8 de fev. de 2022

419) A Fisiologia das Decições

 



Segundo Aristóteles, “a dúvida é o princípio da sabedoria”. No entanto, muitas pessoas lutam contra suas dúvidas como se elas fossem demoníacas.

 

 Ligar a dúvida a uma entidade diabólica tem uma razão inconsciente ligada à algumas narrativas mitológicas. Então vamos falar da dúvida por meio da tomada de decisão no mito de Eros e Psique.

 

Em sua última tarefa para reconquistar Eros, Psique dá uma moeda para o barqueiro Caronte levá-la até o mundo de Hades. Lá, ela deve pegar a caixinha da beleza eterna com a Perséfone e entregar para Afrodite, sem tocar no creme. No entanto, ela passa a magia em seu rosto e reencontra Eros.

 

Caronte, aqui, simboliza a função do psiquismo que gera símbolos de transformação, que Jung chama de função transcendente, lembrando que “para aqueles que possuem o símbolo, a travessia é fácil” (Von Franz, 2014:173).

 

Ou seja, é mais fácil renascer das nossas crises se temos o suporte simbólico.  Se você já fez terapia e uma palavra lhe atingiu em cheio, abrindo vários compartimentos de compreensão, então sabe como atuam os símbolos.

 

A moeda que Psique paga para a travessia significa a sua libido empregada na jornada de morte e renascimento: a escolha pela transformação. A neurose, neste caso, seria segurar a libido, aniquilando a possibilidade de reencontrar Eros (o novo sentido de vida que veio buscar Psique por meio da crise com Eros).

 

Porém, “antes de falhar em sua última tarefa”, Psique se depara com o demônio Ocno trançando opostos. Ora ele tece a Noite com o Dia, o positivo com o negativo, a luz com as sombras.  Essas torções de opostos revelam a fisiologia das decisões: quem decide algo sempre arca com o outro lado do que decidiu. 


Ao saber disso, Psique não teve mais medo de seguir seu coração. Por isso burlou a última tarefa, sendo fiel ao seu feminino e não às ordens de Afrodite.

 

Assim, fica claro que não há caminhos sem tropeços. Há o seu caminho. 

 

Por isso, “que vá para o diabo se isto parece ambíguo. Vou agir de acordo como estou sentindo e estarei pronto e disposto a pagar pelas consequências, pois qualquer coisa que eu fizer será mesmo metade errada.” (Von Franz, 2014:177)

 

A fisiologia de toda decisão, no entanto, leva a dois tipos de dúvidas: a que cozinha e a do coração. 

 

Até aqui falamos da dúvida que toca o ambíguo, que precisa ser bancado antes de se poder seguir a voz do coração.  O outro tipo de dúvida não tem a ver com tranças.

 

 Ela é uma panela de pressão que vai nos cozinhar por algum tempo, até um novo eu nascer nos tirando da confusão. 

 

Se você não consegue tomar nenhuma decisão é porque está sendo cozido/a. Se você pode tomar uma decisão, mas tem medo de errar, então ouça o seu coração, porque qualquer dos caminhos terá pedras para carregar, mas o seu caminho tem as flores que você veio plantar.

 

Mônica Clemente (Manika)

 

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