19 de mai. de 2014

42) A Imagem que Cura e a arte de Olhar



Em seu livro a “Fonte não precisa perguntar pelo caminho”, Hellinger, criador da Nova Constelação Familiar, diz: “o mestre olha, por isso não precisa aprender. O discípulo aprende, por isso não olha” (2007:33).

A ação deste aforismo se confirma em seus seminários da Nova Constelação Familiar, nos quais somos instruídos a não ficar anotando ou preocupados em explicações, mas sim a olhar, ficarmos atentos a partir do nosso centro, inteiros, para seguir o movimento, a Fonte, juntos. Uma cura a nível da alma acontece, sem que milhares de pensamentos pertubem.

Ele não é o primeiro a ressaltar que em nossa relação com o mundo somos inteiros e é nesta inteireza, por meio das relações, que encontramos soluções.  Há muitos outros, entre eles Jiddu Krishnamurti que no século XX surpreende e rompe com seus mestres ao dizer que a verdade é uma “terra sem caminho” impossível de ser organizada em crenças, religiões ou seitas. Neste sentido ela se revelaria para o caminhante e não como um caminho organizado a ser seguido.  Segundo ele, “não há professor, não há aluno, não há líder, não há guru, não há mestre, não há salvador. Você mesmo é o professor, o aluno, você é o mestre, você é o guru, você é o líder, você é tudo”. 

A relação eu-mundo, onde a inteireza se sustenta, aparece na Constelação Familiar e na Terapia Sistêmica. Com elas se criam espaços de intersubjetividade privilegiados para se encontrar as soluções de acordo com o caminho, não preestabelecido, de cada pessoa.

Entendo como se estes pensadores práticos não estivessem procurando discípulos, porque olham como mestres que são e que somos. Isto é a arte de olhar. 

Para Hellinger, então, olhar a partir de seu próprio centro cria um elo com a realidade, e este é um ato de “somente olhar e nos limitar ao que percebemos. Mais nada. Mas isso exige modéstia” (Hellinger, 2007:30), porque nos impede de formular mirabolantes divagações e de criar o mundo segundo o nosso, muitas vezes, limitadíssimo arbítrio e outras representações. 


A liberdade aqui, segundo ele, é pequena, porque contempla apenas o observar para não forçar no mundo nossos modelos idealizados. Apesar desta restrição algo atua. Quer dizer, esta arte de olhar sem intenções, esvaziada de expectativas e dúvidas, a partir de nosso centro, nos conecta com algo que atua e traz soluções.

Esta seria a arte de olhar para algo atuar. O que atua e como atua?

Os yoguis tântricos olham para algo atuar até as últimas consequências, quando se colocam em posição de serem observados pela Testemunha, como chamam uma inteligência maior. É como se o reflexo da Lua em uma gota de água percebesse, de repente, que é a própria Lua, interrompendo a ilusão de que ela é a gota da água onde está refletida, e, ao se fundir com a Lua, deixasse de ser o reflexo que olha e passasse a ser a testemunha que atua.

Alguns artistas podem intuir esta ação plasmando-a em sua obra convidando-nos, ao entrarmos em contato com sua arte, a olhar o que atua. Com isso acessamos o centro. Por todos os lados o convite de sair da ilusão nos emancipa como protagonistas de nossa jornada mostrando que cada um é mestre de si mesmo.

Em uma Constelação Familiar ou Terapia Sistêmica esta obra de arte que dá o gatilho para algo atuar é a imagem final.

Assim, quando o mestre está pronto o mestre aparece. O mestre em si, nas situações da vida, em pessoas que já percorrem o caminho e, ao nosso lado naquilo que une o pessoal, o coletivo e o longínquo.


 Tazhib* persa estilo Shamse-Sol


*Tazhib é um Arabesco. Segundo Chevalier e Gheerbrant, 
em "Dicionário de Símbolos", o arabesco é um ritmo depurado 
e não uma representação ou figuração. Como uma encantação por 
repetição infinita permite sair do condicionamento temporal conduzindo 
da periferia ao centro.  É o símbolo do símbolo se oferecendo a quem o contempla o longínquo que está ao centro de si mesmo, em elo com tudo o que existe.



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