Mônica Clemente
Há milênios, Milarepa pediu ajuda à esposa do seu mestre Marpa,
porque ele não cumpria o prometido. Por anos, o pupilo construiu 11 casas com a
esperança de receber a iniciação logo depois de cada uma das construções.
Então o mestre dizia: “mas eu não pedi uma casa
quadrada na montanha. Eu pedi uma casa redonda no vale.”
O que a esposa de Marpa não sabia, e por isso sua
ajuda foi em vão, é que Milarepa precisava dos revezes para se purificar, antes
de virar um dos santos mais venerados do budismo tibetano.
Ele havia matado os 12 assassinos de sua família.
Era preciso compensar seus atos com algo construtivo. O que Marpa seguiu
literalmente.
A impossibilidade de ajudar tem esta função. Como
escreveu Marie-Louise Von Franz:
“Jung
disse que uma situação em que não há saída, ou um conflito onde não há solução,
é o início clássico do processo de individuação.
A
situação é para ser sem solução mesmo: o inconsciente quer o conflito sem
esperança para colocar o ego-consciência contra a parede, para que uma
pessoa tenha que perceber que tudo o que ela faz é errado, seja qual for a
maneira que ela está errando.
É
para derrubar a superioridade do ego, que sempre age a partir da ilusão de que
ela tem a responsabilidade da decisão.
Naturalmente,
se ela pensa: "Está bem, então, eu vou deixar tudo como está sem tomar
nenhuma decisão, apenas deixando rolar e tentando escapar do problema”, é
igualmente errado, pois, naturalmente, nada acontecerá.
Mas,
se ela é ética o suficiente para sofrer até o centro de sua personalidade,
geralmente, por causa da insolubilidade da situação consciente, o Self se
manifesta.
Na
linguagem religiosa podemos dizer que a situação sem solução é destinada a
forçar a pessoa a confiar em um ato de Deus.
Na
linguagem psicológica, a situação sem solução, criada engenhosamente pela anima
na vida de um homem, é destinada a levá-lo a uma condição em que ele é capaz de
experimentar o Eu.
Quando
pensamos na anima como o guia da alma, estamos aptos a pensar em Beatriz
levando Dante até o Paraíso, mas não devemos esquecer que ele experimentou isso
só depois de ter passado pelo Inferno.
Normalmente,
a anima não pega um homem pela mão e o leva até o Paraíso; ela o coloca,
primeiro, em um caldeirão quente onde ele será bem cozido por um tempo”
Já imaginou o estrago, ou ineficácia, de um ajudante
fazendo as vezes da Alma? Ou o canto da sereia de um buscador ludibriando sua
iluminação?
É por isso que a arte da ajuda, segundo Hellinger,
consiste em saber se podemos ajudar, quando ajudar, como ajudar e até onde
ajudar.
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