O Beijo e o Amor
Tem um ensinamento tibetano que diz que duas pessoas com raiva
gritam porque seus corações se afastaram.
É como se estivessem em penhascos diferentes e a
única forma de ver e se fazer ver de novo é no grito.
Já com o amor é ao contrário: os corações estão
juntos a ponto de fazerem as bocas silenciarem no beijo.
Às vezes, no entanto, achamos que falar tudo o que sentimos
e pensamos garante a própria saúde e a saúde da relação. Confundindo “falar”
com comunicação.
Desconsiderando o fato de que pode haver cobranças,
críticas, acusações, projeções e desabafos numa simples conversa, que vão
minando a aproximação do coração.
A DR (discutir a relação), então, se mal-feita,
piora tudo.
E para coroar os mal-entendidos, vamos buscar
conselhos de amigos, abrindo a intimidade do casal para a livre interpretação
de terceiros. Mais vozes no caminho. Ecos entre as montanhas que nos separarão.
Então devemos nos calar totalmente?
Não!
Falar tudo o que sentimos e pensamos é necessário
para o autoconhecimento e saúde mental, se fazemos isso num diário e,
principalmente, se estamos com um terapeuta capaz de analisar nosso
inconsciente a partir do que foi falado.
Nesta hora descobriremos, em nós mesmos, camadas de
amor cobertas com alfinetadas. E de ódio precisando de amor.
Na relação de casal (qualquer relação, na verdade),
precisamos aprender a difícil arte de nos comunicar (diferente de
falar).
Porque esta arte lida, no mínimo, com duas pessoas
incapazes de prever e controlar o que criarão juntas. E impotentes para atender
expectativas.
Logo, o caminho de aproximação, por meio da
comunicação, é uma construção. E se não estamos felizes com ela, ainda existe a
terapia de casal.
Assim, aprendemos a arte de escutar com
discernimento, mas sem julgar, a expressar o amor, o que não se quer, o que se
precisa, o que faz feliz, o que se sente e o que calar, sem perder de vista o
continente do beijo.
Mônica Clemente (Manika)
Quadro: O Beijo - Gustav Klimt
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