Coragem para Assumir as Decisões
E a Hesitação, o super demônio que temos que temer e fugir
As decisões, para muitas pessoas e em alguns casos, são muito difíceis. Às vezes, parecem mesmo demônios que falam em nossos ouvidos tudo o que se vai perder, toda a carga que se vai ter em qualquer um dos lados da escolha.
O que muitos não sabem é que isto faz parte da
"fisiologia" das decisões, mas ficar preso nela, não! No mito de
Psique, contado por Apuleio em seu “Asno de Ouro” (século II d.C.), há várias passagens que servem de guias para as nossas jornadas. Uma delas
fala sobre as decisões.
Decisões são, muitas vezes, difíceis de serem tomadas e assumidas, porque implicam algo oculto e ambíguo que não estamos podendo encarar.
Decisões são, muitas vezes, difíceis de serem tomadas e assumidas, porque implicam algo oculto e ambíguo que não estamos podendo encarar.
Marie-Louise Von Franz, em sua preciosa e profunda
interpretação do Asno de Ouro, nos ajuda a entender como se dá estes processos
antes das decisões:
Psique em suas tarefas para não perder Eros, e olha
que a gente faz de tudo para não perder esta nossa parte que nos conecta (Eros) com a
vida, paga com uma moeda o mal-humorado barqueiro Caronte para atravessar o
rio subterrâneo até o mundo de Hades, onde vai pegar com a Perséfone a caixinha
da beleza.
Caronte não tem porque ser simpático: ele é aquela parte do psiquismo que gera símbolos de transformação. Sem
estes símbolos não temos possibilidades de saltar quanticamente. Quer dizer, um
elétron sair da órbita antiga e girar em outra. Jung chama isso de função
transcendente, lembrando que “para aqueles que possuem o símbolo, a
travessia é fácil” (Von Franz, 2014:173). Mas vai encarar o Caronte?!
A moeda que Psique paga para a travessia
é a libido empregada nesta jornada de morte e renascimento: transformação.
A neurose, neste sentido, é quando
seguramos a moeda por muito tempo porque não confiamos no destino, aniquilando
Eros. O filme “A Chegada” tem muito a nos falar sobre isso com a seguinte
pergunta: se você soubesse o que ia acontecer, ainda assim você faria o
mesmo?
Parece que Pisque respondeu sim a esta pergunta, uma
vez que não está disposta a perder seu Eros - tesão pela vida. Porém em seu caminho ela se depara
com várias tentações e uma delas é Ocno, que fabrica cordas e com elas faz
torções de opostos.
A Noite e o Dia estão lá
trançadas, o positivo e o negativo, coisas admiráveis e as motivações sombrias.
Suas torções imobilizam ações porque aquele que decide algo sempre arca com o
outro lado do que decidiu.
Enquanto não sabemos disso,
ficamos paralisados diante da escolha do melhor caminho. Então Ocno é “a etapa
que precede toda decisão” (Von Franz, 2014: 175). É a queda do élan vital
na armadilha do “Devo ou não devo agir?”, “Faço isso ou aquilo?”.
Ora, se toda escolha tem a
sua contrapartida sombria e outra luminosa, e quem vai decidir decide “porque
eu sou eu, e é assim que eu vou agir” e não porque esta é a ordem ou isto é o
que eu devo fazer ou o que fulano/a faria, então
“que vá para o diabo se isto parece ambíguo. Vou agir de
acordo como estou sentindo e estarei pronto e disposto a pagar pelas
consequências, pois qualquer coisa que eu fizer será mesmo metade errada.” (Von
Franz, 2014:177)
Se a função sentimento –
aquela que está conectada com o que se é e não com o que esperam que sejamos -
não está segura, e se a capacidade de responder às consequências - ser
responsável – ainda busca culpados para se manter inocente, a nossa Psique fica
presa nas cordas do super demônio da hesitação.
Vejam que esta etapa do
mito está entre Psique e Eros, e o amor exige a coragem de se desfazer de
julgamentos para dizer sim para tudo o que virá após uma decisão, até o
sofrimento.
No cenário analítico, nas
consultas de astrologia, no Tarot e em ouros acessos dos símbolos inconscientes
para as nossas travessias, algumas pessoas buscam a decisão que não querem
bancar. Se o analista, astrólogo, tarólogo cai na tentação de ajudar, não só
não ajuda a pessoa como também não a instrui a reconhecer a ambiguidade
inerente a toda decisão deixando-a refém da armadilha daquele que devemos fugir
e temer.
Logo em seguida Psique vai
lidar com as fiandeiras, aquelas vozes que julgam tudo aquilo que não têm
coragem de experimentar.
Sensacional!! "Pois, qualquer coisa que eu fizer será metade errada"!!! Parabéns pelo artigo!
ResponderExcluirOi! Muito obrigada! Foi justamente esta frase da Marie-Louise Von Franz que me inspirou a escrever o texto acima. Vc pode saber mais sobre o assunto no livro dela - O Asno de Ouro, no qual estão as interpretações da autora, na perspectiva junguiana, deste conto de Apuleio: entre as páginas 170-180. O livro todo é uma jornada de descobertas! Obrigada pelo comentário e presença por aqui!
ExcluirGratidão pelo ótimo artigo!! Parabéns!
ResponderExcluir"Pois, qualquer coisa que eu fizer será metade errada" foi matador!!!