31 de mar. de 2013

20) O Homem Lento e a Solidariedade



O tempo e o espaço como dimensões flexíveis de sentidos para criar ou desfazer conexões solidárias.
 ou
Quanto tempo a base do seu quadril sustenta um vínculo? 






             As Constelações Familiares têm seu tempo para agir no espaço criado entre a alma e as relações humanas. Ele não é quantificável, mensurável nem previsível. Sua percepção se dá na convergência do tempo, espaço e alma familiar, a totalidade de nosso corpo em movimento, e pode levar até dois anos para mostrar os lugares que expandiu em nosso ser e naqueles que nos circundam. 


       Bem ao contrário do meu iphone, tecnologia caríssima que depois de um lapso de tempo se torna descartável. Isto me levou à nostalgia dos campos... e ao geógrafo Milton Santos. 


      Este grande pensador brasileiro fala da força do HOMEM LENTO - aquele, que por sua natureza, contrapõe o elogio à velocidade do homem aprisionado nas engrenagens do tempo mecânico, quantificador do trabalho humano e devoto fervoroso do tudo para ontem.

       Este personagem vagaroso é pobre e do lugar, onde as relações podem criar vínculos. Ele é comum, sem iphones (isto eu estou dizendo) e, por isso tudo, resiste aos efeitos desagregadores da globalização.

   Sem demonizá-la, Milton ressalta a "falta" de reconhecimento dos territórios no processo da globalização que, por sua vez, não pode mais sustentar o lugar, campo da proximidade social. Neste sentido, ela aliena e acaba com as identidades individuais e coletivas (Sevalho, 2012). 


      Aqueles fanáticos pelas vertigens das grandes metrópoles acabam fundindo os sentidos de tempo e de espaço  em seus voos de superação, perdendo o com-tato, o corpo, o jeito com o outro.

      Aos mais lentos, por serem pobres e (por isso) não disporem de aparatos e meios para ficarem mais velozes e furiosos, resta a observação, o sentir, o mundo, as pessoas a sua volta. Com isso fertilizam o terreno para a solidariedade na cidade frenética. Esta "nova solidariedade fundada nos tempos lentos da metrópole", como diz Santos, "desafia a perversidade difundida pelos tempos rápidos da competitividade" (Santos, 2008:82 in Sevalho, 2012: artigo Gil Sevalho).

      Resumindo, os domínios tempo X espaço não se sustentam no processo da globalização, eles se fundem. Sem a esfera do espaço, o lugar desaparece e com ele a possibilidade do aprofundamento das relações. Porém, segundo Milton, quem não pode acompanhar a globalização por causa da pobreza, ao contrário do que se pensa, tem mais força, isto porque não perdeu o contato com o tempo e o lugar, dimensões privilegiadas para criação de vínculos de solidariedade.

     Tenho observado que a escolha de estilos de vida, e não só a pobreza imposta, pode promover esta lentidão fortalecedora (como sentir o campo e as conexões da alma  nas constelações), e que o contato entre estes dois mundos - 1) do homem/mulher rápido/a  e  2) do homem/mulher lento/a - estremece padrões. Como a superfície do planeta rebolando até o encaixe nas profundezas. Os terremotos que  empurram para mais perto do centro, do nosso centro, de quem somos...

   Os velozes se apavoram com os contatos que o lento é capaz de sustentar, achando-os intensos e profundos demais. Na constelação, se o constelando e o representante têm medo, eles são rápidos demais, não se conectam de fato com o movimento e o peso da alma do sistema constelado. Sua pressa chega apenas na caricatura da existência, querendo se desfazer das camadas da vida e da morte como o botão off  de uma máquina, ou comprando um novo celular. Por outro lado, os vagarosos se espantam com a mágica de ver passar pelos seus dedos enormes alguém de carne, ossos e sentimentos, como se ali só houvesse passado (sim, só passados instantâneos)  um vento. 



Milton Santos (1926-2001)




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