Há milênios, o sábio Milarepa teve
a ajuda da esposa de Marpa, seu mestre, porque reclamou para ela sobre as
exigências do professor.
O que ela não sabia é que o pupilo precisava
daqueles revezes para se purificar, antes de virar um dos santos mais venerados
do budismo tibetano
Não é à toa que o Hellinger fala
que a arte da ajuda consiste em saber se posso ajudar, quando ajudar, como
ajudar e até onde ajudar.
Como escreveu Von Franz:
“Jung disse que uma situação
em que não há saída, ou um conflito onde não há solução, é o início clássico do
processo de individuação.
A situação é para ser
sem solução mesmo: o inconsciente quer o conflito sem esperança para
colocar o ego-consciência contra a parede, para que uma pessoa tenha que
perceber que tudo o que ela faz é errado, seja qual for a maneira que ela está
errando.
É para derrubar a superioridade do
ego, que sempre age a partir da ilusão de que ela tem a responsabilidade
da decisão.
Naturalmente, se ela pensa: "Está bem,
então, eu vou deixar tudo como está sem tomar nenhuma decisão, apenas deixando
rolar e tentando escapar do problema”, é igualmente errado, pois, naturalmente,
nada acontecerá.
Mas, se ela é ética o suficiente
para sofrer até o centro de sua personalidade, geralmente, por causa da
insolubilidade da situação consciente, o Self se manifesta.
Na linguagem religiosa podemos
dizer que a situação sem solução é destinada a forçar a pessoa a confiar em um
ato de Deus.
Na linguagem psicológica, a
situação sem solução, criada engenhosamente pela anima na vida de um homem, é
destinada a levá-lo a uma condição em que ele é capaz de experimentar o Eu.
Quando pensamos na anima como o
guia da alma, estamos aptos a pensar em Beatriz levando Dante até o
Paraíso, mas não devemos esquecer que ele experimentou isso só depois de ter
passado pelo Inferno.
Normalmente, a anima não pega um
homem pela mão e o leva até o Paraíso; ela o coloca, primeiro, em um caldeirão
quente onde ele será bem cozido por um tempo” (Marie-Louise Von Franza).
Já imaginou o estrago de um
ajudante fazendo as vezes da Alma?
Ou o canto da sereia de um buscador
ludibriando sua iluminação?
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