O centro é a síntese,
ou algo que ultrapassa
nos colapsando em nova configuração, em novos estados de inteireza?
nos colapsando em nova configuração, em novos estados de inteireza?
Para refletir sobre esta questão me apoiarei no signo da Cruz, especificamente na swastika que propõe em suas hélices o movimento de liberação, nas 4 funções psíquicas observadas por Jung e no Centramento proposto por Bert Hellinger.
A cruz tem 4 pontas, duas direções e um encontro entre eles, o seu centro. A respiração também tem 4 movimentos (inspira, pausa cheia, expira, pausa vazia), duas direções e um centro.
A cruz tem 4 pontas, duas direções e um encontro entre eles, o seu centro. A respiração também tem 4 movimentos (inspira, pausa cheia, expira, pausa vazia), duas direções e um centro.
A Cruz mais
antiga conhecida na cultura humana é a swastika, encontrada na civilização do Vale do Indo . Ela tem em seus
4 braços outros traços para além dos eixos vertical e horizontal. Neles pode-se
ler a ideia de movimento. Interpreto que, se somos também atravessados por verticalidades
e horizontalidades e estamos vivos, em circulação, em movimento como as hélices
da swastika, nós rodopiamos não só pelo
incessante escoamento da vida, mas pela possibilidade de chegarmos ao centro,
ao Sol interior, à liberação.
Segundo Jung,
o Símbolo da Cruz, imagem arquetípica, não importa suas variações, tem relação
estreita com a árvore da vida, escada, ponte entre a Terra e o Céu, portanto, a
mãe (Silveira, 2006: 131).
Não é nela que o Corpo e o Espírito por meio do pai,
se unem no/a filho/a?
Ah, se em
sonhos uma escada te derruba em desfiladeiros...
Que ideia de
mãe transforma a cruz em local de coroas de espinhos e pregações, de sacrifício
de filho para espiar a culpa do mundo?
Que ideia de
mãe transforma a cruz em símbolo de guerra e genocídios?
Quando
deixaremos a MÃE EM PAZ?...
O vertical e o
horizontal constituem a adaga com suas polaridades irreconciliáveis como o dia
e a noite, bem e mal, vida e morte, masculino e feminino e estes, ao se
ultrapassarem se encontram em seu centro. Não acredito, porém, como alguns dizem,
que estes opostos entram em síntese no ponto médio. Tenho experimentado, quando
“faço estrelas”, que o aprumado e o deitado se expandem pelos seus quatro
cantos, mas também se encontram em algo que os extrapola, em seu centro. A
superação dos contrários neste centro tensionada pela expansão polarizada dos 4
ventos, movimenta, e este movimento aprofunda
nosso âmago assim como nos alarga.
Bert Hellinger
ressalta sucessivamente o centro como instância orientadora da vida e dos que
estão como Consteladores numa dinâmica. No centro, como diz ele, sentimos
leveza. Vemos de longe com mais amplitude. Neste lugar nuclear não nos
orientamos só pela intuição, nem pela clareza do pensamento e sua incrível
capacidade de discriminação do que é essencial. Também não é só a potente sensação
corporal que nos faz parentes de todo ser encarnado, nem as estimativas
emocionais que afloram do centro que nos orienta. São todas estas funções a mercê
do Último.
Hellinger não relaciona o centro com o símbolo arquetípico da cruz nem com as 4 funções psíquicas de Jung que introduzirei abaixo (ele chega aí "subindo a montanha" - algo a apreender durante anos), mas tenho percebido algum parentesco entre a minha experiência como Consteladora e estes signos e os estudos do analista das profundezas.
AS 4 FUNÇÕES
PSÍQUICAS SEGUNDO JUNG
As 4 funções psíquicas com o Pensamento de Função Principal e a Intuição de Função Auxiliar.
Este esquema muda para cada pessoa.
Este esquema muda para cada pessoa.
Jung observou empiricamente
que havia 4 maneiras da consciência se adaptar ao mundo, de reconhece-lo e de se orientar nele:
· 2 funções racionais (Pensamento e Sentimento,
capazes de fazer julgamentos cada um a sua maneira).
· 2 funções irracionais (Intuição e Sensação, que
reconhecem o mundo pelo inconsciente ou pela precisão com que registram suas
impressões nos órgãos sensoriais, respectivamente).
A função
pensamento, ele observou, se opõe ao sentimento e a função intuição polariza
com a sensação. Estas 4 estratégias de adaptação ao mundo estão presentes em
todos nós, sendo que uma delas acaba se destacando e é aprimorada. Ela se torna
a função principal, a primeira a “atacar” o mundo e “falar sobre ele”. A
segunda função mais desenvolvida auxilia a primeira, enquanto a terceira, por
estar polarizada com a função auxiliar ainda está consciente, mas não é tão
trabalhada quanto as duas primeiras. A quarta função, oposta à função principal
está mergulhada no inconsciente e é por ela que se pode ter acesso à dimensões
onde ocorre a cura, ou, se muito dissociada, é por onde se perpetua as neuroses.
Esta última é chamada de função inferior, porque está inconsciente e não se
desenvolveu como as outras.
Estas 4
funções, como observou Jung, podem ter 2 atitudes:
· Introvertida – quando a pessoa se sente muito
afetada pelo objeto, “fugindo” para o mundo interior e desencadeando um
processo inconsciente de busca deste objeto.
· Extrovertida – quando a libido busca o objeto
“desconsiderando” as dimensões internas, mas há uma reação secreta no sujeito sob o efeito daquele objeto (Von Franz, 1990: 11).
Esta tipologia
em cruz, em “4 pontos cardeais”, foi pesquisada observando como cada paciente
se adaptava ao mundo. Não se tinha a pretensão de encerrá-los nestas
polaridades, até porque todas elas estão a nossa disposição, mas tinha o
objetivo de ressaltar suas formas de acomodação ao mundo e como ajuda-los a
partir de sua força, função principal e da sua abertura ao inconsciente (função
inferior).
Nas
constelações esta observação não é necessária, até porque toda a ação está em
relação ao sistema e não só ao indivíduo. Porém, como consteladora, percebo que
estas funções, em cada ponto da cruz, se encontram e se ultrapassam no meu centro
quando deixo atuar sobre mim o movimento presente. Nenhuma delas me acomoda ao
mundo, ao mesmo tempo em que estão lá a serviço da vida, sendo organizadas por
algo que me escapa, mas atua.
Não só intuo,
ou só penso, percebo ou sinto, eu me centro e deixo algo atuar.
De qualquer
maneira é muito interessante a pesquisa do Jung para entendermos as diferentes
aproximações que fazemos com o mundo. Assim, com o intuito de engrossar o caldo
de aceitação da diferença recortei e colei abaixo as características principais
de cada um destes tipos. Estes recortes foram retirados do livro “A Tipologia
de Jung” de Marie-Louise Von Franz, 1990.
Os 4 tipos Racionais
OS 4 tipos Irracionais
- Pensamento Extrovertido
- Pensamento Introvertido
- Sentimento Extrovertido
- Sentimento Introvertido
- Intuição Extrovertida
- Intuição Introvertida
- Sensação ou Percepção Extrovertida
- Sensação Introvertida
TIPO PENSAMENTO EXTROVERTIDO que tem como
função inferior (inconsciente) o sentimento introvertido:
“(...)
organizadores, pessoas de altas funções e cargos governamentais, de importância
nos negócios, nas leis, e entre cientistas. (...) Eles põem ordem clara nas
situações exteriores. (...)Se se
perguntar a ele sobre a sua atitude subjetiva ou sobre as suas ideias a
respeito de determinado assunto, ele vai se perder, porque não está voltado
para essa área da vida e desconhece por completo qualquer motivo pessoal. (...)
O sentimento é muito forte, mas não flui na direção do objeto. É quase como
estar apaixonado por si mesmo. Naturalmente, essa espécie de amor é muito mal
entendida e tais pessoas são consideradas muito frias. Mas elas não o são; o
sentimento está todo interiorizado. (...) O sentimento introvertido escondido
do tipo pensamento extrovertido cria fortes lealdades imperceptíveis. Tais
pessoas estão entre os amigos mais devotados, embora possam se comunicar apenas
no Natal. São absolutamente fiéis ao seu sentimento, mas o outro tem de
aproximar-se dele para conhecer a sua existência. (...) Enquanto o tipo
pensativo extrovertido ama profundamente a sua mulher, mas diz como Rilke
"Eu a amo, mas não é da sua conta", o sentimento do tipo pensativo
introvertido se vincula com objetos externos. Ele dirá, portanto, no estilo de
Rilke "Eu a amo e isso será da sua conta. Eu farei que seja". (...) (...)” (Von Franz, 1990: 41 – 43).
TIPO PENSAMENTO INTROVERTIDO que tem como
função inferior (inconsciente) o sentimento extrovertido:
“ A
principal atividade desse tipo não é tanto estabelecer ordem nos objetos
exteriores; está mais ligada com as ideias. Pertence ao tipo pensativo
introvertido alguém que diria que não se parte dos fatos, mas, primeiramente,
se esclarecem as ideias. O seu desejo de ordenar a vida se exterioriza pela ideia
de que, se alguém começar errado, jamais chegará a lugar algum. (...) Toda a
filosofia está preocupada com os processos lógicos da mente humana, com a
construção de ideias. Esse é o domínio em que o pensamento introvertido mais
atua. (...) O sentimento do tipo
pensativo introvertido é extrovertido. Ele tem a mesma espécie de sentimento
forte, leal e caloroso descrito como típico do tipo pensativo extrovertido, com
a diferença de que o sentimento do tipo pensativo introvertido flui na direção
de objetos definidos. (...) Muito facilmente o seu sentimento pode ser
envenenado por outras pessoas e pela atmosfera coletiva. O sentimento inferior
de ambos os tipos pensativos é pegajoso e o tipo pensativo extrovertido tem uma
espécie de lealdade imperceptível que pode durar eternamente. O mesmo se aplica
ao sentimento extrovertido do tipo pensativo introvertido, mas de maneira
perceptível. Ele se dedicará inteiramente ao outro, mas o seu amor será
primitivo (...)” (Von Franz, 1990: 43-44).
TIPO SENTIMENTO EXTROVERTIDO que tem como
função inferior (inconsciente) o pensamento introvertido:
“(...)
a sua principal adaptação é conduzida por uma adequada avaliação dos objetos
exteriores e por uma relação apropriada com eles. Por essa razão, esse tipo
fará amizades muito facilmente, terá poucas ilusões sobre as pessoas, mas será
capaz de avaliar os seus lados positivos e negativos de maneira adequada. São
pessoas bem ajustadas, muito razoáveis, que se envolvem amavelmente com o
mundo, conseguem o que querem muito facilmente e também conseguem, de alguma
forma, levar todos a lhes darem o que elas querem. Elas suavizam o ambiente tão
maravilhosamente que a vida transcorre com muita facilidade. Esse tipo é muito
frequentemente encontrado entre mulheres que de maneira geral têm uma vida
familiar muito feliz, entre muitos amigos. (...) As pessoas do tipo sentimental
extrovertido levam os que estão à sua volta a se sentirem maravilhosos e, em
meio a isso, circulam alegremente e criam um ambiente social agradável. (...) O
Tipo sentimental extrovertido não gosta de pensar, porque essa é a sua função
inferior e do que ele menos gosta é do pensamento introvertido — pensar sobre
princípios filosóficos, abstrações ou questões básicas da vida. Essas questões
mais profundas são cuidadosamente evitadas e eles consideram que pensar sobre
tais problemas é entregar-se à melancolia. O ponto difícil é que pensam sobre
tais coisas, mas não estão cientes disso e, como é negligenciado, o seu
pensamento tende a tornar-se negativo e rude. Geralmente este consiste em julgamentos
grosseiros e primitivos, sem a mais leve diferenciação, e, muitas vezes, de tom
negativo. Percebi também no tipo sentimental extrovertido pensamentos muito
negativos e críticos a respeito de pessoas que o rodeiam. (...) O efeito disso
é que o tipo sentimental extrovertido naturalmente odeia estar sozinho -
momento em que tais pensamentos negativos podem surgir. Então, assim que
percebe um ou dois desses pensamentos, ele rapidamente liga o rádio ou corre
para fora para encontrar outras pessoas. Ele jamais tem tempo para pensar! Mas
organiza cuidadosamente sua vida dessa forma (...)” (Von Franz, 1990: 46-47).
TIPO SENTIMENTO INTROVERTIDO que tem como a
função inferior (inconsciente) o pensamento extrovertido:
Este
tipo tem “ (...) a característica de se adaptar à vida, especialmente através
do sentimento, porém de maneira introvertida. É um tipo muito difícil de ser
entendido. Jung, nos Psychological Types, afirma que a expressão "as águas
paradas correm no fundo" se aplica a esse tipo. Pessoas desse tipo têm uma
escala altamente diferenciada de valores, mas não os expressam exteriormente; são
afetadas por eles no íntimo. É frequente achar-se o tipo sentimental
introvertido nos bastidores de acontecimentos importantes e valiosos, como se o
seu sentimento introvertido lhes tivesse dito "o importante está
aqui". Com uma espécie de lealdade silenciosa e sem nenhuma explicação,
eles surgem em lugares onde valiosos e importantes fatos interiores,
constelações arquetípicas, são encontrados. Exercem também uma secreta
influência positiva à sua volta, estabelecendo padrões. Os outros os observam
e, embora não digam nada porque são muito introvertidos para se expressarem
muito, eles estabelecem padrões. Assim, por exemplo, o tipo sentimental
introvertido muito frequentemente forma a base ética de um grupo: Sem irritar
os outros com a pregação de preceitos morais ou éticos, ele próprio tem padrões
éticos tão corretos que emanam secretamente uma influência positiva sobre
aqueles que estão à sua volta; as pessoas têm de se comportar corretamente
porque o tipo sentimental introvertido possui a espécie correta de padrão de
valores, o que, sugestivamente, sempre força as pessoas a serem decentes se
eles estão presentes. (...) O pensamento desse tipo é extrovertido. Em chocante
contraste com a sua aparência externa impassível e silenciosa, essas pessoas
geralmente se interessam por um grande número de fatos exteriores. A sua
personalidade consciente não se movimenta muito. Elas tendem a se acomodar. Mas
o seu pensamento extrovertido vagueia sobre uma imensa série de fatos externos.
Se querem usar o seu pensamento extrovertido de maneira criativa, elas têm a
dificuldade costumeira dos extrovertidos de se afligirem pelo excesso de
material, de referências e de fatos, razão por que o seu pensamento
extrovertido inferior algumas vezes se perde num pantanal de detalhes, não
conseguindo mais encontrar a saída. A inferioridade do seu pensamento
extrovertido muito frequentemente se expressa numa monomania; na realidade,
eles têm apenas um ou dois pensamentos a partir dos quais produzem uma enorme
quantidade de material (...)” (Von Franz, 1990: 49-50).
Os 4 tipos Irracionais
TIPO INTUITIVO EXTROVERTIDO que tem como
função inferior (inconsciente) a sensação extrovertida:
“A
intuição é uma função através da qual nós imaginamos possibilidades. (...) Essas
são as possibilidades futuras, os germes do que pode vir a acontecer. A
intuição é, portanto, a capacidade de intuir o que ainda não é visível,
possibilidades futuras ou potencialidades ainda não realizadas. O tipo
intuitivo extrovertido aplica essa capacidade ao mundo exterior e, consequentemente,
alcançará um nível muito alto em perceber futuros desenvolvimentos exteriores
ao seu redor. Tais tipos são com muita frequência encontrados entre homens de
negócios. São empresários que têm a audácia de produzir e comercializar novas
invenções. Encontramo-los entre jornalistas e, muitas vezes, entre editores: eles
sabem o que será popular no ano que vem. Apresentarão algo que ainda não está na
moda, mas que em breve estará: eles serão os primeiros a pô-lo no mercado. Os
corretores de valores também têm uma certa habilidade em prever a alta de
determinada ação, se o mercado estará em alta ou em baixa, e ganham dinheiro a partir
disso. (...) Eles estarão sempre na frente. É geralmente o artista criativo que
gera o futuro. Uma civilização que não tem pessoas criativas está destinada à
ruína. (...) Para funcionar, a intuição precisa olhar as coisas de longe ou de
modo vago, a fim de captar um certo pressentimento vindo do inconsciente,
semicerrar os olhos e não olhar os fatos muito de perto. Se se olhar com muita
precisão para as coisas, o foco serão os fatos e o pressentimento não surgirá.
É por isso que os intuitivos tendem a ser imprecisos e vagos. A desvantagem de
ter a intuição como função principal é que o tipo intuitivo semeia, mas
raramente colhe. (...) O intuitivo extrovertido tende a não cuidar do seu corpo
e das suas necessidades físicas: ele simplesmente não sabe ou não percebe
quando está cansado. É preciso um esgotamento para mostrar-lhe o seu estado.
Ele também não percebe quando está com fome. (...) A sensação inferior, como
todas as funções inferiores, é em tais pessoas lenta, pesada e carregada de
emoção. (...) Pode-se observar muito claramente que, mesmo que a função
inferior apareça externamente, num cavalo, por exemplo, há nela, é claro, um
significado simbólico. Cuidar do cavalo (...) é cuidar do próprio lado físico e
instintivo: o cavalo (...) a primeira personificação do inconsciente coletivo
impessoal. É importante para um tipo intuitivo fazer isso concreta e muito
lentamente, não exclamando de pronto: "Oh, o cavalo é um símbolo do
inconsciente", etc. Ele deve ater-se ao cavalo real e cuidar dele apesar
de saber que é um símbolo” (Von Franz, 1990 – 34-35).
TIPO INTUITIVO INTROVERTIDO que tem como a
função inferior (inconsciente) sensação extrovertida:
“ O
tipo intuitivo introvertido tem a mesma capacidade do intuitivo extrovertido no
sentido de pressentir o futuro, fazendo as conjeturas ou as premonições certas
sobre as possibilidades futuras, ainda não vistas, de uma situação. Contudo, a
sua intuição é voltada para dentro e ele é primariamente o tipo do profeta
religioso, o tipo do vidente. Num nível primitivo, ele é o xamã que sabe o que
os deuses, os espectros e os espíritos ancestrais estão planejando e que
transmite as suas mensagens à tribo. Na linguagem psicológica, poderíamos dizer
que ele conhece os lentos processos que ocorrem no inconsciente coletivo, as
mudanças arquetípicas, e que os comunica à sociedade. (...) O povo em geral não
gostava de ouvir essas mensagens. Há muitos intuitivos introvertidos entre os
artistas e poetas. Geralmente são artistas que produzem um material bem
arquetípico e fantástico tais como os de Thus Spake Zarathustra, de
Nietzsche, de The Golen, de Gustav Meyrick, e de The Other Side, de Kubin. Essa
espécie de arte visionária geralmente só é entendida pelas gerações posteriores
como representação do que ocorria no inconsciente coletivo da época. (...) A
sensação inferior desse tipo tem também dificuldades em perceber as
necessidades do corpo e em controlar os seus apetites. (...) O intuitivo
introvertido, da mesma forma que o intuitivo extrovertido, sofre de tremenda
imprecisão no tocante a fatos. (...) O intuitivo introvertido frequentemente é
tão inconsciente no que diz respeito a fatos externos que os seus relatos têm
de ser tratados com o maior cuidado. Assim, embora não minta conscientemente,
ele pode contar as mais espantosas mentiras simplesmente porque não percebe o
que está bem à sua frente (...) (Von Franz, 1990: 38-9).
TIPO SENSAÇÃO (Perceptivo) EXTROVERTIDA que
tem como função inferior (inconsciente) a intuição introvertida:
“O
tipo perceptivo extrovertido é representado por alguém cujo dom e função
especializada é sentir e relacionar-se com os objetos externos de uma forma
concreta e prática. Esses indivíduos observam todas as coisas, cheiram tudo e,
ao entrarem num ambiente, percebem quase que imediatamente quantas pessoas
estão presentes. Além disso, eles notam se a sra. fulano de tal estava lá e o
que estava vestindo. Se se fizer essa indagação a um intuitivo, ele dirá que
não percebeu e que não tem a mínima ideia a respeito da sua roupa. O tipo
perceptivo é um mestre em perceber detalhes. (...) É por isso que esse tipo é encontrado
entre bons montanhistas, engenheiros e homens de negócio, que têm uma imensa e
exata consciência da realidade externa em todas as suas diferenciações. Esse
tipo percebe a textura das coisas (...). A intuição também está completamente
ausente, sendo para ele o reino das loucas fantasias. O tipo perceptivo
extrovertido chama todas as coisas que se aproximam da intuição de
"fantasia doida", imaginação completamente idiota, algo que não tem
nada que ver com a realidade. Ele pode até não gostar do pensamento, pois, se
for muito unilateral, considerará que pensar é entrar no abstrato em lugar de
ater-se aos fatos. (...) Para esse tipo, todas as coisas que possam representar
um pressentimento ou uma adivinhação aparecem sob forma desagradável. Se tal
pessoa tiver intuições, estas serão de natureza suspeita e grotesca. (...) O
que esse tipo de pessoa intui é comumente uma expressão do seu problema
pessoal. Outro aspecto da intuição inferior do tipo sensação extrovertido é uma
repentina atração por antroposofia ou por alguma outra mistura de metafísica
oriental, em geral de tipo bem transcendental. (...) A nação americana tem um
grande número de tipos sensitivos extrovertidos e é por isso que tais
movimentos estranhos florescem especialmente bem nos Estados Unidos, num grau
maior do que na Suíça. Em Los Angeles, podem-se encontrar quase todas as
espécies de seitas fantásticas (...) ” (Von Franz, 1990: 29-31).
TIPO SENSAÇÃO INTROVERTIDA que tem como
função inferior (inconsciente) a intuição extrovertida:
“ Nunca
esquecerei o depoimento dado pela Sra. Jung. Somente após tê-la ouvido é que senti
haver entendido o tipo perceptivo introvertido. Fazendo a descrição de si
mesma, ela disse que o tipo perceptivo introvertido era como uma chapa
fotográfica, altamente sensível. Esse
tipo,
quando alguém entra numa sala, percebe o modo como a pessoa entra, o cabelo, a
expressão do rosto, as roupas e a maneira de caminhar. Tudo isso dá uma impressão
muito precisa do tipo perceptivo introvertido; cada detalhe é absorvido. A impressão
vem do objeto para o sujeito; é como se uma pedra caísse em águas profundas — a
impressão cai mais fundo, mais fundo, e afunda. Por fora, esse tipo mostra-se
totalmente estúpido. Ele apenas se senta e olha, e não se sabe o que está acontecendo
dentro dele. Fica parecido com um pedaço de madeira, sem nenhuma reação — a não
ser que reaja através de uma das funções auxiliares: pensamento ou sentimento.
Porém, interiormente, a impressão está sendo absorvida. O tipo perceptivo
introvertido, portanto, dá a impressão de ser muito lento, o que não é verdade.
O que acontece é que a reação interna, que é rápida, caminha por baixo, e a
reação externa se exterioriza de maneira atrasada. Assim é o jeito dessas pessoas;
se lhes contamos uma piada pela manhã, provavelmente só irão rir à meia noite. Esse
tipo muitas vezes é mal interpretado e mal entendido pelos outros, porque não
se compreende o que acontece com ele. Se conseguir expressar as suas impressões
fotográficas artisticamente, eles poderão reproduzi-las através de pinturas ou
por escrito. (...) A intuição inferior desse tipo é semelhante à do tipo
perceptivo extrovertido, pois também apresenta características muito
misteriosas, assustadoras e fantásticas. Contudo, ela é mais preocupada com o
mundo exterior coletivo e impessoal. (...) Vi num tipo perceptivo introvertido
um material que eu consideraria muito profético, fantasias arquetípicas que não
representam essencialmente o problema do sonhador, mas o do seu tempo. (..) Como
Jung certa vez observou: para eles o futuro não existe, as possibilidades futuras
não contam, eles estão no aqui e agora e há uma cortina de ferro na sua frente.
Eles acreditam no curso da vida como se ele se mantivesse sempre o mesmo, sendo
incapazes de perceber que as coisas podem mudar. (...) Mas a intuição inferior
é primitiva e o tipo perceptivo ou nos surpreende atingindo o alvo, o que é de
se admirar, ou
então irrompe com pressentimentos nos quais não há nenhuma verdade (...)” (Von
Franz, 1990: 27-8).