Segundo Aristóteles, “a dúvida é o princípio da sabedoria”.
No entanto, muitas pessoas lutam contra suas dúvidas como se elas fossem
demoníacas.
Ligar a dúvida a uma
entidade diabólica tem uma razão inconsciente ligada à algumas narrativas
mitológicas. Então vamos falar da dúvida por meio da tomada de decisão no mito
de Eros e Psique.
Em sua última tarefa para reconquistar Eros, Psique dá uma moeda
para o barqueiro Caronte levá-la até o mundo de Hades. Lá, ela deve pegar a
caixinha da beleza eterna com a Perséfone e entregar para Afrodite, sem tocar
no creme. No entanto, ela passa a magia em seu rosto e reencontra Eros.
Caronte, aqui, simboliza a função do psiquismo que gera símbolos
de transformação, que Jung chama de função transcendente, lembrando que “para
aqueles que possuem o símbolo, a travessia é fácil” (Von Franz, 2014:173).
Ou seja, é mais fácil renascer das nossas crises se temos o
suporte simbólico. Se você já fez terapia e uma palavra lhe atingiu
em cheio, abrindo vários compartimentos de compreensão, então sabe como atuam
os símbolos.
A moeda que Psique paga para a travessia significa a sua libido
empregada na jornada de morte e renascimento: a escolha pela transformação. A
neurose, neste caso, seria segurar a libido, aniquilando a possibilidade de
reencontrar Eros (o novo sentido de vida que veio buscar Psique por meio da
crise com Eros).
Porém, “antes de falhar em sua última tarefa”, Psique se depara
com o demônio Ocno trançando opostos. Ora ele tece a Noite com o Dia, o
positivo com o negativo, a luz com as sombras. Essas torções de opostos
revelam a fisiologia das decisões: quem decide algo sempre arca com o outro
lado do que decidiu.
Ao saber disso, Psique não teve mais medo de seguir seu coração.
Por isso burlou a última tarefa, sendo fiel ao seu feminino e não às ordens de
Afrodite.
Assim, fica claro que não há caminhos sem tropeços. Há o seu
caminho.
Por isso, “que vá para o diabo se isto
parece ambíguo. Vou agir de acordo como estou sentindo e estarei pronto e
disposto a pagar pelas consequências, pois qualquer coisa que eu fizer será
mesmo metade errada.” (Von Franz, 2014:177)
A fisiologia de toda decisão, no entanto, leva a dois tipos de
dúvidas: a que cozinha e a do coração.
Até aqui falamos da dúvida que toca o ambíguo, que precisa ser
bancado antes de se poder seguir a voz do coração. O outro tipo de dúvida
não tem a ver com tranças.
Ela é uma panela de pressão
que vai nos cozinhar por algum tempo, até um novo eu nascer nos tirando da
confusão.
Se você não consegue tomar nenhuma decisão é porque está sendo
cozido/a. Se você pode tomar uma decisão, mas tem medo de errar, então ouça o seu
coração, porque qualquer dos caminhos terá pedras para carregar, mas o seu
caminho tem as flores que você veio plantar.
Mônica Clemente (Manika)
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