19 de dez. de 2023

571) Godless e o Caminho para o Pai

 

A divulgação da minissérie Godless diz: "bem-vindo a uma terra sem homem", como se ela fosse a cidade das amazonas. O problema é que o roteirista e diretor Frank Scott, esqueceu de desenvolver as personagens femininas como desenvolveu os personagens masculinos.

A Minissérie Godless e a Jornada para o Pai

Mônica Clemente (Manika)

Venderam gato por lebre em Godless,
mas vale à pena ver os símbolos da jornada para o pai
e o papel das mulheres no caminho.

        Godless é uma minissérie de faroeste feminino? 

        Se fosse verdade, uma das mulheres seria a protagonista. O protagonista é aquele que tem a ordenação da sua vida impactada por um evento que o levará a uma jornada de transformação até o estabelecimento de uma nova ordem. O nome desta trajetória é “arco dramático”.  

        É verdade que o roteiro da minissérie deu a La Belle, uma cidade construída por viúvas de mineradores., o status de personagem feminina principal, tendo a sua vida impactada até o grande desfecho final. No entanto, as mulheres que a mantêm viva, sendo sua voz e personalidade, não receberam o tratamento certo, dramaturgicamente falando, para tanto. Desta forma, em Godless (Sem Deus), os únicos personagens com arco dramático,  profundidade e texturas são Roy Goode, que acaba sendo o protagonista, e o Xerife McNue. 

        Então, do que se trata Godless? (Tem spoiler) 

De uma cidade considerada vulnerável pelos homens que chegam lá ou que a cobiçam. E de um homem que se rebela contra um bandido que o trata como um “filho”, depois que o irmão mais velho o abandona no orfanato da freira Lucy (Luz). 

        A partir daí, o herói busca a sua verdadeira história, causando danos por onde passa, o que de fato acontece quando uma pessoa não se conhece e tem a infelicidade de ser desorientada pelo caminho.  Sem querer, Roy também traz o inferno para La Belle (A Beleza - outro nome, arquetipicamente falando, das mulheres), na qual a maioria dos homens morreram soterrados em um acidente na mina. 

        Infelizmente, não é só desta vez que os bons homens da série estão mortos embaixo da terra, simbolizando a desconexão do protagonista e das mulheres com o mundo masculino. Em alguns mitos, o herói ou heroína, literalmente vão para o mundo subterrâneo em busca do amado para tentar trazê-lo à vida. Esta passagem mitológica pode ser interpretada como um processo de integração das forças inconscientes do herói para que ele possa com-seguir a sua jornada.  Exatamente o que faz Roy em dois momentos do seriado, ao desenterrar o caixão do seu pai, colocando as suas roupas. E, depois, se vestindo com as roupas do marido morto de Alice Fletcher, com as quais ensinou seu filho coisas que o seu bom pai falecido ensinaria. 

        Quando a clássica luta do faroeste acontece, as viúvas abandonadas por todos os homens, menos um adolescente, lutam contra o bando do pai postiço e vingativo de Roy, sem nem saberem o porquê. Será mesmo que as mulheres de La Belle estavam tão inconscientes do que as ameaçavam todos os dias? E foi a chegada de um menino tentando virar homem (Roy) que as fizeram tomar consciência dos seus desafios? 

        Seria isso mesmo, se as personagens tivessem sido mais bem construídas dramaturgicamente ao longo dos 7 episódios da série. Como não aconteceu isso, a grande luta final passa a ser a cena da transformação de Roy Goode, até então inconsciente do caminho a seguir (ele não sabia ler a carta do seu irmão mais velho) para virar um homem adulto. 

        A partir da sua vitória, ele vence a desorientação e não é mais um inimigo inconsciente delas, deixando La Belle livre de homens terríveis, que um dia ele mesmo foi. Além de ter sido ajudado por elas como acontece todos os dias com todo o mundo, reconhecendo isso ou não. No caso, ele reconheceu.

GODLESS. Diretor: Scott Frank. EUA, Scott et. al., 2017. Streaming.

Mônica Clemente (Manika)
@manika_constelandocomafonte 

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