Eros by Rebecca Léveillé-Guay
Quando
Psiquê confronta o seu amante misterioso Eros, querendo saber quem ele é de
fato, o estágio de participação mística (identificação inconsciente com o paraíso materno) é rompido,
lançando-os separadamente para a jornada de autoconhecimento. Ele, a princípio,
desaparece e ela, sem manual de instrução, inicia a sua transformação pelo
caminho do amor[i].
Depois
de algum tempo envolvidos no êxtase do encontro, e, mesmo evitando as
sacrificantes e exaustivas “DRs” (discussões sobre a relação) a todo instante,
chega um momento em que as primeiras rusgas do desapontamento com o verdadeiro
outro se multiplicam. Já não há mais possibilidades de projetar desejos
suspeitos e sombras cheias de dentes no/a parceiro/a, querendo que ele/a mude
para se adaptar aos nossos caprichos e medos, aos nossos roteiros.
A
fase das borboletas no estômago começa a dar espaço para as novas intensidades,
e, insistir para o/a amante procurar uma terapia como se estivesse nele/a o
interruptor do que se apaga em si mesmo, tampouco reascende o amor.
Ao
ferir Eros, por exigir mais honestidade, Psiquê trai o acordo original do
início do namoro de se perpetuarem no mundo da fantasia ilibada do amor ideal,
onde “eu sou o que você quer que eu seja” e vice-versa. Ou “eu quero que você
seja a mamãe ou o papai que eu não tive.” Ou é o desejo de ficarmos fusionados, indiferenciados, como na barriga de nossa mãe.
Nesta
fase da fantasia - ou um estágio anterior ao nascimento - cedendo lugar à realidade e à alteridade, onde o outro é
realmente o outro, há também aquelas vozes interiores ávidas por repetirem os
roteiros familiares na relação. Segundo Hellinger (2007), nada deixa a
consciência mais em paz do que seguir estes scripts, mesmo que sejam dolorosos.
Assim, é garantido o próprio pertencimento ao grupo e a sensação de inocência.
Estas
vozes também estão sedentas por projetarem no/a amante o "monstro do
parceiro/a errado/a", como se existisse o certo e não um movimento de
encontro entre duas almas para se transformarem e para aprender o que é o amor entre amantes:
“Cuidado, ele deve ter asas nas costas escondendo um tremendo de um
arco-e-flecha! Vai te ferir” ou “São todas bacantes. Deve estar
interessada em teu Pégaso XV a.C.”
Ou
“Mulheres são de Vênus (Jura, você realmente acreditou nisso?) e homens são de
marte”.
No
mito Eros e Psiquê, esta maledicência é personificada pelos lábios das irmãs da
protagonista que suspeitavam do caráter e boas intenções do esposo oculto
(Neumann, 1995). Encontramos a mesma ladainha entre “azamigas e ozamigos” que
nos dizem: "mas ele/a é isso ou aquilo e óbvio que não está interessado em
você! Não te respondeu na mesma hora".
Estas
vozes estão também nos livros de autoajuda com raiva das profundezas (existem
muitos livros de autoajuda bons e outros, não!), nas falas dos pais ou mães,
avós e conselheiros frustrados, que seguem à risca a sabedoria do “disco
arranhado” - racionalizações que se repetem para não encararem a verdade[ii].
Com
as suas recomendações petrificadas em torno das próprias aventuras interiores
não realizadas por medo do amor e seus riscos, desejam o mesmo destino de
solidão a todos. Querem companhia em suas noites frias.
Assim,
no mito, ferindo Eros com suas desconfianças, Psiquê se fere. Ela não queria
mais dormir como Gilda (Personagem
fascinante) e acordar como Rita (a
simples mortal Hayworth). Mas Eros ainda queria. Inclusive, diante desta nova
fase do amor, quando as ilusões começam a cair, ele se pirulitou sem ao menos
enviar um emoticons pelo whatsApp.
Sabe
aquele tipo de ex-amante que envia um presente pelo correio, um ano depois de
sumir, como se não tivesse acontecido nada, e diz:
-
Lembrei de você!
-
Mas, você quer falar alguma coisa?
-
Não, foi um ato de carinho.
E
some de novo, te bloqueando no facebook como se você estivesse muito interessada no perfil dele. E estava, mas fazia
promessa todos os dias para não entrar mais lá.
O
mais belo de todos os deuses gregos, que não era um monstro como Psiquê
descobriu boquiaberta no dia em que o confrontou, não só sumiu como se escondeu
da própria mamãe que estava furiosa com ele.
É
que antes dos dois pombinhos se conhecerem, Afrodite, a mãe do desaparecido,
pediu aos mortais para sacrificarem Psiquê, aquela insossa e acima de tudo
mortal que apoia os direitos humanos, por ser considerada tão ou mais bela do
que a deusa. Não suportando a concorrência, enviou o seu próprio filho, Eros, para
executar a pena de fazê-la viver as paixões mais inferiores num casamento
terrível. E, de preferência, se ele pudesse dar ré no caminhão que a
atropelaria por sofrimentos em relacionamentos umas 10 vezes. (Quantas vezes a gente vai sofrer por amor?)
Eros
não recusou o pedido da deslumbrante mãe, assim como muitas pessoas não o
fazem. Mandato é mandato. Eric Berne com a sua análise de script que o diga. Quantos Eros (homens e mulheres) sacrificaram a possibilidade de
vivenciar um amor mais afinado com a sua interioridade e acabaram se casando
com a mulher (ou homem) dos sonhos do seu grupo de iguais?
Quantas
Psiquês (mulheres e homens) preferem viver tons de cinzas e se enganar que isso
é amor? Quantos de nós ainda escolhemos parceiros/as de acordo com as normas da
coletividade e não da própria alma? Quantos de nós ainda preferimos os prazeres
ao amor, separando um do outro como se fossem inimigos?
Quantos filhinhos da mamãe (homem na esfera materna) se sentem atraídos pela filhinha do papai (mulher na esfera paterna) e vice-versa? No mito só se fala de Afrodite e seu filho Eros e de Psiquê e seu pai.
O que este encontro lhes proporciona? O que podem encontrar no outro que não conseguem fazer em suas almas? O movimento de amor para o pai ou mãe excluídos? Se você tem um movimento de amor interrompido para sua mãe ou pai e/ou ficou só na esfera do genitor do sexo oposto sem tomar a vida do outro genitor, possivelmente vai estar numa relação Eros e Psiquê. E por quê?
Porque a separação será tão dolorosa, como vemos nos desafios de Psiquê para reconquistar Eros, que terá a chance de lembrar daquele amor esquecido. A trilha que te reconecta com o pai ou mãe excluído.
Então pega este sofrimento de coração partido e entra nele. Embarcada/o? Agora o redireciona para a o pai ou mãe excluído e vá com a dor deste amor até ele/a. Se você parar no caminho por conta das coisas erradas que o pai ou mãe excluídos fizeram, vai perder o bonde do amor. Conectou de novo? Daí em diante já pode ter um amor adulto, antes não.
Mas continuando. Como
é que Eros transforma o domínio de Afrodite, o princípio coletivo do prazer e
do êxtase (muito válido), para desenvolver em si mesmo a sua psique, que se
transforma pelo amor (com ele)?
Como Psiquê se desvencilha das artimanhas de Afrodite e
aceita se transformar por causa do amor?
Estes
são alguns dos desafios propostos pelo mito: sair do paraíso da mãe para Eros e da esfera de ser melhor que o mãe para o seu pai para Psiquê. De atender as expectativas da família, para os dois, e de seguir a jornada do feminino para Psiquê, sem se perder na participação mística com sua mãe.
Voltando ao mito: Quando o deus olhou pela primeira vez para sua futura esposa, Psiquê, prestes a ser
sacrificada para a deusa dos prazeres indiferenciados da coletividade
(Afrodite), se apaixonou perdidamente.
Ele, então, resolveu mudar os planos. Desafiando a
própria inocência da consciência que não quer bancar a solidão da individuação,
se apresentou a ela como o seu verdadeiro amado! (Saiu da "Consciência Boa" que segue os valores e mandatos da família e foi para Consciência Má, quando nos sentimos desconfortáveis por desafiar estes mandatos. O Casamento acontece na Consciência Má, porque dois mandatos de sistemas familiares anteriores devem ser abandonados para construir a nova vida do casal. (Bert Hellinger, 2007)).
Neste momento, Eros pede para
Zéfiro, o vento do Oeste, salvá-la e levá-la a um castelo divino, no sopé de
uma montanha, onde todos os seus desejos seriam atendidos.
Salva, enfeitiçada e aliviada, Psiquê aceitou todos os
termos de Eros para aquele encontro. Teriam prazer, gozo, alegrias e paixão, mas com uma condição: a de que eles se amassem durante a madrugada, quando nunca poderiam
se ver.
Ela
não só aceitou todas as condições como se entregou ao deus sem nenhuma censura
no pensamento. Graças a esta coragem de "cair do desfiladeiro até a morada
de Eros" (fallen in love), foi iniciada no amor.
O
fascínio do encontro, no entanto, durou até a saudade da própria alma exigir
novos desafios. A tensão entre o futuro e o passado exigia novas presenças de
si mesma. Psiquê tinha saudades da família e do seu povo.
Os scripts familiares sempre encontram um
caminho para chegar aos seus atores, antes deles renunciarem para
escrever seus próprios destinos. Aquela segurança de pertencer ao seu grupo
consanguíneo (consciência boa), também muito válido e importante, chegou questionando as
fronteiras entre o seu desejo pessoal de viver o amor e o que esperavam dela
coletivamente.
Entre a primeira família a quem se deve a vida e a que os
amantes constroem com os novos parceiros. Havia também a dor de ficar em uma
prisão bem-aventurada longe do contato humano.
Não
podendo mais conviver com a angústia que surgia, pediu autorização ao seu amante para que as suas irmãs pudessem visitá-la. Ele alertou à esposa
dos riscos de entrar em contato com elas, mas depois de vê-la sofrer sem
conseguir confortá-la, aceitou o pedido reafirmando a condição de anonimato
entre eles.
Zéfiro,
o vento, trouxe as duas ao palácio dourado, onde foram muito bem recebidas por
Psiquê. Quanto mais conviviam com a fortuna e as bênçãos da irmã caçula, mais a
inveja as corroía:
- Ele faz o quê?
- Não sei...
- Como não sabe, Psiquê? Não conversam?
- Sim, mas...
- Por que ele não vem nos cumprimentar? Tem algum defeito?
- Não... na verdade, nunca vi o rosto dele.
- Você não sabe como ele é?!
- Não, mas minhas irmãs...
- Como pode gostar dele?
- Só sei que o amo.
- E se for um monstro?!!
Elas não estavam, de fato, preocupadas com o
bem-estar da irmã caçula ou com quem era o marido misterioso. O sentimento de
que Psiquê foi convidada à aventura do amor e, bancava o risco desta jornada,
era o verdadeiro incômodo que as transformavam em bruxas furiosas. Elas
precisavam apunhalar este monstro através de Psiquê, e assim perpetuar a sua
amargura deixando a irmã como elas.
Quantos
parceiros/as apunhalamos antes de conseguir enfrentar o fel do próprio fígado?
Por
outro lado, como é que se amadurece uma relação sem que se re-conheça a si mesmo e ao
totalmente outro? Sem que se aventure na própria capacidade de amar para além da mamãe e do papai?
As
amarguradas (vozes interiores) tanto azucrinaram a heroína, que Psiquê resolveu
quebrar a promessa feita a Eros com um punhal. Durante a próxima madrugada,
depois que o seu amante adormecesse, iria
livrar-se dele para sempre. Com isso, esperava livrar-se do sofrimento de um
possível coração quebrado. Sem coragem de levar
o seu plano adiante, resolveu pegar o candeeiro no aposento vizinho e ir
até o leito matrimonial para desvendar, enfim, quem era ele. O clarão da
pequena chama iluminou paulatinamente o deus adormecido para revelar que o
seu marido era o próprio deus do Amor.
Encantada
e ao mesmo tempo profundamente arrependida das suas desconfianças, abaixou o
punhal ferindo o próprio peito - lado esquerdo, sua mãe. Estremecendo de dor e de amor renovado, derrama
uma gota do óleo da luminária na coxa direita do seu marido - lado do pai. Ele acorda, se depara com a cena, e sem dizer uma única
palavra, desaparece. (Ele some mesmo, com asas e tudo!).
Alguém
já saiu de uma relação sem dar uma palavra por medo das emoções e reações
envolvidas? O enfrentamento da separação não é também uma experiência a
ser vivida com todas as suas implicações? O que dá mais força, fugir do amor ou da separação ou
se abrir para esta experiência?
Por
causa da agonia insuportável do amor perdido, Psiquê se vinga das irmãs, que
caem do abismo ao seguir a cobiça da própria inveja.
Pausa
no mito: se, em algum momento uma pessoa sonha que cai de um abismo porque
tentava segurar quinquilharias arrancadas pelo vento, então, talvez, tenha
escutado as vozes que diziam que o amor não era para ela. Ou que seu amor está interrompido, na tenra infância, e ainda deseja voltar para o ventre da mãe, antes da separação dolorida do parto, com a esperança de recomeçar de novo.
Pode ser também que a queda no abismo se dá porque demos ouvidos às irmãs
de Psiquê e apunhalamos o nosso amante (nossa capacidade de amar). Ou, quem sabe,
conseguimos matar as vozes que nos impediam de viver um verdadeiro encontro e
resolvemos aceitar a jornada neste caminho, caindo até aquele estágio do amor interrompido que ainda aguarda uma solução.
Se
o sonhador cai e um pássaro ou um vento o salva, ele é Psiquê iniciando a
jornada antes da jornada. De qualquer maneira, cair em abismos nos sonhos
anunciam crises fundamentais. Por isso é bom procurar ajuda de um psicanalista, como o próprio Pã
indicou à Psiquê vacilante e pálida:
-
Nem tente se matar outra vez, não vale a pena! Pare de se lamentar e vá
conquistar o seu amor com a sua doce submissão!
-
O quê?! Eu vou é dar uma voadora no Eros!
Psique não está fazendo café, mas matutando
"Eu entreguei meu coração como nunca antes havia conseguido e ele
tratou o nosso amor como o mais insensível dos amantes”.
Algumas pessoas recorrem à raiva e à ironia depois de uma
decepção amorosa, como se pudessem escapar por muito tempo do verdadeiro
sentimento. É preciso, porém, se molhar na tristeza em algum trecho da jornada,
senão o rio da redenção vira veneno.
Por isso, algo em Psiquê seguiu o
conselho do velho sábio. Não porque ficou ligando e mandando e-mail para o ex.
Ele sumiu mesmo, se lembra? Também não fez jogo duro e bateu o martelo um
milhão de vezes dando o veredicto de que o seu marido era um idiota, fraco que
não ia mudar a vida inteira.
Ela, ao contrário, tomou coragem e, com humildade, pediu
ajuda a “muito mais do que a Gilda do Olimpo”, sua sogra, a deusa do amor, para
reencontrá-lo. Ela pediu ajuda a uma mulher (simbolizando a linhagem materna - sua mãe). Isto pode ser interpretado como a submissão ao feminino
coletivo, que vem das experiências de todas as ancestrais e diretamente da linhagem de sua mãe. Neste processo, é
possível tecer nela mesma o seu caminho único e intransferível como
mulher.
A
deusa propõe quatro tarefas impossíveis para qualquer mortal[iii].
Nesta
jornada, quase uma assinatura da derrota anunciada do mergulho escuro da
própria alma, Psiquê confronta a sua singularidade, ainda pouco desenvolvida,
com o princípio do êxtase amoroso coletivo. Neste choque, se liberta de toda
impotência recheada de vitimizações e teorias da conspiração para tecer em si mesma
a pessoa que é.
Não
é verdade que o término de uma relação amorosa pode tirar o brilho dos olhos,
ou levar um coração partido a mil outras bocas até a coragem de confrontar os
lugares mais felpudos e fofinhos onde se escondem os escorpiões? E não é verdade
que o ouro está coberto por muitos perigos?
A
heroína, então, se vê diante do desafio de integrar os 4 elementos que a
transformariam ou a matariam. Afrodite não estava brincando.
Para
incorporar a terra, adormeceu, deixando aos instintos a execução da tarefa. Com
isso, aprendeu que não se comanda ou reprime as caudas ancestrais, segue-se em
frente com elas atrás. Qualquer tentativa de dominar os instintos, sem
escrúpulos, gera doenças e até a morte.
Para conquistar o Fogo, aceitou a humildade, com a qual
"não pensar que sabe tudo" abre mundos de possibilidades. Com a
aquisição das lãs douradas das ovelhas selvagens, sem confrontá-las
diretamente, alinhou o coração com o indizível, sabendo que o erro treina
competências e a intuição flerta com o impossível. Em resumo, ela não brigou com o masculino, mas não deixou este princípio queimá-la.
O ar foi incorporado com a
ajuda da águia de Zeus. Ela com sua visão afiada, treinou o discernimento de
Psiquê e a sua capacidade de elaborar estratégias.
E, finalmente, com a água, a
sua fluidez e entrega, atingiria o âmago da feminilidade no plano inconsciente. A espera do tempo das coisas, sem a gente meter o bedelho (ficar fazendo mil terapias para conseguir o que ainda não está no tempo de conseguir).
Este "convite" faria Psiquê confrontar-se consigo mesma no mundo
subterrâneo de Hades.
Lá, no mundo dos mortos, foi exigido que ela desistisse de todo o controle e de todo o desejo de tê-lo de volta custe o que custar. Que desistisse também de acreditar que a vida não estivesse atrelada às caveiras. Vida e morte são inseparáveis.
O aprendizado aqui era: tente tudo, mas entregue o resultado dos seus esforços a uma Inteligência Maior. Precisava também desistir do seu esposo, sem querer matar Eros em seu coração para parar de sentir dor.
Não se mata o amor.
Era preciso desistir da ideia do amor fusional que só temos com a nossa mãe. Desistir da ideia de que só o/a parceiro/a que acendeu a chama da paixão (e desapareceu), pode mantê-la acesa.
Ela precisava saber que manteria o seu coração vivo se conseguisse se conectar novamente com a fonte de sua vida. Só tomando o amor dos pais transbordamos para atrair o amor adulto, disse o Hellinger.
E precisava sair de lá viva, mesmo mortificada com tanta dor, para levar o elixir da beleza eterna para Afrodite. E sem tocar no creme do pote! Já imaginou uma mulher cumprir esta promessa?
Como não cumpriu esta última etapa, passando nela a poção feminina, venceu as quatro tarefas sem saber: ela, ao desejar a beleza eterna a ponto de burlar um mandato da última etapa, incorpora a deusa na mulher que é, transformando-se em Psiquê, a alma. Ela enfim tomou a mãe. Ela agora é uma mulher.
Ao trair Afrodite, não trai a si mesma. Ao transformar o feminino coletivo em uma experiência pessoal, liberta Eros, a sua capacidade de amar. Ao ser redimida, desperta o seu amante, atraindo-o para um novo romance!
Psiquê
ao transformar sua feminilidade evoca em Eros a sua
transformação. Mesmo longe um do outro o desenvolvimento dela o afetou. Os dois
amadureceram até o reencontro em novos patamares de convivência.
Em outros
mitos, esta correspondência entre os amantes é também sugerida. Isso pode durar anos, tá, gente? A alma tem seu ritmo.
Se foi necessário mil casamentos com o mesmo homem/mulher ou
com dez outros parceiros/as diferentes até uma relação mais honesta e profunda,
não importa. Psiquê não desistiu do amor. Ela estava pronta para vive-lo com Eros de forma honesta.
Hellinger chama isso de "amor à segunda vista" (é um livro): amar e aceitar o outro como ele é e não com nossas projeções. Em resumo, é quando dizemos sim para uma pessoa. Sim, te aceito exatamente como você é".
E também é quando estamos prontos para um casamento. Antes disso, aguentamos casos de amor, mas não os desafios de um casamento.
Assim, ela não enviou Eros ao
psicanalista ou a uma Constelação Familiar para resolver os seu problemas.
Ela mesma assumiu seu desenvolvimento e isto o afetou, porque os dois se
"correspondiam" em sua jornada interior. Seja lá onde estivessem, iam se encontrar, como o novo Eros voltou.
Agora,
se Eros procurar ajuda para seguir a busca de sua alma (Psiquê), isto já é a
jornada de herói dele.
[i]
Esta jornada pode acontecer com diversos/as amantes, cada um deles aprofundando
o caminho, com apenas um ou dois parceiro/as, e, em qualquer idade.
[ii]
Para a fenomenologia a verdade não é algo dado e estanque, como uma norma ou
diretriz inquestionável, mas é algo que
se revela e desaparece, não podendo ser reproduzida, mas vivenciada e testemunhada.
[iii]
Para saber mais – “Amor e Psiquê, uma contribuição para o desenvolvimento da
psique Feminina” de Erich Neumann, editora Cultrix. E "Asno de Ouro" de Marie-Louise Vonz Frans.