O Farol de Setembro
Uma Fábula sobre o vício e o pertencimento
Mônica Clemente (Manika)
Havia um farol que só aparecia em setembro, ao
contrário do resto do ano, quando era um fantasma esquecido nos mares daquela
gente. Durante décadas, milhares de peregrinos passavam por lá para ver a
aparição do monumento. Nos meses seguintes, porém, o povoado bebia a sua falta,
sem saber que eles mesmos desapareciam com ele.
Como em todo vício, havia um desejo esquecido naquela gente.
Tomar o que faltava, mesmo sem saber o que era. E assim, tateavam com a bebida
as memórias proibidas de um pai excluído. Viciavam suas células com doçuras, no
lugar das terras ancestrais perdidas. Botavam para dormir a raiva de alguma
bisavó morta, ainda jovem, na guerra. Tomavam e tomavam mil vezes algo
que substituísse quem realmente pertencia, sem saberem quem era.
Todo mês de setembro o Farol aparecia e a procissão o saudava
com se ele fosse um deus. Suas fotos e estatuetas eram colocadas em
alteres dentro de casa, onde, normalmente, se colocaria a foto de um santo,
onde, normalmente, se colocaria a foto da mãe negligenciada. Como não lembravam
quem ou o que estava excluído, a foto do monumento caía bem.
Se, ao menos, os fiéis pudessem decifrar a pergunta dos
próprios anseios, reprimidos… o que para mim foi proibido, mas é essencial?
Quem de fato eu bebo?
Dizem, que só um dos moradores daquele templo perdido dissipou a
neblina que cobria a aparição. O louco, como o chamavam, jurava que via o
farol o ano inteiro, saudando o elo perdido com algo vital que sempre esteve
lá. Alguns tentaram o mesmo e começaram a enxergar. À medida que viam, voltavam
para suas famílias e não desapareciam mais.
Mônica Clemente (Manika)
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