Em
seu livro a “Fonte não precisa perguntar pelo caminho”, Hellinger, criador da Nova Constelação Familiar, diz: “o
mestre olha, por isso não precisa aprender. O discípulo aprende, por isso não
olha” (2007:33).
A
ação deste aforismo se confirma em seus seminários da Nova Constelação Familiar, nos quais somos
instruídos a não ficar anotando ou preocupados em explicações, mas sim a olhar,
ficarmos atentos a partir do nosso centro, inteiros, para seguir o movimento, a
Fonte, juntos. Uma cura a nível da alma acontece, sem que milhares de pensamentos pertubem.
Ele
não é o primeiro a ressaltar que em nossa relação com o mundo somos inteiros e é nesta inteireza, por meio das relações, que encontramos soluções. Há muitos outros, entre eles Jiddu
Krishnamurti que no século XX surpreende e rompe com seus mestres ao dizer que
a verdade é uma “terra sem caminho” impossível de ser organizada em crenças,
religiões ou seitas. Neste sentido ela se revelaria para o caminhante e não
como um caminho organizado a ser seguido. Segundo ele, “não há professor, não há aluno,
não há líder, não há guru, não há mestre, não há salvador. Você mesmo é o
professor, o aluno, você é o mestre, você é o guru, você é o líder, você é tudo”.
A relação eu-mundo, onde a inteireza se sustenta, aparece na Constelação Familiar e na Terapia Sistêmica. Com elas se criam espaços de intersubjetividade privilegiados para se encontrar as soluções de acordo com o caminho, não preestabelecido, de cada pessoa.
Entendo
como se estes pensadores práticos não estivessem procurando discípulos, porque olham como mestres
que são e que somos. Isto é a arte de olhar.
Para Hellinger, então, olhar a partir de seu próprio centro cria
um elo com a realidade, e este é um ato de “somente olhar e nos limitar
ao que percebemos. Mais nada. Mas isso exige modéstia” (Hellinger, 2007:30),
porque nos impede de formular mirabolantes divagações e de criar o mundo
segundo o nosso, muitas vezes, limitadíssimo arbítrio e outras representações.
A liberdade aqui, segundo ele, é
pequena, porque contempla apenas o observar para não forçar no mundo nossos
modelos idealizados. Apesar desta restrição algo atua. Quer dizer, esta arte de olhar
sem intenções, esvaziada de expectativas e dúvidas, a partir de nosso centro, nos conecta com algo que atua e traz soluções.
Esta
seria a arte de olhar para algo atuar. O que atua e como atua?
Os
yoguis tântricos olham para algo atuar até as últimas consequências, quando se
colocam em posição de serem observados pela Testemunha, como chamam uma inteligência maior. É como se o reflexo da
Lua em uma gota de água percebesse, de repente, que é a própria Lua,
interrompendo a ilusão de que ela é a gota da água onde está refletida, e, ao se
fundir com a Lua, deixasse de ser o reflexo que olha e passasse a ser a
testemunha que atua.
Alguns
artistas podem intuir esta ação plasmando-a em sua obra convidando-nos, ao
entrarmos em contato com sua arte, a olhar o que atua. Com isso acessamos o
centro. Por todos os lados o convite de sair da ilusão nos emancipa como protagonistas
de nossa jornada mostrando que cada um é mestre de si mesmo.
Em uma Constelação Familiar ou Terapia Sistêmica esta obra de arte que dá o gatilho para algo atuar é a imagem final.
Assim,
quando o mestre está pronto o mestre aparece. O mestre em si, nas situações da
vida, em pessoas que já percorrem o caminho e, ao nosso lado naquilo que une o pessoal, o coletivo e o longínquo.
Tazhib* persa estilo Shamse-Sol
*Tazhib é um Arabesco. Segundo Chevalier e Gheerbrant,
em "Dicionário de Símbolos", o arabesco é um ritmo depurado
e não uma
representação ou figuração. Como uma encantação por
repetição infinita permite
sair do condicionamento temporal conduzindo
da periferia ao centro. É o símbolo
do símbolo se oferecendo a quem o contempla o longínquo que está ao centro de si mesmo, em elo com tudo o que existe.