No Yoga se diz que os universos, os seres animados e inanimados, foram feitos de mil braços e abraços em redemoinhos de redemoinhos do amor dos princípios originais Cognitivo e Operativo - Shiva e Shakti.
Na ilustração Krshna e Radha, "versão mais atualizada" (3.500 a.C.) deste Círculo do Amor.
Na ilustração Krshna e Radha, "versão mais atualizada" (3.500 a.C.) deste Círculo do Amor.
Este assunto exige a
delicadeza das nuvens e a profundidade do eterno. Não tenho nenhuma destas
competências, mas uma experiência, um pequeno desenho
da PIXAR, o Gibran e o Bachelard.
Nas vivências das
constelações, quando um dos representantes sente uma dor imensa no peito e o
choro se agarra na garganta como uma videira emaranhada nos rochedos, a
primeira impressão é a de que lá, por trás de tantas barreiras, tem uma
tragédia insustentável, um desafeto a ser vingado.
Com amabilidade direcionamos
o olhar do “doente do peito” para a pessoa excluída, que também sente a mesma
dor. Como espelhos separados por gerações elas sentem as mesmas garras afiadas
e sufocantes. Pode ser a primeira namorada do pai que gerou um/a filho/a não
reconhecido/a (um irmão desconhecido), ou o noivo da mãe, antes que ela se
enamorasse pelo seu pai e largasse o primeiro quase no altar. Pode ser também
aquele homem ou mulher que você amou e encarcerou o sentimento por medo de se
machucar, ou a incapacidade de se doar a qualquer um, ao contrário de Gus, meio
nublado, e seu fiel companheiro Peck, a cegonha (De Peter Sohn / PIXAR).
Na maioria das vezes, o
reconhecimento do amor bloqueado por aquela pessoa, em algum ponto da
eternidade, e sua libertação, desafoga o peito. O coração de pedra faz dela –
as rochas e seus desfiladeiros – contatos para dançar e improvisar, e não mais
se aprisionar. A “dureza desdenhosa da pedra” (Bachelard, 2001:169), não foi em
vão, criou atrito para um dia ser vencida em uma ação de amor mais potente.
“Quem
pode saber o que o rochedo batido pelo mar ensinou de firmeza ao pescador?”
(Emerson in Bachelard, 2001: 160).
E como diz Humberto
Maturana, o amor é uma emoção que funda o social e, por sua vez, gera uma ação
de “legitimar o outro como legítimo outro na convivência”. Não se trata de
tolerar.
Como a espada afiada escondida nas plumagens da poesia de
Gibran, a legitimidade dos sentimentos abre caminho para o amor fluir como um
oceano sem fim. Aquela dor no peito, a
falta de ar e a visão turva, aquele “ódio” ou “aversão” pelo pai ou mãe, eram na
verdade o amor em direção ao totalmente outro (bloqueado) que precisava ser
encarado, incluído e reverenciado.
Do amor
Gibran Khalil Gibran, tradução Mansur Challita
Quando o amor voz
chamar, segui-o,
Embora seus caminhos
sejam agrestes e escarpados;
E quando ele vos envolver
com suas asas, cedei-lhe,
Embora a espada
oculta na sua plumagem possa ferir-vos;
E quando ele vos
falar, acreditai nele,
Embora sua voz possa
despedaçar vossos sonhos como o vento devasta o jardim.
Pois, da mesma forma
que contribui para vosso crescimento, trabalha para vossa poda.
E da mesma forma que
alcança vossa altura e acaricia vossos ramos mais tenros que se embalam ao sol,
Assim também desce
até vossas raízes
E as sacode no seu
apego à terra.
Como feixes de trigo,
ele vos aperta junto ao seu coração.
Ele vos debulha para
expor vossa nudez.
Ele vos peneira para
libertar-vos das palhas.
Ele vos mói até a
extrema brancura.
Ele vos amassa até
que vos torneis maleáveis.
Todas estas coisas, o
amor operará em vós para que conheçais os segredos de vossos corações e, com
esse conhecimento, vos convertais no pão místico do banquete divino.
Todavia, se no vosso
temor, procurardes somente a paz do amor e o gozo do amor,
Então seria melhor
para vós que cobrísseis vossa nudez e abandonásseis a eira do amor.
Para entrar num mundo
sem estações, onde rireis, mas não todos os vossos risos, e chorareis, mas não
todas as vossas lágrimas.
O amor nada mais dá
de si próprio e nada recebe senão de si próprio.
O amor não possui,
nem se deixa possuir.
Pois o amor basta-se
a si mesmo.
Quando um de vós ama,
que não diga: “Deus está no meu coração”, mas que diga antes: “Eu estou no
coração de Deus.”
E não imagineis que
possais dirigir o curso
Do amor, pois o amor,
se vos achar dignos,
Determinará, ele próprio,
o vosso curso.
O amor não tem outro
desejo senão o de atingir a sua plenitude.
Se, contudo,
Amardes e precisardes
ter desejos sejam estes os vossos desejos:
De vos diluirdes no
amor e serdes como um riacho que canta sua melodia para a noite;
De conhecerdes a dor
de sentir ternura demasiada;
De ficardes feridos
por vossa própria compreensão do amor
E de sangrardes de
boa vontade e com alegria;
De acordardes ao
meio-dia e meditardes sobre o êxtase do amor;
De voltardes para a
casa à noite com Gratidão;
E de adormecerdes com
uma prece no coração para o bem-amado,
E nos lábios uma
canção de bem-aventurança.
(O Profeta)
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