Papai, você me ama?
Mônica Clemente (Manika)
Mesmo quando eu acordo chorando pela minha mãe antes
do Sol nascer?
Ou quando eu sinto raiva dos seus medos, graças às
minhas falsas certezas de que só as mães temem pelos seus filhos e um gigante
não pode ter sentimentos?
E se eu não perdoar a sua desistência em me salvar
das garras de algum ogro terrível, porque eu não tenho noção de que se você
tentar eu serei rachada ao meio?
Ainda assim, você me ama?
Eu achava que essa desistência era desinteresse ou
ausência, ao invés da proteção que sempre foi.
Eu não sou uma herança que pode ser dividida, né,
papai?
E se eu agir como os três porquinhos, erguendo muros
cada vez mais resistentes contra você?
Ou pior! Se eu confundir você com os dragões que
atrapalham a nossa relação, você continua com os braços abertos para mim?
Não é assim que os filhos nascem para os pais,
correndo para eles?
Me diz, papai?
Enquanto você me espera, como tem sido ser a Luz da
Lua Plena*, sem ser visto durante anos até um novo amanhecer?
Sem que seus esforços sejam reconhecidos pelos seus
filhos por tanto tempo?
Só agora eu percebo que a gravidez de um pai é muito
mais longa. E que em sua espera ele gera pontes, mesmo sabendo que alguns dos
seus filhos não a atravessarão.
Mesmo que não escutem o seu amor. Aquele que me
guiou muito antes de eu nascer:
“Minha filha, você se importa se eu sempre amar
você?”
E ainda que fosse ao contrário, papai, e você não
tivesse conseguido virar um bom pai para mim, é meu direito dizer:
Papai, você se importa se eu sempre amar você?
Mônica Clemente (Manika)
@manika_constelandocomafonte
———
*Lua
Cheia - o Sol e a Lua estão em oposição, com a Luz do Sol iluminando
toda a Lua, sem poder ser visto durante a noite.
Ilustração
Snezhana Soosh
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