Ilustração Keith Mallet
Sabe, mamãe,
me disseram que os monstros
aparecem no escuro, as mazelas ficam na sombra e o perigo mora na noite. Mas nossas mães
ancestrais, dos povos originários, vieram me contar que existem outras versões
mais aconchegantes da escuridão.
Aquela de onde se fez a Luz e
surgiu o mundo inteiro. A mesma que eu invoco quando fecho os olhos em
meditação. A morada não vista do amor verdadeiro.
Foi por isso que o poeta e cineasta
indígena Carlos Papá disse que queria ser cego como a noite, para aprender amar.
Já que no escuro não se pode fazer
distinções, as mesmas que o amor nunca fará.
Sua esposa, a professora indígena
Cristine Takuá remendou: a escuridão é o ventre da mãe. O silêncio antes da
fala, que é a base da boa comunicação.
Mas nos disseram que a Noite Escura
da Alma era o nome de todas as angústias! O derradeiro caminho da depressão. O
quitute mais querido dos demônios endiabrados dos jovens em erupção.
E todos estes julgamentos contra a
noite, como disse Ailton Krenak, desembocaram nos ataques ao desconhecido. Ao
apego à iluminação. Às noites insones cheias de distrações.
E isso, sem que a gente soubesse,
nos separava das nossas mães. Porque atacam diretamente o feminino, princípio
do que não se pode ver.
Mas as mães ancestrais me disseram,
na madrugada quieta do dia das mães, para eu deixar a noite me guiar até o
ventre do tempo sem tempo.
Para eu não ter mais medo do
escuro, porque sou mulher. Para eu não ter mais medo na noite, porque ela é
feminina.
Para eu não ter mais medo da madrugada, porque ela
é a mãe de todos os dias. Inclusive do dia das mães.
Obrigada, minhas ancestrais!
Obrigada, mamãe, pela noite me
apoiando e despertando a cada dia desde então.
Felicidades a todas as mães!
Mônica Clemente @manika_constelandocomafonte
Ilustração de Keith Mallet
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Este texto começou numa
meditação, na qual, com medo de escuro, na madrugada do dia das mães, eu pensei
no feminino. Muito angustiada, decidi escutar mais um vídeo do ciclo de estudos sobre a vida do “Selvagem”,com Ailton Kerank, Anna Dantes, Carlos Papá e Cristine Takuá. Lá eles fizeram a poética da escuridão que me tocou profundamente, como se as mães ancestrais estivessem me escutado e me encaminhado até eles.
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