2 de dez. de 2021

392) Milarepa, os Problemas Insolúveis e a Arte Da Ajuda

 

Milarepa, os Problemas Insolúveis e a Arte Da Ajuda

Mônica Clemente

 

Há milênios, Milarepa pediu ajuda à esposa do seu mestre Marpa, porque ele não cumpria o prometido. Por anos, o pupilo construiu 11 casas com a esperança de receber a iniciação logo depois de cada uma das construções.

 

Então o mestre dizia: “mas eu não pedi uma casa quadrada na montanha. Eu pedi uma casa redonda no vale.”

 

O que a esposa de Marpa não sabia, e por isso sua ajuda foi em vão, é que Milarepa precisava dos revezes para se purificar, antes de virar um dos santos mais venerados do budismo tibetano.

 

Ele havia matado os 12 assassinos de sua família. Era preciso compensar seus atos com algo construtivo. O que Marpa seguiu literalmente.

 

A impossibilidade de ajudar tem esta função. Como escreveu Marie-Louise Von Franz:

 

“Jung disse que uma situação em que não há saída, ou um conflito onde não há solução, é o início clássico do processo de individuação.

 

A situação é para ser sem solução mesmo: o inconsciente quer o conflito sem esperança para colocar o ego-consciência contra a parede, para que uma pessoa tenha que perceber que tudo o que ela faz é errado, seja qual for a maneira que ela está errando.

 

É para derrubar a superioridade do ego, que sempre age a partir da ilusão de que ela tem a responsabilidade da decisão.  

 

Naturalmente, se ela pensa: "Está bem, então, eu vou deixar tudo como está sem tomar nenhuma decisão, apenas deixando rolar e tentando escapar do problema”, é igualmente errado, pois, naturalmente, nada acontecerá.

 

Mas, se ela é ética o suficiente para sofrer até o centro de sua personalidade, geralmente, por causa da insolubilidade da situação consciente, o Self se manifesta.

 

Na linguagem religiosa podemos dizer que a situação sem solução é destinada a forçar a pessoa a confiar em um ato de Deus.

 

Na linguagem psicológica, a situação sem solução, criada engenhosamente pela anima na vida de um homem, é destinada a levá-lo a uma condição em que ele é capaz de experimentar o Eu.  

 

Quando pensamos na anima como o guia da alma, estamos aptos a pensar em Beatriz levando Dante até o Paraíso, mas não devemos esquecer que ele experimentou isso só depois de ter passado pelo Inferno.

 

Normalmente, a anima não pega um homem pela mão e o leva até o Paraíso; ela o coloca, primeiro, em um caldeirão quente onde ele será bem cozido por um tempo” 

 

Já imaginou o estrago, ou ineficácia, de um ajudante fazendo as vezes da Alma? Ou o canto da sereia de um buscador ludibriando sua iluminação?

 

É por isso que a arte da ajuda, segundo Hellinger, consiste em saber se podemos ajudar, quando ajudar, como ajudar e até onde ajudar.

 

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