14 de ago. de 2023

558) A Jornada Mitológica do Pai

 

A Jornada Mitológica do Arquétipo do Pai
Mônica Clemente (Manika) 

Há vários estágios nos quais os homens experimentam, consciente ou inconscientemente o arquétipo do pai em suas vidas. E todos estes estágios, sejam conscientes ou inconscientes, afetam as suas mulheres e filhos de diversas maneiras.

A Jornada Psíquica pelos estágios do Pai, arquetipicamente falando, até o seu papai que criou você, podem ser vistas em alguns mitos gregos. São eles, de acordo com o analista Durval Luiz de Faria (2006): os mitos de URANO, CRONOS, ZEUS, CÉFISO, DÉDALO.

Baseada no texto do analista,
seguem seus desdobramentos nas dinâmicas familiares que vemos nas Constelações Familiares:

URANO, O PAI INCONSCIENTE 

Segundo Durval (2006), o pai, na mitologia grega, começa com as sementes de Urano fertilizando Geia, sem perceber a sua participação na criação dos seus filhos. O gozo que não se responsabiliza pelo gozo (Cavalcanti, 1995 in Durval, 2006), acaba cansando aquela que cuida dos filhos sozinha.

Geia, então, se une ao seu filho Cronos que castra a fertilização desenfreada e inconsciente do pai matriarcal: o pai que não desenvolveu a percepção da sua paternidade, nem da sua importância para geração e cuidado da vida (Durval, 2006).

Na vida real, um homem identificado com o mito de Urano, se torna pai biológico, sem que desperte nele a responsabilidade pelos cuidados e afetos da mulher e do filho. Assim como não sente nenhum remorso, até que a “raiva” da família abandonada o “castre” em eventos difíceis nas futuras gerações.

Ou, até que a mãe e os filhos abandonados, que vieram antes da nova família, sejam vistos, reverenciados e incluídos por ela, como vemos nas Constelações Familiares.

Se, ao ler isso alguém sentiu raiva, é isso mesmo. Um pai Urano não assume responsabilidades, nem na solução dos seus atos, porque está em estágio muito inconsciente, deixando toda a responsabilidade para a mãe.

Esta atitude pode estar no inconsciente dos filhos em relação ao pai ou na mulher que não possibilita a entrada do pai na vida dos filhos, mesmo que o pai esteja disponível nos dois casos. 

CRONOS, A ESFERA DO PAI 

Cronos, filho de Urano e Geia, inaugura a consciência do homem para a esfera do pai, ao separar o mundo masculino do mundo feminino quando castra, simbolicamente falando, seu pai invisível e ausente. Ao dar o limite, o contorno do pai e do seu mundo (esfera), aparecem sem ainda se conectarem intimamente com seus filhos, a não ser pela ordem, pelo tempo, pelas limitações, boas ou não.

Nesta fase, o homem toma consciência da sua importância na criação da vida e da criação do mundo da paternidade (Durval, 2006), que não é a mesma coisa que parentalidade: a capacidade de cuidar de uma criança.

No entanto, ele engole seus filhos, sem deixar acesso para o mundo feminino, que representa a antiga fase, na qual a natureza, os sentimentos e as noções sofisticadas sobre os vínculos em ser humano e mundo coexistem. As regras, o tempo, a razão desprovida de coração, a cultura, a moral acabam sobrepujando a percepção da importância do mundo feminino. (Durval, 2006).

Aqui, portanto, a mulher não tem valor, a não ser como matriz. E todos seus esforços e força não são vistos. Para compensar este desequilíbrio, Zeus filho de Réia e Cronos, se une à mãe, novamente, e toma o reinado do pai.

Como nas brigas por heranças, por exemplo, principalmente quando as filhas são excluídas. Como nas mulheres, que trabalham arduamente e não colhem os frutos do seu trabalho porque aprenderam que não têm valor.  Como nos homens enfadonhos que perderam seu Eros. Sendo que muitos deles acham que trocar de mulher ou castrá-las vai resolver a sua falta de brilho nos olhos.  

Segundo Marie-Louise Von Franz (2003), o alcoolismo pode começar nesta fase, tanto no homem como na mulher. 

ZEUS, O PAI PODEROSO 

Zeus, filho de Crono e Reia, neto de Urano e Géia, divide a herança afirmando seu poder sobre seus irmãos. Sua jornada, parecida com a do avô, semeia muitos filhos. E, ao contrário dele, percebe o amor que o une às suas mulheres e filhos.

Muitas vezes, ele também gesta seus rebentos em seu próprio corpo, como aconteceu com Dionisio e Atena, porque achou que as mães deles colocariam seu poder em risco. No entanto, ele assume mais as suas responsabilidades como pai porque sabe, conscientemente, que o seu gozo o engravida também. Neste sentido, como diz Durval (2006), um pai neste estágio assume responsabilidades sobre o cuidado dos seus filhos, como também sabe que é pai. De qualquer maneira, ele prefere o poder e conquistas, confundindo a paternidade e as suas relações com isso.

Um pai estabelecido nesta “consciência”, portanto, cumpre seus deveres materiais, embora seus filhos convivam com um pai que trabalha muito e realmente não gosta da convivência familiar. 

DÉDALOS, O PAI IMPERFEITO  

Dédalos, um grande inventor, é um pai inteligente que ajuda o seu filho Ícaro a fugir do labirinto, que ele mesmo criou para prender o Minotauro. Para isso, lhe faz asas de cera e o alerta para não voar para perto do Sol, ensinando, assim, sobre os perigos da arrogância intelectual e espiritual.

Se por um lado este pai ama, cuida e orienta bem seus filhos, quando lhe dá asas para ir além das suas neuroses, mantendo uma relação amorosa e intima com eles, por outro não é um exemplo a ser seguido, afinal, foi ele mesmo quem criou os problemas que agora os filhos enfrentam (Durval, 2006).

De qualquer maneira, sua imperfeição ensina algo muito valioso para os filhos: os pais não precisam ser perfeitos para serem amados. A não ser que os filhos se tornem tão exigentes com seus pais, a ponto de avoarem para bem perto do Sol, com asas de cera. 

 SEU PAI

Graças às imperfeições, finalmente, um homem de carne e osso encontra uma mulher de carne e osso e os dois podem se tornar pais. Pais de um filho que pode acessá-los, porque não queimam como o Sol.

Na vida real, esse pai, mesmo preso em alguma das esferas dos mitos, é o certo para os seus filhos. Não porque ele acertou 100%, mas porque é o seu papai! 

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA 

FARIA, Durval Luiz. Imagens no Pai na Mitologia.  Psic. Rev. São Paulo, n. 15(1): 45-58, maio 2006. https://revistas.pucsp.br/psicorevista/article/download/18095/13451/0, acesso 12/08/2023 

VON FRANZ, Marie-Louise. O Gato: um conto de redenção do feminino. São Paulo: Paulus 2003. 

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Mônica Clemente (Manika)
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@manika_constelandocomafonte 

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