Na lenda do Rei Arthur há outra ilha, chamada Avalon (macieira), representando uma região desconhecida, habitado por seres e feitos estranhos, no qual o herói e a heroína encontram partes de si mesmo e o ponto de virada das suas jornadas rumo à inteireza. 

As maças simbolizam, nos mitos e contos de fada, uma fronteira vencida, depois da mordida, entre a vida e a morte, a luz e a sombra, o corpo e o espírito, o profano e o sagrado e as pluridimensóes. 

Zeinep, no filme, também chega em uma ilha desconhecida que pertence a sua mãe, no meio da noite, na qual encontra o “fruto proibido e brilhante” dos seus próprios desejos e dos desejos de Josip que, uma vez “mordido”, abre novos horizontes e maneiras de lidar com os seus sentimentos, valores e coração. Ou viver infeliz sem esta conexão com sua sombra, onde estão a outra parte de si mesmo. 

Ela, a rainha do conto romeno, sente um desejo avassalador pelas maças proibidas, a ponto de se sentir doente se não realizasse a sua vontade. 

Billie, em sex/life, também estava adoecendo até realizar os seus desejos reprimidos. 

A Rainha, então, rouba algumas maças, saciando o que a consumia. Desta forma, descobre que está grávida de 6 meses e o quanto estava desconectada do seu corpo, instintos e feminino. 

A Virgem Maria, dona da ilha desconhecida do conto “O Gato”, tem características mais afinadas com o arquétipo da Deusa egípcia Ísis [i], uma vez que sua ambiguidade entre a luz e a sombra não a atormenta, como quem se penitencia querendo ser perfeita e aceita e não inteira. Isso aparece quando a Mãe de Deus envia uma maldição para a rainha grávida, dizendo que se nascesse uma menina, ela seria uma linda e radiante como o Sol, a ponto de ninguém poder enxergá-la. E com 17 anos, ela e todo o reino se transformariam em gatos até o filho de um imperador cortar a cabeça da princesa. 

Em outro reino, um imperador rico, tirânico e viúvo (o feminino aqui já está morto), sobrevive desencantado e sem conexão com a natureza e sua subjetividade. Para aplacar a dor de um coração que age como um soco, ele bebe. Para ele, esta era a única forma de buscar “ativamente” a sua interioridade. 

A sensação de ter chegado em um ponto da vida, no qual nada mais faz a menor diferença, está presente nas personagens principais de sex/life e “Em uma ilha bem distante”, assim como em alguns parceiros delas. 

É por isso que o Imperador Viúvo pede para os seus 3 filhos lhe trazerem o linho mais fino do mundo, como se a juventude deles pudesse religar o rei, o reino e eles mesmos às conexões sutis perdidas com a natureza, com o feminino e com o que conseguisse mantê-los se sentindo vivos. 

O primeiro, rapidamente traz um cachorrinho, como a sua subserviência aos ditames do velho mundo, sendo incapaz de fazer as mudanças necessárias para transformar o paradigma vigente. O segundo traz um linho grosseiro, ainda sem os requisitos necessários para reencantar o mundo deles. E o terceiro se perde na escuridão da floresta até achar o reino dos gatos. 

Esta mesma jornada, sem bússola, para dentro de uma floresta escura, que tem o “mesmo” simbolismo de uma ilha nos contos de fada e mitos,  está em outro conto chamado “João de Ferro”, que Robert Bly, um admirador de Marie Louise Von Franz, interpreta [ii] como o início da jornada masculina. 

Com fome e perdido, o príncipe decide roubar a comida e as joias do castelo da princesa felina, submetendo o novo mundo, recém-descoberto, ao velho paradigma de dureza, dominação e objetificação da natureza e da mulher (Von Franz 2000). 

Surgem muitos desafios ao longo desta parte do conto, fazendo o jovem se transformar em um bom companheiro para se casar com a princesa Gata. Neste momento, ela pede para o marido, filho de um Imperador, cortar a sua cauda e, depois, a sua cabeça, livrando a si e o seu reino da praga imposta antes mesmo do seu nascimento. 

A maldição, no caso, é própria vivência de um povo, cultura, mulheres e homens, independentemente de serem heterossexuais, homossexuais ou não binários, de estarem desconectados do princípio feminino (ou masculino) como uma das fontes de realização da própria vida. Ou polarizados demais em um dos princípios, masculino ou feminino. 

A Billie, na série, e Zeinep, no filme, enfrentam o mesmo desafio, decidindo acolher as riquezas das suas sombras (a cauda e a cabeça da gata) para serem mais felizes em suas jornadas e, a partir daí, construírem relacionamentos alicerçados em novas bases, na qual elas pudessem se sentir mais inteiras. 

Quando um animal, em um sonho ou em um conto de fada, se transforma em humano, algo do mundo das sombras chega à consciência para, então, se realizar. O gato e sua total liberdade, maternidade positiva, insubordinação, autenticidade e coragem para ser quem é, sem medo de desagradar, simboliza as características do princípio feminino, segundo Von Franz (2000).

E ele, o princípio feminino, de fato não pode ser dominado, domesticado ou colocado em risco para satisfazer as expectativas dos outros.  

Por isso, quando a cauda e a cabeça da gata são cortadas, a princesa se transforma em uma linda mulher, consciente da luz e da sombra do seu feminino. E seu marido entra contato com a própria subjetividade, reencantando o seu viver com novos valores. Além de parar de criticá-la, como fazem muitos homens em relação aos mistérios do feminino (Von Franz, 2000).

Lá, na ilha distante da Croácia, o marido de Zeinep e Josip também se transformam, mas só depois de perceberem o desserviço das lutas que travaram pela mulher que amam, numa cena hilária que desmonta o velho paradigma de dominação e competição. 

O príncipe e a princesa, então, vão para o reino do Imperador viúvo. Chegando lá, o rei encantado com a beleza da princesa, tenta estuprá-la e matar o próprio filho para se casar com ela. 

Exatamente o que acontece com muitas mulheres que não querem mais, sem sucesso, ser tratadas como objetos pelos seus companheiros. Com homens que lutam pelas suas mulheres sem enxerga-las ou dar-lhes o que elas precisam. E com Billie, na série, e Zeinep, no filme, ao tentarem despertar seus maridos, em vão, para os problemas dos relacionamentos deles.   

O Rei, representando o velho paradigma moribundo, e o filho, representando o novo paradigma, graças à incorporação do que estava excluído do reino, brigam. 

A princesa intervém, convencendo o marido a voltar com ela para o reino onde se conheceram e se transformaram em homem e mulher. Onde os homens e mulheres são bem-vindos para viverem em cooperação e não em competição. 

Onde as mulheres são por inteiro (luz e sombra) e os homens também, criando completudes, graças à presença, colaboração e compromisso que estabelecem um com o outro. 

Na série Sex/life”, quando a Billie decide conectar todos os seus desejos, para nunca mais ter que se dividir em duas, coincide com o momento em que a princesa Gata, no conto de fada, se transforma em uma mulher por inteiro.

No Filme, “Em uma Ilha bem distante”, é quando Zeinep faz a sua escolha de acordo com quem ela é, depois de sua jornada de autoconhecimento desde a fila de mulheres ancestrais até a sua filha adolescente. 

Se quiser saber mais, assista a nossa conversa, “Ser Por Inteiro”, no podcast Benzadeuza. Obrigada, querida Maria Marta pela nossa conversa!


[i] O documentário “Cleópatra” (Netflix) fala um pouco sobre a deusa egípcia Ísis, pela semelhança do seu mito com a história da rainha do Egito: 

Isis, deusa do amor e da magia em seu mito, era casada com seu irmão Osiris e inimiga de seus outros irmãos, Néftis (deusa da morte) e Set (deus da guerra) que mataram Osiris. Ela tinha uma vida ambígua, de Luz e Sombra e uma conexão plena com sua inteligência, erudição, sexualidade e poder. E um dos seus animais de poder era o gato.

No Egito há também uma deusa, Sekhmet (A Poderosa), que tem a cabeça de gato ou leoa. Ela traz epidemias e devastações quando os homens ficam arrogantes demais. 

Na vida real, Cleópatra se casa com um dos seus irmãos, como era a tradição, para equilibrar as polaridades masculinas e femininas no reino e para manter o poder nas mãos da sua família. Da mesma forma, ela entra em guerras mortais com dois de seus irmãos (um deles seu marido) e uma irmã, se portando como a deusa Néfits e o deus Set, para manter o trono. 

Mais tarde, ela é acusada de usar magia para conquistar o Imperador romano Júlio Cesar, o homem mais podeross do mundo ocidental, naquela época, que foi assassinado por uma facção de líderes romanos que não concordavam com sua forma de governar. E, posteriormente, é acusada, mais veementemente, de magia por conquistar o amor de Marco Antônio, com sua inteligência, poder, erudição, riquezas (que não reconheciam), beleza e sexualidade, o que a levou a ser ameaçada e derrotada em uma guerra, por um exército de homens conquistadores e arrogantes que não suportavam o poder e o brilho solar de uma mulher por inteiro. 

[ii] Bly, Robert. João de Ferro: Um Livro sobre Homens. Rio de Jabeiro: Editora Campus, 1991.


 

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SEX/LIFE

2021 - 2023 /Série Norte-americana/ Netflix

Criado por Stacy Rukeyser

Elenco: Sarah ShahiMike VogelAdam Demos


 

FARAWAY ou EM UMA ILHA BEM DISTANTE

Lançado no dia da Mulher, em 2023

DramaComédia / Netflix

Direção: Vanessa Jopp

Roteiro: Jane Ainscough

Elenco: Naomi KraussGoran BogdanAdnan Maral

Título original Faraway

 

O GATO: UM CONTO DA RENDENÇÃO DO FEMININO

Livro da Série Amor e Psique

Marie-Louise Vom Franz

São Aulo: Paulus, 2000


Mônica Clemente (Manika)

@constelacoes_mitologicas

@manika_constelandocomafonte

 

#MarieLouiseVonFranz #Mulher #gato #Feminino #constelacaomitologica 

Sex/life, Cinema e Constelação Familiar, Feminino, Gato, Constelações Mitológicas, Marie-Louise Von Franz, Mulher, Faraway, Benzadeusa,

 

603) O Mito de Aquiles na Série em Senna

  O Mito de Aquiles em Senna Mônica Clemente (Manika) Aquiles foi um famoso guerreiro da mitologia grega, sendo peça-chave na vitória da...