Pedir desculpas não é suficiente
Mônica Clemente (Manika)
A melhor maneira de pedir desculpas é mudar o comportamento,
mas em muitos filmes se vê esta frase sem sentido: “eu já pedi desculpas”, como
se ela fosse o suficiente e a vítima uma insensível.
Como se a culpa, muitas vezes insuportável de se sustentar, não
fizesse o culpado projetar sua responsabilidade sobre outra pessoa através
daquela frase. Como se ela, a culpa, não atuasse como um escudo que o protege e
o impede de olhar para a vítima.
Na vida real, estas estratégias se sustentam na esperança do
culpado voltar a ser inocente.
Vou dar um exemplo: uma pessoa trai seu
companheiro/a e, não aguentando mais a culpa, conta o que fez, como se isso, de
machucar mais um pouquinho, restabelecesse a confiança dentro do
relacionamento.
A pessoa traída explode, porque além de lidar com a sua dor,
agora precisa dividir o fardo do companheiro. Nesta hora, o culpado diz: “eu já
pedi desculpas mil vezes!”, como se dissesse, “tire a culpa de
mim!“ (Des - Culpe - Me).
Isso não basta. Aliás, isso piora as coisas. Uma quebra de
confiança não se cura rapidamente, muito menos com confissões de traição com a
agenda secreta de dividir o peso da culpa e voltar a um estado que não existe
mais.
Por outro lado, também não há solução quando o parceiro traído
exige esta sinceridade do companheiro, como se ela restaurasse a inocência da
relação.
Uma possível estratégia, no entanto, seria dizer: “Eu sinto
muito! Vou fazer algo de bom para compensar o que fiz”.
No caso da traição, uma boa compensação seria começar tratar a
pessoa traída muito melhor do que jamais a tratou. Isto não significa mandar
flores e comprar joias, mantendo os casos extraconjugais, mas sim mudar o comportamento
e tratar melhor o parceiro/a.
Se a pessoa traída aceitar a compensação, ainda deve ficar
atenta para outra armadilha dentro dela mesma: algumas vítimas passam a se sentir
melhores do que seus algozes, sem dar-lhes uma chance de fazer uma reparação de
fato. Neste caso, especificamente, Bert Hellinger disse:
“Uma
pessoa contra a qual foi cometido tanto mal sente-se no direito de rejeitar a
parceira, como se não precisasse dela. Contudo, contra tal inocência o culpado
não tem chances” (Amor do Espírito, 2012: 22)
Eu não sei se esta compreensão pode ajudar a força de uma
relação a cicatrizar suas feridas. Só sei que a culpa é mais eficaz quando
usada para nos melhorar do que como uma máquina do tempo.
Mônica Clemente (Manika)
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