14 de jun. de 2019

92) Como escolher uma parceria de amor?



Do milagre ao amor à segunda vista

Os milagres são responsáveis pelos encontros que viram relacionamentos amorosos. Como os milagres atuam à revelia, deixamos ele agir sem a nossa interferência.  Para uma relação dar certo, no entanto - o que não quer dizer ser eterno no tempo, mas enquanto dure -, o amor precisa seguir adiante da primeira para segunda vista.

Segundo as observações do Bert Hellinger nas Constelações Familiares, o “amor à segunda vista” (nome de um de seus livros)  inclui aquele amor à primeira vista, quando a mágica aconteceu, e depois de algum tempo,  mais cinco passos dentro da relação.

Quando o amor segue adiante numa relação mais séria, os parceiros conseguem olhar para si mesmos, para o parceiro como totalmente outro, para as  suas próprias demandas (família original, vocação, criatividade e responsabilidades),  para as demandas do parceiro e, finalmente, para  o futuro da relação, onde o olhar dos parceiros se cruzam no casamento, e/ou em alguns projetos em comum, e/ou filhos, etc. Não precisa ser tudo junto, mas deve haver alguma convergência de propósitos.

Estas cinco entidades 1) o eu, 2) o totalmente outro irredutível às expectativas do primeiro eu, 3) o nós (a relação e o encontro dos olhares), 4) o que preenche um e 5) o que preenche o outro, devem ser vistas, incluídas e respeitadas em sua totalidade. Isto implica entender que um casamento é uma nova família, que não excluiu a família original, mas prioriza a nova relação. Todo parceiro que tem para si que sua família original é mais importante que a nova família com o cônjuge, mesmo sem filhos, não está na esfera do amor à segunda vista.

Se estas esferas são contempladas, se existe o amor, a relação pode dar certo. Ainda assim, estamos na esfera dos milagres.

E quando as relações parecem que “não deram certo”?

Algumas frases como “por que eu atraio sempre isso?”, “eu tenho o dedo podre”, “todos os meus relacionamentos foram horríveis” revelam no primeiro enunciado uma princesa ou um príncipe num caixão de vidro esperando o consorte encantado para salvá-lo. Se o encantando  não conseguir salvar (e não vai), ouvimos a frase “por que eu atraio sempre este tipo de homem, mulher, parceria?


O tal de dedo podre, além de falar mal do próprio dedinho que não tem nada a ver com isso, também denigre o parceiro. Ao menos aqui há uma escolha, não estamos mais tão passivos.

“Todos os meus relacionamentos foram horríveis” revela um círculo vicioso de erros que ainda espera a ação protagonista. E qual é esta ação? Buscar ajuda certa! Todo círculo vicioso prova que a pessoa não consegue se ajudar sozinha.

No primeiro caso, se a gente pode escolher e não escolhe o parceiro/a, então achamos que “atraímos algo”. É tão passivo e regressivo que estamos falando de um trauma na tenra infância, que não é um parceiro que vai resolver. É um movimento de amor interrompido com a mãe, geralmente. Não adianta forçar a mãe chegar na pessoa que tem este trauma com chantagens, doenças, críticas ou querendo uma mãe diferente do que se tem. É a pessoa que tem que sair da dor da separação e chegar na mãe, se ela está disponível. E do jeito que a mãe é. Se a mãe realmente não está disponível ainda tem que aguardar um pouco. 

Na constelação podemos ver isso. Na maioria das vezes ela já está disponível, mas a pessoa adulta tem muito medo, raiva e trauma cobertos por reclamações intermináveis. Se ela puder perceber que a dor de seguir em frente em uma relação de amor pode ser ultrapassada naquela fase e não mais “atraindo” pessoas indisponíveis, que em última análise estão a serviço de mostrar algo, ela muda o tipo de pessoas “que atrai”. Ela passa a escolher, na verdade, pessoas disponíveis.

 No caso da adoção, é preciso reconhecer a mãe original no coração, aceitar o abandono e aceitar a mãe adotiva com tudo que isso implica.

No outro caso mais ativo, de quem escolhe “errado” porque tem dedo “podre” (acho horrível esta imagem), tem duas dinâmicas a princípio. 1) Ou se está tentando resolver algo da relação dos pais, porque julga a relação amorosa dos dois ou porque julga como cada um deles ama e se relaciona. O passo decisivo e sanador é: deixe os pais amarem e se relacionarem do jeito deles!. E daí se a mulher aceita triângulos amorosos? E daí se o homem é “mais fraco”? Não é a mãe e o pai na relação, é um homem e uma mulher, ou dois homens ou duas mulheres tentando achar o caminho deles na relação amorosa deles. Os filhos não têm que se meter nisso. Nem os pais devem envolver seus filhos netas querelas. 2) Ou há a tentativa de incluir alguém excluído do sistema que tem as mesmas características do parceiro/a escolhido.

Como escolher uma parceria?

No caso de nem saber escolher, que é diferente de escolher “errado”,  podemos usar as funções cognitivas descobertas pelo Jung. Ele observou que as funções que decidem são o pensamento ou o sentimento, e não a intuição ou a sensação. E vai depender de qual destas funções é mais forte na pessoa.

A intuição e a sensação não decidem porque são funções programadas para buscar informações no mundo interior ou exterior. Elas pesquisam, colhem dados e o sentimento e o pensamento analisam.

Os olhos veem, o tato sente, o faro intuitivo capta parâmetros ou o que ainda nem se manifestou. Estas funções não se preocupam em decidir. Por isso aquelas fantasias que fazem a gente acreditar cegamente em tantas coincidências e negar o que o pensamento ou o sentimento está dizendo, não ajudam em nossas escolhas amorosas.

Estas funções trabalham juntas para a gente funcionar genialmente, escolhendo da  melhor maneira os relacionamentos amorosos, de amizade e vocação.

Como?

Partindo do pressuposto de que você ama e é correspondido, de que você busca aquele homem ou mulher e não outros interesses como posição social, a família dele/a para compensar a que você não teve, etc, na hora de escolher se vai ou não embarcar em uma relação mais séria:

1)    Se a tua função primária ou secundária for o pensamento extrovertido, você deve decidir pelo parceiro que funciona e coaduna com teus projetos de vida. Se não tiver tesão e amor, esta escolha é frívola. E se não tiver aquelas 5 esferas descritas acima a relação pode navegar por mares turbulentos, embora o amor seja forte.

2)    Se a tua função primária ou secundária for o sentimento extrovertido, deve escolher um parceiro/a que cria harmonia com sua família, seus amigos e objetivos sociais.

3)    Se for o pensamento introvertido (o que mais erra em escolher parceiros, porque não usa sua lógica afiada) vai escolher aquele relacionamento que faz sentido estar junto. Uma femme fatale (mulher fatal) ou um don Juan às vezes se aproveitam de quem tem esta função principal ou secundária e não a treina. Conheço alguns intelectuais homens e mulheres que ficaram com dívidas imensas por conta de não ter visto a falta de lógica de se relacionar com uma pessoa tão diferente e, às vezes, interesseiras. O mesmo dom que têm para achar erros no pensamento abstrato devem usar para decidir quem escolhem para parceiros. Não há problema dormir às 22 horas quando a esposa sai para balada, o problema é não usar a lógica para ver se há convergência de projetos de vida ou não.

4)    Quem tem o sentimento introvertido como primeira ou segunda função deve escolher alguém que tenha os mesmos valores e princípios ou que pelo menos não sejam antagônicos. Se todos aceitam o poliamor, funciona, se um não aceita e o outro só acredita nele, não vai funcionar.


É bem mais sofisticado do que isso. E menos engessado. Mas se você conhecer sua adaptação de consciência, veja aqui ,  aqui, e aqui, e isso leva anos para descobrir, pode começar a entender porque apesar de uma paixão imensa por uma pessoa, talvez ele ou ela não sejam a pessoa certa para se ter uma relação de casamento.

Por outro lado, usar só estes critérios descartando aquela magia milagrosa de Eros, é quase se prostituir.

Vou dar alguns exemplos (simples):

1)   Um tipo intuitivo extrovertido pode se apaixonar por muitas pessoas porque vê beleza em tudo. E pode ferir muitas pessoas porque depois do “aqui é meu lar” descobre outros lares interessantes com a chama da novidade. Como uma pessoa assim pode escolher um parceiro mais adequado para ele e para parar de machucar os outros?

Ou escuta o seu sentimento introvertido ou seu pensamento introvertido. (As outras funções como o pensamento, sensação ou sentimento extrovertido ou a sensação, intuição introvertidas nunca serão a segunda ou primeira função deste tipo.)  Se for o pensamento introvertido ele dirá: escolha alguém que seja livre como você é, que queira crescer como você quer crescer, ou ao menos incentive e respeite isso. O Sentimento introvertido dirá: escolha alguém que acredita em tal coisa, ou tal coisa, que tenha este e este valor vitais para você. (Não é um check list).

2)    Uma pessoa com a função primária ou secundário sensação extrovertida vai se sentir atraído por parceiros pelo tesão, alegrias, sensações e aventuras. E também vai ferir as pessoas porque não vê nenhuma relação entre sexo e amor e acham que todos são assim também. Pode ter tantos parceiros e ferir tantas pessoas se não usar o sentimento ou pensamento introvertido para fazer escolhas melhores, sem nem se tocar do estrago que fez.

O pensamento introvertido dirá: escolhe alguém mais pé no chão, trabalhador e cheio de energia. O sentimento introvertido dirá: escolhe alguém mais afetivo que entenda seu jeito de amar pelas ações e não pelas palavras, por exemplo.

3)    Uma pessoa intuição introvertida como primeira ou segunda função pode ficar tão alheio à realidade, em seu mundo intelectual genial que não vai se tocar que está se relacionando com uma pessoa nada a ver com ela. Ou vai ferir um parceiro porque é tão distante e desatento que deixa todas as obrigações para a esposa ou marido. E se esta pessoa se ferir numa relação amorosa vai se defender anos a fio. Ela deve usar seu sentimento ou pensamento extrovertido para ajudá-la.

O sentimento extrovertido dirá para ela: se liga, querida! Você é mais charmosa do que pensa que é e gosta de relações harmoniosas, por que escolheu um brigão? O Pensamento extrovertido dirá: não vai funcionar assim. Seus objetivos são estes e esta relação não te ajudará a alcança-los e não deixarão ele ou ela alcançar os objetivos dele[MC3] /a. Ou, esta relação funciona muito bem, porque eu a amo, ela me ama e temos muito em comum para atingir nossos objetivos. (Pra mim que sou sentimento introvertido – o oposto do pensamento extrovertido -  quase dói escrever isso, mas cada pessoa tem um dom da melhor escolha, não podemos julgar).

4)    E, finalmente, uma pessoa com sensação introvertida na primeira ou segunda função cognitiva pode se atrair por pessoas que lhe tragam conforto e lembrem sua infância, mas que não lhe trazem harmonia ou tem projetos antagônicos ao que ela quer. Quem vai ajudá-la também é o pensamento extrovertido ou o sentimento extrovertido.

O pensamento extrovertido na segunda ou primeira função lhe dirá: escolhe alguém que você ame, claro, e que entenda seu jeito analítico e perfeccionista, assim como goste de uma boa luta ao teu lado, com todo conforto do mundo, claro! E o Sentimento extrovertido dirá: ah, que lindo! Ah que lindo! Tudo tão lindo, farei tudo para criar a melhor e mais linda harmonia, mas se abusar de minha gentileza e perseverança nas relações, eu mostrarei o meu limite. Então eu escolho a pessoa que vai entender o meu terno coração e saberá cuidar do nosso amor como eu cuido, mesmo que de forma diferente.

Um encontro de amor é um milagre que nem liga para esta explicações, seja ele difícil ou abençoado. No primeiro caso, há ajudas ou escolher não viver qualquer coisa em nome do amor. No segundo caso, imensa gratidão e o trabalho que exige toda a relação.




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