27 de nov. de 2012

10) Os Olhos da Águia



Ou as 3 Consciências segundo Bert Hellinger




Foto de Tariq Dajani



Eu estava tentando intuir o tom dos KOANS[1], narrativas do Zen-budismo que não podem ser apreendidas pela razão, quando senti o lampejo das fendas ...


Desta percepção, sem o rumo da lógica, fui até as mudanças da consciência  no movimento da constelação.

Lembrei-me das falhas de um barracão de madeira velha por onde uma nesga do vigor do Sol atinge o rosto dos amantes, como em Eros e Psique. Se não fossem estas imperfeições da moradia que deixam ver além das fronteiras, eles ainda estariam aprisionados na escuridão acreditando firmemente viver em castelos de prazeres infinitos. Mas o amor exige mais, muito mais.

É que as fendas, como no koan, motivam o aprendiz às revelações. É por meio de revelação que a constelação acontece, por isso não há um saber por trás, mas um olhar desde o centro. Só assim a consciência, no que move o amor, pode plasmar outros começos para os emaranhamentos, por exemplo, 3:

1) Num deles, que Hellinger chama de Consciência Pessoal, faz-se a diferenciação entre o bem e o mal e quem pode pertencer ou será excluído de acordo com estes horizontes. Nesta fase um parente pode ser banido, por justa causa, do sistema familiar. Geralmente é aqui que começam os emaranhamentos e repetições de destinos difíceis. Uma coreografia com partituras rígidas.

2) Na "segunda", a  Consciência Coletiva, a coreografia e o que a faz dançar o drama se alarga para defender e incluir os excluídos, no entanto suas fronteiras de aceitação protegem só o grupo. Por exemplo, dois sistemas familiares para defender e honrar seus membros acham justas as vinganças de sangue, como no filme "Abril Despedaçado" de Walter Salles.

3) Na Consciência Espiritual o movimento foi além das fronteiras e das perfeições – coisas de bem e de mal, coisas de pertencimento e exclusões e de opostos irreconciliáveis - e desembocou no Todo.


   Aqui,  onde tudo É, as brechas da imperfeição, como os olhos que se abrem na interioridade, deixam atuar sobre nós os vislumbres do Uníssono.



Pina Bausch - Light



O Vedic Hymn canta sobre esta dimensão onde tudo é, sem separações: Om Poornamadha (do álbum "Om Perfect")


Om Poornamadha Poornamidham
Om Poornaath Poorna Mudhachyate
Poornasya Poorna Maadhaaya
Om Poorna Meva Vasishyathe

(Isto é Tudo, Aquilo é Tudo
Do Todo o Todo surge
Tirando o Todo
o Todo permanece)





[1] Koans são narrativas ou afirmações com poderes de iluminação na tradição budista, mas sua ação não é acessível por meio da razão, só da verdadeira quietude. 

15 de nov. de 2012

9) Sonhos e Acordes





HENRY VITOR portfolio - Sonho Azul


Para Jung e outros estudiosos dos sonhos, o pesadelo tem a função de chamar a atenção da pessoa para algo que ela se recusa a ver. Não é à toa que ele leva o sonhador a despertar no ápice de sua trama, como se dissesse: “acorde para isso!”

Algumas Constelações, por mais sutis e delicadas que sejam, têm quase o mesmo efeito se a pessoa constelada está longe do seu centro: “acorde para a sua força”, “acorde para seus emaranhamentos”, “acorde para o fato de amar seu Pai (sua mãe), mesmo que sua mãe (seu pai) o (a) rejeite”. É que muitos pais têm sido negligenciados arbitrariamente dentro de suas famílias, e muitas mulheres descartadas afetivamente por seus companheiros de forma grosseira. Mas estes assuntos merecem um texto inteiro cada um...

 “Acorde para os sentimentos que curam!”

Sobre eles, Hellinger diz que não é a raiva reprimida que causa a doença, mas a repressão da ação que leva à solução o terreno para os desequilíbrios (2001:93). No caso, a atitude que busca a saída é o  sentir juntos sem acusações e / ou indignação. Ao invés de se apegar às dores passadas e apontar os/as culpados/as, pode-se dizer para si mesmo, humildemente, visualizando o/a causador/a do sofrimento: “que pena mamãe (papai) que nossa relação foi tão difícil”. Esta ação une, fala a verdade e deixa os sentimentos fluírem em lágrimas reverentes.

Nem o sonho difícil, nem o despertar de uma constelação causam danos, ou são oráculos de má fortuna. São sim o encaixe para uma vida mais plena em acordes mais serenos (ou mais viscerais), porque, como diz Hellinger (2006), "no centro sentimos leveza". 



Memorial Mineiro - Henry Vitor (1939) (meu artista preferido)


595) A Dor é Inevitável, o Sofrimento Não

  A Dor é Inevitável,  o Sofrimento Não Mônica Clemente (Manika) @manika_constelandocomafonte   Como astróloga há 34 anos, testemunhando f...