Mônica Clemente (Manika)
Tudo começou com um
inseto se revelando Fada para uma sonolenta. Sem saber se foi magia, ela
acordou amontoada com bebês, adolescentes e idosos dentro de um cesto, colocado
na rua de terra batida, aguardando a procissão de renunciantes.
O público, dos dois
lados da alameda, gritava sem fazer estardalhaço. Qual daquelas pessoas
excluídas sairiam do berço para virar abdicante?
E qual delas ainda
acreditaria nos relacionamentos?
A
moça que via fadinhas, pensava:
“Como
os bebês abandonados sairiam de lá? Só se um renunciante escolhesse seu
destino? Talvez eu pudesse criá-los mesmo sendo uma excluída e, assim,
pertenceríamos.”
O
primeiro a sair, no entanto, foi um biscoito quebrado ao meio. Além de velho
não era mais inteiro. Uma de suas partes, a que venceria a disputa dos
seus desejos, se consolava: “Quem escolheria você, velho e quebrado, para se casar?
O que me resta mesmo é Deus.”
A
próxima a pensar em sair da caixa foi a moça. Uma de suas partes queria seguir
com a procissão, a outra, ainda queria tentar.
Um idoso, ao seu
lado, nunca pensaria em seguir a vida daqueles monges, mesmo tendo estragado
todos os relacionamentos com suas esposas, amigos e filhos.
Ele sabia que tinha
cometido erros e, por isso, foi abandonado pelo caminho, mas ainda queria
tentar, embora seu coração também estivesse partido.
O cesto ficou lá no
meio da rua, cheio de excluídos que precisavam escolher se transformariam sua
exclusão em destino, ou se ainda fariam e nutririam boas relações.
O público aguardava,
ansiosamente, as suas escolhas. Se fossem embora com a procissão, não
precisariam mais pensar neles.
Se ficassem dentro
do cesto, juntos, não estariam mais sozinhos. E a esperança teria vencido todas
as experiências difíceis que sofreram.
Mônica Clemente (Manika)
@manika_constelandocomafonte
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