Não existe forma confortável de falar do que mexe com a nossa impotência. Então começamos com um exemplo:
Alguém quer dar um atendimento terapêutico de
presente. Esta é uma intenção regada de generosidade, reconhecimento do trabalho,
vontade de espalhar bem no mundo e alegria por isso.
É verdade, por exemplo, que a constelação
familiar ou o Mapa Astral são presentes que damos para nós mesmos. Mas não devem ser
presenteados como um bem de consumo, porque
🌸 A ajuda funciona quando a pessoa
precisa, descobre que precisa, busca e arca com os custos da ajuda, criando
espaço interno para mudar.
🌸 O passo decisivo da cura começa
assim: “preciso de ajuda e arco com ela totalmente.”
🌸 Inclusive, como adultos, dando algo em troca. Exercitando o
ego adulto e o pai protetor em nós mesmos, ao levarmos nossa criança ferida para ser cuidada.
🌸 No entanto, quando recebemos de
presente um atendimento terapêutico, já ficamos preenchidos pela generosidade do
presenteador. Isto, por si só, já é uma ajuda. Porque nos sentimos apoiados.
Principalmente se são os pais que dão a terapia (mas só se a pessoa se mexe
para busca ajuda).
Mas
não haverá mais lugar para receber a ajuda profissional, correndo o risco,
inclusive de ficarmos com inveja de quem nos presenteou! Porque o doador fica
enorme diante de nós. Isso não vale se forem os pais pagando a terapia dos filhos, não importa a idade deles, mas só se buscam e querem o tratamento.
🌸 E o mais escondido: o profissional
é convidado a virar joguete das expectativas do presenteador, sem ser parte ativa da relação. O protagonista passa a ser quem presenteia e não mais o presenteado. E o cuidador passa a ser o entregador das carícias.
Neste caso, o estado de ego do profissional é
convidado a ficar na Criança Adaptada.
🌸 E nenhuma ação de ajuda funciona
quando uma criança é cuidada por outra criança.
O
terapeuta, então, pode até aceitar a proposta e conseguir ficar no seu lugar,
mas o cliente não terá espaço para ser ajudado porque recebeu demais. (novamente: isto não vale para pais e mães dando a terapia para os filhos adultos, mas só se eles buscam a terapia e eles pagam o profissional, mesmo que o dinheiro seja dos pais.)
🌸Uma coisa é precisar de ajuda,
reconhecer isso, não ter como pagar, pedir emprestado para alguém, que então
pode até dar o dinheiro. Outra coisa é alguém dar um vale presente terapêutico para uma pessoa, fazendo esta pessoa e o terapeuta entrarem num triângulo dramático: salvador (quem dá o presente fora de lugar), perseguidor (o terapeuta que, se aceitar a proposta, ficará com raiva, sem nem saber porque) e a vítima (o adulto que recebe o presente sendo tratado como criança).
🌸Um bom terapeuta vai até ajudar o cliente a
pedir ajuda finanecira aos pais, porque não “querer mais nada deles” pode ser a razão dos problemas. Mas não vai aceitar cair o triângulo dramático.
🌸Mas essa ajuda já acontece no espaço
terapêutico, onde podemos virar criança, já que o terapeuta está na posição
certa para ajudar sem fazer jogos psicológicos.
Em resumo, a arte da ajuda começa quando
nos perguntamos:
- Posso ajudar?
Se
a resposta é “Não!” Ou “Não sei”
Então não faço nada e aguento minha
impotência.
- Posso ajudar?
Se a resposta é “Sim!”
Devemos nos perguntar ainda: “Como e até onde
ajudar?
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