6 de nov. de 2013

34) A Reconciliação




 Não falarei a seguir da justa justiça necessária às vítimas 
e aos agressores, mas de liberar o caminho em 
nosso coração para a reconciliação.




Nos movimentos de amor que curam, aquilo que se opõe encontra no outro sua completude, serenando. Pode ser o encontro de um homem com uma mulher em seu filho ou no relacionamento do casal; ou do Céu e da Terra em nosso corpo; do grande (avós e pais) e do pequeno (filhos) em nosso trabalho e sucesso; do passado e do futuro no presente de nossas escolhas; de dois homens ou duas mulheres em seu amor, e tantas outras esferas - verso e reverso de uma mesma imensidão. 

Quero dizer, as oposições são mais as dobras de uma mesma substância onde tudo é, do que instâncias separadas. Se são do mesmo estrato, de um único tecido, opõem-se em diferentes desdobramentos de si mesmo para se reconhecer na diferença. Por isso, a reconciliação não é um objetivo, mas um acontecimento seguindo em frente como se fosse latente, como se estivesse dentro de nós prestes a desabrochar nos encontros e a nos socorrer durante os desencontros, costurando amores, remendando as dores.

 Vivenciamos esta conexão entre tudo e todos quando acompanhamos o movimento de amor na Grande Alma numa constelação, sem agir, nos deixamos atuar por algo que acompanhamos, desembocando na reconciliação.

Nós, como oposição do totalmente outro, como avesso senciente de outro avesso senciente, também geramos energia quando nos atritamos, ou quando buscamos encontrar novos horizontes nas terceiras vias, caminhos ou soluções para duas necessidades aparentemente díspares.

Mas há oposições difíceis de reconciliação: quando a mãe abandona ou quando o pai é cruel, se a esposa é isso e o marido é aquilo, quando um país ataca e rouba outro, ou quando há um assassinato, um aborto e a morte traumática no parto. Ou, “simplesmente”, quando o que é proibido em uma família ou povo acaba por determinar a exclusão dos membros do clã. Por exemplo, ainda hoje, casar com alguém de outra classe social, outra religião, outra nacionalidade, ter afinidades sexuais e afetivas diferentes do que se espera tornam-se oposições muitas vezes difíceis de reconciliar num grupo. Estas proibições fecham a garganta do movimento do amor.

Idealmente, como diz o filósofo P.R.Sarkar, precisamos manter e alimentar nossa cultura para termos nossa identidade tanto na família como nos povos, mas é necessário abrir mão dos sócios-sentimentos (só a minha religião e crenças são certas) e  geo-sentimentos (o meu país é melhor e tem mais direitos que o teu) que impossibilitam a convivência dentro do próprio grupo e com outros, causando injustiças.

Como se vê, não só os abusos, as mortes prematuras e assassinatos dificultam o movimento de reconciliação na alma, mas também a consciência de grupo. A  menos que se expanda para a consciência do espírito que se abre para tudo e todos sem distinção. E é isso o que fazemos durante a Constelação: nos centramos, nos afastamos para ver melhor e colocamos todos no coração sem distinção ou julgamentos, principalmente os excluídos. Tanto a aceitação do que aconteceu, como a reconciliação com o oponente ou situação de exclusão fica livre dos entraves e assim podem atuar (Hellinger, 2012). 

Neste sentido, a reconciliação, quando a alma encontra a sua cura, é um caminho sereno e fértil no meio de dois polos aparentemente separados. 


Foto de Osvaldo Luiz da página Lá no pé da serra 








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