Máquina ou Poesia? Como nos tratamos quando constelamos?
Escrevo este texto para compartilhar o que tenho refletido
Escrevo este texto para compartilhar o que tenho refletido
sobre a ação das Constelações em relação à postura
do constelador, constelando e participantes.
Como
eu me trato quando adoeço ou sofro, como uma máquina que precisa ser consertada
ou como uma poesia em busca de um verso mais harmônico? Como eu constelo, como
um mecânico em busca do melhor encaixe ou como uma alma de carne e sentimentos?
Ao
longo dos meus últimos 20 anos a resposta desta pergunta foi surgindo antes mesmo de sua formulação. Como eu trato minha vida, relações e corpo?
Para responder
a estas perguntas me deparei com outra questão: Afinal de contas, eu vivo emaranhada
em qual paradigma? Será que sou refém de algo que eu nem sei?
“Tempos Modernos” (1936).
No itinerário intelectual ocidental a concepção de corpo foi
perdendo suas sutilezas e se “grossificando” reduzindo sua
multidimensionalidade a um punhado de carne manipulável. Atualmente somos um
corpo máquina, sem alma. Ou, em outras concepções, uma alma dentro de um corpo
impuro. Ou, uma alma, às vezes infestada de pensamentos negativos, adoecendo o
corpo.
A vida, neste percurso, passou a ser uma incógnita diante
do corpo cadáver ou máquina. A alma virou mente e a mente passou a ser colonizada
pelos pensamentos positivos repetitivos, na maioria das vezes para conseguir
riquezas e um bom partido. Se antes não havia separação corpo e alma e tudo era
vida, agora estas duas esferas parecem ser irreconciliáveis e viver passou a
ser um risco insuportável que necessita ser controlado.
Temos remédio para tudo e ninguém mais aguenta sofrer.
Imagina amar, experiência extasiante, porém carregada de facas, dores e
incertezas?
Neste sentindo, se o constelador tratar as constelações
como uma chave de fenda capaz de arrumar uma disfunção, qual o papel dele e destas
dinâmicas? Como ele olha para vida, para a alma/corpo, para aquele “a quem”
constela? Se um constelando e/ou participante vai a um encontro de Constelação
e se coloca como objeto a ser consertado, que tipo de visão de vida, alma e
corpo eles estão submetidos? Quais resultados colherão? Como eles veem o
constelador e a si mesmos? Que conexão estabelecem com a própria vida?
Por outro lado, se o constelador, o constelando e os participantes
se conectam ao Campo que se abre nas Constelações naquele momento e se deixam
guiar pelo o que acontece, sem expectativas, sem se preocupar em definir qual o
horário da sua constelação e sem desconsiderar as conexões das outras pessoas
presentes, que tipo de experiências poderão vivenciar? Quais são as suas visões
de corpo, vida e alma? Como se relacionam com seu viver?
Hellinger e a Sophie têm sido enfáticos quando dizem que todos
os presentes constelam, que o Campo escolhe quem vai constelar, a hora e a
melhor forma. Isto porque todas as constelações se organizam como uma sinfonia
criada para quem está presente. Se é
assim, imagina nos abrirmos para receber todas estas dádivas?
Eu mesma experimentei esta abertura nos diversos encontros
com Bert e Sophie. Num dado momento ele me escolheu para ser constelada, mas as
constelações anteriores me prepararam e as posteriores aprofundaram a minha
constelação que constelou outras pessoas, sem que qualquer um de nós tivesse
controle. Do começo ao fim tivemos a sensação de que tudo foi orquestrado como
um livro escrito para cada um de nós. Claro que damos sentido ao que acontece,
mas também somos conduzidos por algo que nos escapa.
As dinâmicas, nossa vida, nosso corpo, relações, podem ser
trancafiadas no paradigma mecanicista e virar uma técnica, uma ferramenta, algo
a ser usado, ou podem ser entregues à autopoiese, que, por meio de nossa
entrega, se auto-organiza como acontece com todos os presentes nas Constelações.
Nos nossos encontros, eu como Consteladora, por exemplo,
pedimos para que as pessoas cheguem 15 minutos antes do início e fiquem os dois
dias inteiros no horário proposto. Ou se for inviável que fiquem, ao menos, ou todo
o sábado ou todo o domingo. Assim, este novo paradigma experimentado no
Movimento do Amor permanece. Passamos a constelar o tempo todo: incluindo,
aceitando, sentindo onde tem potência onde não têm. O que se pode fazer e o que
se tem que entregar.
É como uma disciplina sem grilhões porque permanecemos
centrados e guiados por algo que nos anima em direção à felicidade. Em última
análise, é um processo de sabedoria exercitado ao longo da vida, porque
concordamos com o que acontece no AGORA:
"O sábio concorda com o mundo tal como é,
sem temor e sem intenção. Está reconciliado com a efemeridade e não almeja
além daquilo que se dissipa com a morte. Conserva a orientação, porque
esta em harmonia, e somente interfere o quanto a corrente da vida o exige. Pode diferenciar entre “é possível ou não”,
porque não tem intenções. A sabedoria é o fruto de uma longa disciplina e
exercício, mas aquele que a possui, a possui sem esforço. Ela esta
sempre no caminho e chega a meta, não porque procura. Mas porque cresce (Hellinger, 2008)."