Quais
os enredos que unem os lírios, as mulheres, o dia do trabalhador e a justiça
social?
Há
muitos séculos, a deusa Flora[i],
protetora da natureza, era homenageada pelos romanos no dia primeiro de maio.
Na mesma data, nas tradições celtas, os Lírios do Campo – amuletos contra maus
espíritos - eram oferecidos para os deuses, como contagem regressiva para a
chegada do verão. No século XVI, o rei Charles IX recebeu esta oferenda,
mandando enviar os lírios – sorte - para todas as moças solteiras.
Séculos
depois, esta tradição passou a ser uma declaração de amor na França sendo
comemorada junto ao dia do trabalhador. Isto porque em final do século
XIX, os movimentos sociais norte-americanos começam as lutas pela redução das jornadas exaustivas de trabalho no mesmo dia 1 de maio e a França se une ao movimento.
O
Lírio também passa a ser a flor da resistência no final de segunda guerra
mundial.
O
Lilium longiflorum, um tipo de Lírio usado pelo sistema floral de minas, ajuda
as mulheres a integrarem a vida em família, os laços de amor, o trabalho e sua
criatividade. É para quando ficamos esgarçadas entre as tarefas de casa, nosso
trabalho e amor de um homem ou mulher. Esta tarefa, bem exigente nos dias
atuais, ainda reflete a ruptura da força e do corpo do trabalhador do resultado
de sua labuta, enchendo os bolsos de meia dúzia. E as mulheres só recentemente
começam a estar inseridas do mundo produtivo remunerado, embora elas e os
escravos tenham sido os grandes trabalhadores não pagos no início do
capitalismo.
Há
outros tipos de Lírios nos sistemas florais do mundo, todos com seus
ensinamentos femininos, tanto para mulheres como para homens.
Para
a Igreja Católica o Lírio representa a Virgem Maria. Para os chineses,
representa o amor eterno, o verão, a pureza e a fartura.
Em
“Olhai os Lírios do Campo”, romance de Érico Veríssimo baseado no Sermão da
Montanha, o protagonista Eugenio Fontes vive o conflito entre a segurança e a
felicidade, como se elas fossem antagônicas.
E
hoje, há três horas, na França, Lírios e Fogo se misturam às passeatas e ao
feriado do amor e do trabalhador para mostrar mais uma vez que este conflito
milenar se radicaliza enquanto não incluirmos a todos na segurança e na
felicidade. A deusa Concórdia, da fartura, não fala de bens produzidos apenas,
mas da distribuição dela.
Então,
se por obra Divina os Lírios se vestem melhor do que Salomão, “Deus
não vê como o homem vê. O homem vê a aparência, mas Deus sonda o
coração" (I Samuel 16.7).
Que
hoje possamos oferecer Lírios, colírios, ampliadores da nossa visão.
[i] "A transformação de Clóris em Flora registrada na
belíssima tela "La Primavera" de Botticelli não
era apenas uma mera virtualidade linguística, nem uma mera metáfora da
transposição da mitologia grega para a latina
da mesma deidade porque a etimologia confirma a intuição deste
artista. Clóris é não apenas funcionalmente a mesma deidade que Flora
como, sobretudo, se pode fazer fé numa origem
comum de ambas. Concórdia - a deusa da fartura,
porque sem esta não há concórdia social!". ArthurJotaef
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